Gelo.
Fico feliz porque apagou-se o fogo. Costumava ser incontrolável.
O fogo arde. Queima tudo, queima seu corpo, sua mente, sua alma. Te consome inteiro, mas sem matar; aliás, tirando o fato de que não inicia espontaneamente, funciona exatamente como uma droga altamente nociva. Você sabe o quanto te enfraquece, o quanto te debilita, mas não consegue deixar de se encantar com os efeitos.
Sim, encantamento. O fogo é ardiloso, sabe o que te atrai, o que mexe com sua cabeça, o que você não pode evitar de gostar. Coloca no seu caminho tudo isso, enquanto te incendeia. Te aquece, enquanto te queima. Como apagar algo que agrada? O fogo te deixa feliz. O fogo vira vício.
E aí você já perdeu a cabeça. Já perdeu a razão. Já perdeu seus princípios e a sua moral. O fogo não tem dó de você. Ele muda todo seu interior, da cabeça aos pés, se for necessário. Brinca perigosamente com o que você chama de racionalidade.
Consegue ser simultaneamente a maior das felicidades e a maior das desgraças. Achei que ele nunca fosse sair de dentro de mim.
Mas saiu. Não sei como.
Não sei se a esperança morreu,
não sei se eu cresci,
não sei como foi que eu recobrei a razão.
Só sei que, aos poucos, senti a chama morrer. Começou a sair fumaça, começou a ficar mais frio, aí um dia tudo congelou. A mente e a alma. Aquela felicidade louca, quente, forte, insana, tinha sumido. Pra tristeza do meu coração, pro bem do meu cérebro.
A dor tinha sumido também.
Alguma coisa involuntária e saudável aconteceu, apagou o fogo. Me deixou estável de novo. Me trouxe de volta à terra.
Eu não estava pronta pro fogo. Ele percebeu isso, e me abandonou. Saiu de mim.
Mas saiu com tanta força, que agora eu virei gelo.
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