Manuel da Costa Pinto
“Sou um narrador, um contador de histórias. Desconfio que o gosto pela narrativa é uma disposição humana universal, que acompanha as nossas capacidades de linguagem, de consciência de si e de memória autobiográfica”, escreve Oliver Sacks na última página de Sempre em movimento: uma vida.
Se viesse de um filósofo ou de um teórico de literatura, a afirmação teria o estatuto de uma especulação. Talvez uma hipótese poderosa, como aquelas que encontramos em Aristóteles, Adorno ou Girard sobre a faculdade mimética do ser humano, que estaria na raiz da cultura e da arte – mas uma especulação.
Vinda, porém, de um dos maiores neurologistas da atualidade, a “desconfiança” de Sacks assume ares de constatação científica. Pois se grande parte do mérito do autor de Um antropólogo em Marte está em sua capacidade narrativa, isso se deve também e, sobretudo, ao fato de que ela é indissociável de seu método de investigação.