RODRIGUEZ LOPEZ PRODUCTIONS

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Bosnian Rainbows are on the cover and featured in Issue 8 of Music & Riots Magazine - see full online issue here.

Interview with Teri Gender Bender and Omar Rodriguez Lopez below.  (En Espanol)

Numa altura que os Mars Volta estão num hiato quase definitivo, Omar Rodriguez une-se a Teri Gender-Bender, carismática e caótica líder dos Le Butcherettes para criar um dos mais belos projectos deste 2013, os Bosnian Rainbows. Aqui o dreamy pop tem riffs à lá Zeppelin, enquanto de uma forma quase celestial somos atirados para um cruzamento entre o mundo de Siouxsie And The Banshees e kraut-rock dos Can. Ao telefone desde São Francisco falamos com Omar Rodriguez e com Teri Gender-Bender, onde falamos sobre a química dos Bosnian Rainbows e ainda tivemos tempo para abordar o fim dos Mars Volta, a reunião dos At The Drive In e até mesmo o novo trabalho dos Le Butcherettes que está a chegar… 

Como é que começaram os Bosnian Rainbows?
Omar: Começou com o desejo de criar um empenho colaborativo de artistas, onde todos compomos juntos de igual para igual e onde também produzimos tudo juntos.

E como é que se juntaram para formar a banda?
O: Eu conhecia o pessoal de tocarmos música durante anos, como acontece quando andas em tour, trabalhas muito e conheces muitas pessoas diferentes. Eu conheci a Teri Gender Bender por causa da banda dela, que se chama Le Butcherettes. Quando eu vivi no México, acabei mesmo por produzir o novo disco dela. E claro o Deantoni Parks tocava no meu grupo, os Mars Volta, no caso do Nicci Kasper eu conheci-o em Nova Iorque, ou seja, acabas por tocar com pessoas diferentes durante anos e algumas pessoas acabam por ficar na tua memória, logo acaba por ser óbvio até acabares por vir a trabalhar com essas pessoas.

Porquê a escolha de Bosnian Rainbows para o nome da vossa banda?
O: Porque é uma bonita metáfora que nos inspira a criar, para aproveitar a vida e para inventar a nossa realidade.

O vosso disco de estreia foi lançado recentemente. Vocês gravaram-no no ano passado e toda a gravação foi feita com equipamento analógico, sem usarem qualquer computador.
O: Sim, foi simplesmente brutal. Foi o retorno a uma era ou época diferente onde antes costumávamos gravar toda a música desta forma, acabou por ser uma decisão baseada no tipo de filosofia do grupo, que é união, colaboração completa e confiança total. Quando gravas em analógico obviamente que é completamente diferente do digital e por isso tens que confiar nas pessoas com quem estás e tens de partilhar tudo com elas, até porque há um número limite de faixas. Há apenas 24 faixas e foi do género: “Quantas faixas vai ter a bateria? E quantas vai ter a guitarra? E a voz? E o baixo?” e por aí. Para além disso, com cassete e analógico, se não estiveres a comunicar correctamente, basta apenas um momento dessa comunicação não funcionar que pode eliminar algo para sempre, logo acabas por ter de tomar decisões fulcrais ao longo do percurso. É essa a desvantagem do digital. Nós não somos contra o digital, mas a desvantagem do digital é que tu não tens que decidir, podes simplesmente mudar algo mais tarde; há um número infinito de faixas, se apagares algo podes recuperar, porque tudo tem um backup. Por isso, a decisão de gravarmos em analógico foi por causa do efeito que faz ao ambiente de grupo e à partilha de todos em total união no mesmo espaço de gravação.

