November 23, 2010

image ’‘Fez parte da equipa da GNR responsável pela Escola Segura, em Santa Comba. Era conhecido e vizinho das vítimas que matou e lançou aos rios. Ainda não se sabe se as violou. As raparigas estavam desaparecidas há meses. Ninguém as imaginava mortas.“

Perfil: O cabo António Luís Costa, de 53 anos, é conhecido em Santa Comba Dão por uma alcunha simpática. Este homem bondoso, temente a Deus e amigo da ordem, da moral e dos bons costumes é, simplesmente, ?Tói? - estimado na cidade que ontem acordou espantada com a notícia de que ali vivia um assassino em série. É suspeito da morte de três vizinhas na flor de idade e que conhecia desde crianças. O homicida não perdia a missa de domingo e tinha a casa cheia de fotos do Papa João Paulo II. Ao longo dos 25 anos que serviu na GNR, revelou-se militar dedicado ? como atestam as folhas da caderneta recheados de louvores. E admirava o conterrâneo Oliveira Salazar, filho do vizinho lugar do Vimieiro, ao ponto de o recordar com devoção numa foto emoldurada. António Costa é casado com Fernanda, um ano mais nova, cozinheira na escola Secundária. O casal tem dois filhos: um é emigrante no Luxemburgo; o outro seguiu as pisadas do pai, alistou-se na GNR e está colocado num posto da região de Lisboa. O cabo reformou-se da GNR em Abril do ano passado ? e encontrou mais tempo para se dedicar a duas grande paixões: a Casa do Benfica; e a política local, na assembleia da freguesia, eleito pelo PSD. Deu-lhe para matar ? a sangue frio. É uma fraca figura, ar tímido, a dar para o baixo e magro. Tinha por hábito dar boleia a toda a gente que encontrava na estrada. Era tido como homem bem-educado e generoso ? sempre disponível para ajudar os amigos. A bondade em pessoa. Hoje, os mesmos que nada tinham a apontar ao respeitado ?Tói?, juram-lhe pela pele e garantem que lhe cortavam o pescoço se o apanhassem a jeito. António cresceu sem pai ? que se enforcou ainda ele e os irmãos ainda eram pequenos. A mãe, que está viva para chorar a vergonha dos crimes do filho, criou sozinha a prole de seis rebentos. António começou a trabalhar novo como a vida obrigava: arranjou a mal paga profissão de caiador ? até que, depois da tropa, ingressou na GNR e a pulso ganhou os galões as divisas de cabo. Tinha casa própria nos limites da cidade, em Cabecinha de Rei, e um apartamento na Figueira Foz, junto ao mar. Ontem, deixou Santa Comba em alvoroço. A terra só conhecera tanta agitação em Julho de 1970, quando o comboio com a urna de Salazar chegou à estação. 


Vítimas:

ISABEL ISIDORO (17 anos)

DESAPARECIDA A 24 DE MAIO DE 2005

Já tinha ido a França sem dizer que se ia embora. Por isso, quando desapareceu no ano passado, a 24 de Maio, a família pensou que voltara a partir para se juntar ao namorado e trabalhar ? e não participou à polícia. ?As amigas disseram o mesmo, já que houve uma altura em que fez isso e voltou passado um mês?, contou o tio Rui Isidoro, que foi colega de escola do suspeito dos homicídios. Isabel, de 17 anos, já abandonara os estudos e ultimamente trabalhara num restaurante. Gémea com um rapaz, cresceu em Cabecinha de Rei, num meio familiar instável, com mais dois irmãos de 24 e 29 anos. Era prima e vizinha da terceira vítima. Apenas o corpo de Isabel, devolvido pelo mar, na Figueira da Foz, uma semana após o sequestro, está perfeitamente identificado. 

MARIANA LOURENÇO (18 anos)

DESAPARECIDA A 14 DE NOVEMBRO DE 2005

A única das três que frequentava o ensino superior. Matriculara-se no curso de Contabilidade da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital, que depende do Instituto Politécnico de Coimbra. Órfã de pai, vivia com uns tios em Catraia, perto de Cabecinha de Rei, nos limites de Santa Comba Dão. A mãe reside perto, em Mortágua. Apesar do ingresso no ensino superior, Mariana pouco tempo gozou esse estatuto. Foi atacada a 14 de Novembro de 2005 e nunca mais vista pelos amigos e família. Presume-se que o corpo encontrado há um mês, mutilado, no sistema de filtragem da Barragem do Coiço, em Penacova seja o dela. Ontem, continuavam a decorrer diligências policiais para confirmar a identificação. Mariana era amiga de Joana Oliveira.

JOANA OLIVEIRA (17 anos)

DESAPARECIDA A 8 DE MAIO DE 2006

As buscas para encontrar o corpo da estudante de 17 anos prosseguiam ontem, enquanto o pai mantinha a esperança de voltar a vê-la com vida. ?A minha filha era sossegada e nem namorava. Dizia que primeiro estavam os estudos?, declarou Fernando Oliveira. A 8 de Maio, Joana esteve na escola e numa agência bancária ? para depositar um cheque ? e foi sequestrada no regresso a casa, em Cabecinha de Rei. Um percurso de 15 minutos que fazia a pé. Sonhando ser psicóloga ou educadora de infância, Joana frequentava o 11º ano na Secundária de Santa Comba Dão e andava preocupada com o desaparecimento da amiga Mariana, ocorrido seis meses antes. Recatada e cumpridora, era a mais nova de três irmãos ? Os outros têm 22 e 28 anos ? e vivia uma relação cúmplice com os pais.

Isabel Jordão (Leiria), com D.R e J.L.