Primeiro avanço de 2014: a consagração do neo-psych?

Ana Leorne

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Claro que sempre que começamos um ano novo dizemos que vai ser o melhor. Eu não vou por aí, até porque 2013 foi demasiado bom e a fasquia está agora estupidamente alta – prefiro perguntar a 2014 se tenciona fazer algo sobre isso e esperar que a resposta seja um «challenge accepted».

Comecemos pelo princípio, que é o mesmo que dizer «aquilo que já se sabe que vem aí»; 2013 foi um ano muito atípico para o underground neo-psych, até porque este deu um ar de sua graça e resolveu sair disso mesmo, do underground. Já quando fiz a crítica do mais-do-que-fabuloso álbum de Foxygen, há cerca de um ano, tinha aquele rushzinho a percorrer-me o cérebro como uma microtrip, e só pensava «este ano vai ser do caralho». E foi. Mil festivais de psych a florescerem por essa Europa toda e a juntarem-se ao consagradíssimo norte-americano Austin Psych Fest (eu estive na segunda edição do Liverpool Psych Fest e devo dizer que foi mind-blowing): além de Oslo e Paris, este ano vem aí Berlim, que Deus nos ajude.

Ainda nestes primeiros meses vamos ter o álbum de estreia de Temples, aquele que tooooda a gente (os fãs, vá, e os críticos) diziam que devia ter saído em 2013 porque era a altura ideal, uma espécie de alinhamento cósmico do qual o quarteto das Midlands devia ter tirado partido. Vá-se lá saber porquê – escolha da banda, da label, ou má previsão do astrólogo de serviço –, Sun Structures foi anunciado para Fevereiro de 2014. Por um lado percebe-se; os rapazes andaram demasiado ocupados com vinte mil concertos no ano passado e não queriam apressar a mistura, e depois lançar um álbum em Dezembro, quando já todas as listas de todos os blogues já foram publicadas, não faz muito sentido (a menos que se seja a Beyoncé). O tiro saiu-lhes pela culatra e alguma coisa correu mal, porque ainda andávamos a tratar o pós-Réveillon a Guronsan quando Sun Structures leakou na net – muito provavelmente devido a uma falta de cuidado com os links de preview enviados aos jornalistas com antecedência. O álbum é excelente, mas este (pouco) excesso de zelo e fez a coisa ficar meia a patinar ali no demasiado-cedo. Vamos ver o que esta ponderação forçada de um mês fará ao álbum – se a banda não decidir antecipar o lançamento, claro está.

Ainda no rescaldo do inexplicavelmente excelente ano para a neo-psychedelia, teremos álbum de estreia de New Electric Ride em Fevereiro pela Beyond Beyond Is Beyond Records, uma das labels que a par com a über-fantástica Burger Records e a Ample Play (e a Born Bad, em França), mais têm feito por esta nova vaga de psicadelismo. Ainda dentro do género, espera-se álbum dos The Merrylees (que estão a ser produzidos pelo ex-The Coral Bill Ryder Jones, ele também com coisas novas pós-A Bad Wind Blows In My Heart a acontecer), e novo material dos West of the Sun (que lançaram em 2013 o EP Fountains of Fire).

Se 2013 nos trouxe as Bleached e as Deap Vally, 2014 irá trazer-nos as Habibi. O quarteto fantástico de Brooklyn tem o álbum de estreia quase quase a rebentar pela Burger, e depois do single The sweetest talk (do qual falámos no ano passado), devem tornar-se a next best thing do indie lo-fi. E não esqueçamos que La Femme já andou a tocar material novo nos concertos, por isso é bem provável que o sucessor de Psycho Tropical Berlin saia ainda este ano.

E em jeito de círculo voltamos ao assunto com que começámos, i.e., os meninos de Foxygen. A verdade é que depois de tanto Rado como Shaun Fleming terem lançado (excelentes) trabalhos a solo, e a banda ter parado momentaneamente a tour devido a variadíssimas situações que vão desde ao feitiozinho particular de Sam France aos diversos acidentes que se abateram sobre o quarteto, um regresso dos Foxygen ao mundo dos discos parece uma hipótese cada vez mais remota. Não obstante, já acendi uma velinha a ver se isso acontece ainda em 2014 (e em bom, claro). E o que era mesmo mesmo de nos fazer espumar era uma visitinha aqui a este cantinho – vá, à Europa, pelo menos. Mas isso cheira-me que nem com uma ida à Fátima de joelhos.

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