Quais foram as vossas principais inspirações na criação do vosso som para este trabalho?
O: Simplesmente viver profundamente um com os outros com aquilo que nós somos. A música é apenas uma extensão do que tu és. É na realidade apenas os neurónios e as ondas cerebrais que estão a ocorrer na tua mente e que estão a fluir pelos teus vasos sanguíneos a cada instante. Portanto a nossa música vai soar aquilo que tu fazes. As inspirações são qualquer coisa que te rodeia, como o ambiente, a vida em geral e aquilo que tu pensas, da mesma forma que as abelhas têm um som, os pássaros têm um som, etc. A mais recente pesquisa em neurologia demonstra que de facto que as ondas cerebrais e os pensamentos são quantificados em frequências e certas especificidades, que podem ter os seus próprios algoritmos, harmonias, melodias, por isso basta apenas pensar para se poder criar música.

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“…o som dos Bosnian Rainbows acaba por ser a extensão daquilo que nós somos, simples pessoas que se preocupam com elas próprias e com o mundo em que vivem.”

Como é que a magia acontece, ou seja, como é que é o vosso processo de composição?
O: É completamente colaborativo. Toda a gente dá o seu contributo e toda a gente está à procura de uma visão diferente, porque todos nós na banda somos produtores como também líderes de bandas. Todos nós aqui temos a nossa própria banda. Normalmente quando estás num grupo, cada pessoa pensa apenas na sua parte, até porque é isso que habitualmente acontece num grupo democrático. Por exemplo um baixista pensa sobre a sua parte de baixo e como poderá ficar mais fixe, logo aqui toda a gente pensa sobre a música e como a música poderá ficar mais fixe, e não sobre ser individual e como a actuação desse individual poderá ser mais fixe (risos). Nós todos pensamos em termos de produção, o que significa estar conscientes das partes da melodia e como elas se encaixam juntas, mas também as frequências de instrumentos, porque um dos aspectos mais importantes na gravação de música é como as coisas se encaixam na mistura e é isso que faz uma faixa resultar ou não. Isso acontece muito depressa para nós por causa de sermos todos compositores e produtores, e também por causa da comunicação que temos uns com os outros que é tão aberta e directa, tudo é mesmo muito directo.

Como descreverias o som dos Bosnian Rainbows?
O: Não descreveria. Eu nunca vou conseguir descrever o som de algo que faça parte. Isso cabe a outras pessoas de decidir, porque isso é tão subjectivo. De uma forma abstracta, eu poderia dizer que é o som de pessoas que querem uma vida melhor para elas próprias e pessoas que comem comida nutritiva, que é algo muito importante. De onde tu és em Portugal e na Europa no geral há muitas regulamentações sobre alimentos e há muitos alimentos modificados, mas neste país e na América em geral o abastecimento de alimentos está contaminado, tem sido envenenado. A maioria do que anda por aí são alimentos geneticamente modificados e cerca de 8 a 9 ingredientes diferentes foram banidos em todo o mundo, mas por alguma razão é legal neste país. E por isso eu diria que o som dos Bosnian Rainbows acaba por ser a extensão daquilo que nós somos, simples pessoas que se preocupam com elas próprias e com o mundo em que vivem.

Mudando um pouco de assunto Omar, para uma pergunta que toda a gente te faz e por isso eu também te vou fazer (risos). No ano passado houve a reunião dos At The Drive-In. Qual foi a sensação de voltar a partilhar palco com o resto do pessoal?
O: Foi brutal. Foi mesmo bom estar com o pessoal. Estas são as pessoas com quem eu cresci. Estes são os gajos que me conhecem melhor que qualquer outra pessoa desde que fomos adolescentes. Eu sempre disse em entrevistas que foi isso o que essa altura representou para mim, foi sobre nós estarmos juntos. Em palco foi algo diferente, porque eu estava com alguns problemas pessoais. Foi um momento difícil e triste para a minha família e aconteceram algumas experiências traumáticas, por isso não foi fácil estar em palco diante das pessoas. Era o último sítio que eu queria estar, mas felizmente estava rodeado por estes quatro gajos que me amam e que sabiam o que eu estava a passar. Eles deram-me muito apoio.

