Título? Ainda não tem!
Fazia uma semana que eu havia me mudado para Londres, estava morando em um pequeno apartamento, alugado, que ainda estava um pouco vazio só havia minha cama, um raque, uma televisão, um sofá, um abajur, uma bancada pequena e meu notebook com Internet móvel, um pequeno armário e um criado mudo, cada coisa colocada no seu respectivo cômodo; estava aqui por causa de uma promoção de trabalho, trabalhava para uma revista, não exatamente o emprego que eu sempre sonhei, mas foi o que me sustentou depois que saí da casa dos meus pais.
Digamos que não o tipo de pessoa que gosta de depender dos outros, sempre fui assim, e meus pais nunca se impuseram contra isso. Tanto que aqui estava eu, com meus 20 anos, morando em Londres, sozinha.
Sozinha, essa era uma das raras vezes que essa palavra me incomodava, afinal eu estava sozinha em uma cidade grande onde eu não conhecia ninguém, isso realmente me incomodava. Decidi que devia sair, já que depois de amanha eu voltaria a trabalhar. Coloquei um sobretudo por cima da roupa que eu vestia, uma calça jeans simples, uma blusa preta colada ao corpo, e meu all star branco, simples e confortável do jeito que eu sempre adorei. Coloquei o celular e a carteira dentro de uma bolsa onde já se encontravam grande parte das coisas que eu carrego para todo lado, peguei as chaves do carro e saí, trancando a porta; quando lembrei provavelmente estaria frio, e minha mão sempre ficava muito fria, por isso deveria pegar uma luva, abri novamente a porta sem preocupar-me em fecha-la já que eu sabia onde as luvas se encontravam e por isso não demoraria.
Fui até o quarto e abri a primeira porta do guarda-roupas, onde havia uma gaveta, puxei e não encontrei as luvas ali, abri a gaveta de baixo e nada também, onde será que eu as havia colocado? Estava prestes a abrir outra gaveta quando ouvi um barulho na sala, parei alguns instantes pensando no que seria, mas supus que havia sido o vendo que entrava pela porta, continuei procurando minhas luvas, porém ouvi novamente o mesmo barulho vindo da sala, decidi ir ver o qu era, mas não havia nada de diferente, entretanto percebi minhas luvas jogadas no sofá:
- Aí estão vocês! – falei pegando-as e começando a colocá-las distraidamente, quando olhei para o corredor vi um rapaz chamando por alguém, porém ele estava com a mão estendida um pouco a frente do seu corpo, esfregando o polegar no indicador, como se faz quando se quer chamar um gato, cheguei mais perto da porta e me encostei no batente ainda o observando.
Ele continuou a fazer aquilo olhando para o chão até perceber a presença dos meus pés, foi subindo o olhar devagar até encontrar meu rosto com um sorriso amigável:
- Oi! – foi o que eu falei tentando parecer simpática para o meu possível novo vizinho.
- Oi! – me respondeu simplesmente olhando para dentro do meu apartamento, estreitando os olhos como se tentasse ver algo melhor ali dentro, de repente ele arregalou os olhos e logo depois ouvi um barulho vindo de dentro do meu apartamento, fazendo-o fazer uma careta logo após.
Virei-me devagar sem ter certeza de que eu queria saber o que tinha acontecido ali, vi meu abajur vermelho que eu tanto gostava no chão quebrado, e em cima do meu raque eu pude ver um gato branco e cinza com olhos verdes, sentado me olhando e balançando o rabo como se não tivesse feito nada. Virei-me novamente para o rapaz, e ele agora me olhava como se pedisse desculpas:
- Seu gato? – falei tentando controlar meu impulso de pegar aquele gato pelo pescoço e o jogar pela janela do apartamento, que ficava no 10º andar.
- É! Será que eu posso… – falou meio sem jeito, apontando para dentro, e eu entendi na hora que ele queria entrar para pegar o gato; dei passagem e ele entrou rápido, pegou o gato e parou de frente para mim já no corredor – me desculpe por isso, me diga quando foi que eu faço questão de pagar.
