De olhos bem abertos
Os olhos curiosos do homem, que perscrutam as estrelas em busca dos mistérios do universo, ganharam um aliado de visão aguçada. Trata-se da recém-inaugurada supercâmera de 570 megapixels (DECam) do projeto Dark energy survey (DES - Levantamento de energia escura), que realizou seus primeiros registros (ou, mais poético, obteve sua ‘primeira luz’) no dia 12 de setembro.
Galáxia espiral NGC 1365, localizada no aglomerado de galáxias Fornax, a cerca de 60 milhões de anos-luz da Terra
A câmera é a ‘mais poderosa’ já construída, sendo capaz de registrar, em cada imagem, a luz de 100 mil galáxias situadas a uma distância de até 8 bilhões de anos-luz da Terra. A DECam está acoplada ao telescópio Blanco, localizado no Observatório Interamericano Cerro Tololo, nos Andes chilenos. Juntos, eles oferecerão a maior combinação de área de cobertura, sensibilidade e resolução existente no mundo para o estudo do universo.
A pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã distante 200 mil anos-luz de nosso planeta
Parte do aglomerado de galáxias Fornax, a 60 milhões de anos-luz da Terra
As possibilidades abertas pelo novo conjunto são muitas. Entre elas, realizar o maior levantamento de galáxias jamais feito e buscar um entendimento melhor sobre a misteriosa energia escura, por meio de estudos de aglomerados de galáxias, supernovas, estruturas em grande escala das galáxias e o efeito de lentes gravitacionais fracas na deflexão da luz. Assim, a DECam pode ajudar a responder uma dúvida fundamental da cosmologia: por que o universo se expande de forma acelerada, ao invés de desacelerar por conta da gravidade?
Até dezembro, no entanto, a curiosidade terá que esperar. Isso porque o aparelho passará por uma intensiva bateria de testes antes de ser liberado para o uso da comunidade científica.
A DECam, montada no telescópio Blanco, no Chile.
Olhares brasileiros
Coordenado pelo Fermilab, o projeto é fruto de oito anos de trabalho integrado de cientistas, engenheiros e técnicos de três continentes, inclusive do Brasil. Hoje, o país tem representantes em todos os comitês do DES e é líder de dois deles. A participação brasileira é articulada por meio do DES-Brazil, uma associação de pesquisadores do Observatório Nacional, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e de universidades agrupados no Laboratório Inter-institucional de e-Astronomia.
Crédito das imagens: Dark Energy Survey Collaboration. Imagem de abertura: Aglomerado globular de galáxias 47 Tucanae, a cerca de 17 mil anos-luz da Terra.
Confira mais registros feitos pela pela DECam.
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