E os Mars Volta, vocês acabaram definitivamente?
O: Eu acho que é o que parece, por agora. Eu não sei qual é o melhor conselho sobre isso, além de comprar e pagar impostos (risos). Eu não sei o que é mais definitivo, mas eu sei onde a banda se encontra neste momento e não me preocupo demasiado com o que pode ou não acontecer. Eu tenho de viver cada momento e o presente é este momento agora.

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“Eu não sei o que é mais definitivo, mas eu sei onde a banda se encontra neste momento e não me preocupo demasiado com o que pode ou não acontecer…” 
Omar Rodriguez sobre o futuro dos The Mars Volta

Como referiste há pouco, tu produziste e também tocaste baixo no próximo disco dos Le Butcherettes. O que podes contar sobre esse disco?
O: É um disco fantástico. A Teri é uma compositora incrível, é o som das Le Butcherettes. Eu acho que ela está mesmo a evoluir como compositora e também no seu próprio interesse pela música. Uma coisa muito importante, é que ela encontrou finalmente uma boa baterista, uma baterista com quem ela tem uma grande química. Lia Braswell é outra jovem talentosa e por isso as duas juntas formam uma óptima equipa. É simplesmente um disco surpreendente.

Teri, agora é a tua vez! Que mais nos podes adiantar sobre este teu novo trabalho nos Le Butcherettes?
Teri: Nós gravamos esse disco há mais de dois anos, penso eu, e estou super contente com o som, porque foi feito na realidade numa questão de uma semana com a nossa nova baterista Lia Braswell. Ela é fenomenal, é um prodígio de criança. Ela tem apenas 20 anos e fez um só take, acho que isso foi a magia do disco. Nós fizemos este disco tão facilmente e sem stress. Divertimo-nos tanto. Esperemos que saia em breve, já que nós todos sacrificamos tempo com as nossas outras bandas, espero mesmo que saia em breve.

Omar, eu li que andas a aprofundar conhecimentos na produção cinematográfica.
O: Posso dizer-te que me traz muita felicidade e é um dos meios mais versáteis e gratificantes em que eu já entrei, porque inclui todos os meios. Inclui pessoas, spoken word, poesia, visuais, fotografia de cinema, luzes, música… Tem tudo, é um dos meios mais rejubilantes que um artista pode ter e também ensinou-me e ajudou-me a chegar aqui para formar a banda. Ensinou- me a importância e os aspectos fundamentais da colaboração, porque tu não podes fazer um filme por ti próprio, simplesmente não consegues. Mesmo que escrevas e produzas tudo, vais continuar a precisar de colaborar com pessoas, porque é um meio tão gigante.

Quais são os vossos planos para levar os Bosnian Rainbows a todo o mundo?
O: Nós estamos agora em tour e o nosso disco acabou de sair, por isso vamos continuar em tour e a tocar música para as pessoas.

Teri, que é que tens andado a ouvir ultimamente?
T: Eu tenho vivido a minha vida toda numa cave (risos), por isso porque o meu pai ouvia sempre os The Beatles, os The Beatles têm sido uma grande experiência, uma das maiores da minha vida, mas agora com o Deantoni, o Nicci e o Omar até me fazem ouvir Bette Davis, que já anda cá há muito tempo. Comecei a ouvir recentemente Kate Bush e ela é simplesmente fenomenal e também comecei a ouvir os The Eurythmics. O Dave Stewart é um excelente compositor. E há uma banda chamada The Meters, eles são também uma banda old school dos anos 70. Basicamente é isso que tem andado na minha playlist.

Qual é o teu disco favorito de 2013 até agora?
T: Pena Tame Impala não ser deste ano, senão diria que seria esse. Oh, isto é uma pergunta difícil (risos). Eu não quero soar masoquista e às vezes sinto-me envergonhada, mas nós temos andado constantemente a fazer tanta música e a ouvir só a nossa própria música. Lila Downs, eu adoro-a. Ela gravou um álbum este ano, porque ouvi algo novo dela e estava lindo. Ela é também uma grande inspiração para mim. Bem, não consigo lembrar-me de mais nomes (risos).

(Andreia Alves)