- Tudo bem, depois acertamos isso. – falei fechando a porta atrás de mim, não estava com vontade de limpar a bagunça agora – Boa noite!
- Boa noite e desculpa outra vez! – ele falou enquanto eu andava em direção ao elevador
- Tudo bem. – falei após ter entrado no elevador, com a porta fechando logo em seguida. Não iria ficar irritada por causa de um abajur, por mais que eu gostasse dele, já não tinha mais o que fazer. Fui para um pub qualquer, fiquei sentada bebendo alguma coisa e ouvindo um cover de Beatles tocar a noite toda, me sentia bem mesmo estando sozinha.
Acordei no dia seguinte pensando o que faria, já que só voltaria a trabalhar amanhã. Levantei, fiz minha higiene matinal, e parei em frente a janela que havia do lado da minha cama. Não estava um dia feio, talvez eu me decidisse por andar um pouco por aí, conhecer o bairro não me faria mal algum. Coloquei algo quente e confortável, e saí.
Descobri coisas interessantes e úteis perto do apartamento, um starbucks, uma loja de sapatos, uma livraria, uma loja de conveniência, nada muito grande, mas para mim era o suficiente.
Voltei para casa, tomei um banho e fui para cozinha decidir o que eu poderia fazer para comer; olhei os armários, decidi que seria macarrão, quer coisa mais fácil de fazer?
Coloquei a água no fogo, e o molho para ferver, fui até a sala e fiquei olhando pro espaço vago do abajur, teria que comprar outro, tinha visto um muito bonito numa loja aqui por perto; fiquei algum tempo tentando pensar em qual seria melhor para substituir o outro, mas fui interrompida pela campainha, quando abri a porta dei de cara com o vizinho do gato:
- Hey! – falou meio tímido – eu queria pagar o abajur que o Pop quebrou!
- Seu gato chama Pop? – falei segurando a risada, quem coloca o nome do gato de pop? Aparentemente ele coloca!
- É, Por causa da cor, ele é branco e pop é de popcorn, porque eu gosto de pipoca! – ele falou divertido
- Ah sim, Popcorn! – conclui rindo – e quando ao abajur fica tranqüilo, não precisa pagar outro, nem foi caro!
- Mas eu faço questão! – ele olhou para dentro do apartamento de novo, e fez uma cara nada boa – Ai caramba! Fogo! – ele apontou pra fumaça que estava vindo de dentro da minha cozinha; na mesma hora eu me lembrei do molho, que além de espirrar no meu fogão limpinho, devia ter secado e queimado a panela e esta prestes a pegar fogo; corri lá para dentro e desliguei o fogo tanto da panela de molho, quando da água do macarrão!
- Que merda! – falei alto, em tom de frustração; porque quando essa cara aparecia na minha porta desastres aconteciam?
- Tá tudo bem? – eu ouvi sua voz perto atrás de mim, e olhei vendo-o apoiado no batente da porta da minha cozinha.
- Tá! Vou ter que jogar a panela fora, está completamente inutilizável! – disse olhando dele para a panela – e limpar o fogão – acrescentei fazendo uma careta, o estado do meu fogão não era dos melhores, ou melhor, era dos piores!
- Eu te ajudo! Foi por minha causa, então eu ajudo a limpar! – falou tomando frente e pegando as coisas em cima da pia para limpar o fogão; achei ótimo afinal eu odiava cozinha mesmo.
Depois de tudo limpo eu estava com fome e ele também, decidimos que comida japonesa seria uma boa. Ficamos um bom tempo conversando sobre coisas banais, até ficar tarde e ele voltar para o seu apartamento, que eu descobri ser o da frente; ele era muito legal, e divertido também.
No dia seguinte acordei de bom humor, sem nenhum motivo aparente, mas melhor aproveitar; olhei no relógio e teria tempo de sobra pra fazer o que eu adorava: tomar um banho, me arrumar sem pressa e depois tomar meu café da manhã em paz. Depois de tomar meu café, substitui as pantufas de ursinho por sapatos de salto, peguei minha bolsa, as chaves do carro e saí em direção ao meu primeiro dia de trabalho.
