Bairro de Alvalade

Sobre este bairro, histórias, fotografias e outras coisas.
De Ana Costa Franco.

King is dead.

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A primeira vez que fui sozinha ao cinema foi ao King. Já tinha há muito tempo idade para fazer coisas sozinhas e mais outras tantas acompanhada mas demorei a sentar-me sem conhecer a pessoa do lado numa sala de cinema. Foi também do King a única vez que sai a meio de um filme. Agosto não era bom mês para a Mãe e Filho do Sokurov que nos impacientou e como a mãe demorava a sua frágil vida nos braços do seu filho saímos para comer crepes com gelado e chocolate quente. Por estes dias, o King é, agora que se anuncia o seu encerramento este domingo, o proclamada “meu” cinema de muitos e “meu” também. O “meu” do Piano, da Pianista, do Crash, do Mulholland Drive, do Ganhar a Vida, da Noite Escura, dos Três Irmãos, dos Mutantes, das Ondas de Paixão, dos Idiotas, do Dancers in the Dark, da Pola X, da Ponette, da Amélie Poulain, do Lost Highway e podia continuar. Podiamos todos, podia o King porque há sítios que gostamos de manter assim. Nós mudamos e queremos que algumas coisas fiquem na mesma. Mudamos o hábito, a regularidade, a visita, a disponibilidade mas gostamos de saber que existe a modista, o talho do bairro, o senhor da frutaria, a padaria da esquina, o senhor dos sapatos, a retrosaria e o cinema ali mesmo ao pé. Mas poucas coisas na vida são tão incondicionais, muito poucas e o “meu” King da Árvore da Vida e do Amor não é uma delas. Posso ter pena sim mas poucos amores também o são.  

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