O tal do amor próprio (Interlúdio)
Eu acreditava que depois da transição capilar, meu cabelo cresceria e com isso eu finalmente ficaria em paz comigo mesmo; porém não foi bem assim.
É um processo doloroso ter que revisitar, exercitar e descobrir amor próprio e auto estima, porque são coisas que nos foram negadas durante toda uma vida.
Meus traços étnicos e raciais trazem além de ancestralidade e orgulho, todo o peso de vivências e experiências cruéis que me colocavam (e colocam) em desvantagem o tempo todo. É como se curvar por causa do peso enquanto se necessita estar de pé pra enfrentar mais discriminação.
Na internet, você é adorado por ter um cabelo. Fora dela, o peso de ter um cabelo crespo é outro. E para além do atual racismo, ainda é necessário lidar traumas e frustrações vindas de experiências da infância e adolescência.
É doloroso o processo de amor próprio e auto aceitação, porque tudo isso foi moldado em pessoas negras por mãos opressoras.
É uma luta não só minha, além de uma constante construção e desconstrução.
Dos mais difíceis e árduos de se conquistar, mas é a melhor e mais sólida e segura forma de amor: o próprio.