Parei em frente a um prédio alto e intimidador, seria meu local de trabalho por tempo indeterminado, afinal eu ainda queria um emprego em um jornal impresso. Estacionei em uma vaga qualquer e entrei no elevador, apertando logo em seguida o botão para o 4º andar; quando a porta se abriu havia uma moça sentada atrás de uma mesa com uma porta de vidro bem atrás dela onde se via a redação da revista inteira. Várias pessoas andando de um lado pro outro, digitando coisas e falando ao telefone, confesso que já começava a sentir saudades disso:
- Em que posso ajudá-la? – a moça na entrada me perguntou.
- Eu sou a nova funcionaria, hoje é meu primeiro dia!
- Anne Couling? – ela perguntou com uma entonação ansiosa, como se me esperasse
- Eu mesma! – deu um sorriso discreto, estranhando a atitude da moça
- Me acompanhe, por favor! – ela se levantou e entrou pela porta de vidro comigo logo atrás, depois de passar por algumas salas ela me indicou uma porta com meu nome escrito nela, eu seria a editora - chefe da seção de cultura da revista.
Abri a porta e um sorriso junto, ao ver um escritório simples todo em preto e branco, uma parede de vidro que me deixava ver a cidade, a mesa não muito grande, com um computador e uma cadeira aparentemente confortável. Eu havia adorado aquela sala, certamente me sentiria a vontade ali, além da vista impressionante que eu tinha.
- Está é a sua sala, ali – ela apontou para uma sala um pouco a frente de onde a minha estava – fica a sala da editora-chefe da revista, e ali – ela apontou outra sala – é a sala de reuniões! - as outras salas próximas são dos editores das outras editorias.
- Ah sim, obrigada por me mostrar! – falei sorrindo e entrando na minha sala, vendo-a fechar a porta logo em seguida; estava satisfeita com aquele lugar, não era nada luxuoso ou algo do tipo, mas era aconchegante, e isso para mim bastava. Sentei em minha cadeira, constatando que ela era realmente tão ou mais confortável do que parecia, pensando no que eu teria que fazer agora. Provavelmente me apresentar à editora-chefe da revista e foi isso que eu fiz, me levantei e segui até a porta que haviam me indicado como sendo dela.
Bati na porta, um pouco receosa, nervosa talvez:
- Com licença – eu falei colocando a cabeça para dentro e vendo uma mulher bonita e elegante olhar em minha direção e sorrir, como se me desse permissão para entrar, e foi exatamente o que eu fiz, entrei e parei em pé em frente a sua mesa, sorrindo leve e nervosamente.
- Você deve ser Anne Couling, certo?
- Eu mesma, você é Catherine, editora chefe, certo?
- Eu mesma – ela respondeu da mesma forma, sorrindo – bom, hoje é seu primeiro dia, vou te apresentar a sua equipe, e te passar algumas pautas que tem que ser terminadas e revisadas.
- ok! – respondi seguindo-a para fora da sala, ela foi me apresentando a equipe com que eu trabalharia, todos foram muito simpáticos e receptivos, o que me fez pensar talvez aquela mudança para Londres tivesse me feito melhor do que eu imaginava.
Depois do expediente, me despedi de algumas pessoas, com quem já tinha conversado um pouco e saí indo direto para o carro e pensando no que eu poderia comer. Estava dentro do carro, olhando para possíveis lanchonetes. Quando um abajur me chamou atenção dentro na vitrine de uma pequena loja, era preto com uma estrutura em espiral, parei o carro e sem pensar duas vezes o comprei, sentindo–me satisfeita; Depois disso decidi que comeria alguma coisa em casa mesmo e segui tranquilamente.
Tinha acabado de sair do elevador, parei em frente a meu apartamento, procurando a chave em minha bolsa e apoiando o abajur no chão um pouco atrás de mim; enquanto procurava a porta do apartamento em frente ao seu abriu em um movimento rápido, e antes que eu pudesse deter o gato passou correndo com seu dono logo atrás, massacrando meu abajur recém comprado; bufei e entrei no apartamento, deixando minhas coisas no sofá e indo até o corredor para recolher o pacote massacrado enquanto o rapaz voltava, com o gato nos braços, e resmungando algo, e parou ao perceber que eu estava recolhendo algo no chão:
- Deixou cair? – perguntou divertido
- Não Jake, certo gato e o seu dono passaram por cima antes deu conseguir alertar sobre o meu abajur novo. – falei com um pouco de sarcasmo, vendo o fazer a tão conhecida careta.
- Então foi do seu abajur o barulho que eu ouvi quando passei… – falou mais para si mesmo do que para mim.
- É, foi! – eu já havia me levantado e segurava o embrulho e alguns pedaços que tinham saído dele.
- Me desculpa, eu faço questão de pagar e…
- Jake, esquece vai, só tira esse gato de perto de mim, porque ele tem o dom de quebrar as minhas coisas! - falei entrando no apartamento – boa noite! – desejei antes de fechar a porta, joguei os restos mortais do meu abajur, que nem havia sido estreado, no lixo e me larguei no sofá, ligando a televisão.
Depois de algum tempo jogada no sofá, meu estômago começou a reclamar, fui para a cozinha e percebi que não tinha nada de mastigável por lá o que me deixou ainda mais brava, e acabei decidindo que iria pedir alguma coisa por telefone, só não sabia o que. Quando havia me decidido por pizza e estava pegando o telefone minha campainha tocou; abri e dei de cara com o Jake, me olhando um pouco apreensivo:
- Oi… – falei sorrindo, tentando não parecer tão brava quando eu estava.
- Oi, eu queria me desculpar e para isso resolvi te convidar para jantar na minha casa, e não adianta fugir, eu sei que você não cozinhou nada! – ele falou divertido e eu sorri achando justo e mais do que conveniente.
- Não ia negar, estou realmente com fome e não tem nada aqui pra eu comer!
Fechei a porta do meu apartamento, e o acompanhei até o dele, de onde vinha um cheiro maravilhoso de salmão; fiz uma expressão completamente satisfeita e pude perceber um sorriso de Jake ao meu lado. Logo que entrei um pouco mais na sala, vi pop em cima do raque me olhando de um jeito sapeca:
- Afaste esse gato de mim, senão eu sou capaz de jogá-lo pela janela! – falei em tom de brincadeira, mas toda a brincadeira tem um fundo de verdade, e a minha não era exceção.
- Pode deixar o Pop não vai chegar perto de você, eu garanto! – ele foi até a cozinha terminar de fazer o jantar, pude notar que a mesa já estava posta para dois e parei apoiada no batente da porta, olhando-o de costas enquanto fazia não sei o que.
- No que você trabalha? – perguntei, tinha ficado curiosa sobre ele, não tínhamos conversando tanto assim na outra noite.
- Eu sou sous chef de um restaurante no centro de Londres, mas eu quero mesmo abrir um. – falou orgulhoso de si mesmo, sorri com isso.
- Você é de Londres ou nasceu em outro lugar?
- Nasci em uma pequena cidade, aqui na Inglaterra mesmo, mas vim pra cá pequeno, quando meu pai foi transferido!
- Huum… Você mora sozinho faz tempo?
- Faz mais ou menos um ano, antes dividia o apê com um amigo!
- E você gosta de morar sozinho? – ele parou mexer na panela e me olhou, com um sorrisinho de lado
- Pra que esse interrogatório?
- Só curiosidade, caso você tenha esquecido eu sou jornalista – tentei justificar a minha curiosidade – mas me desculpe, não quis ser intrometida, só queria saber mais sobre o dono do gato que adora quebrar abajures alheios – dei uma risadinha – falando nisso, você tem outra diversão além de quebrar abajures das suas vizinhas? – ele deu uma risada alta e engraçada, que me fez rir também.
- Tenho… – falou sorrindo e levantando uma das sobrancelhas – compensar essas vizinhas com jantares! – eu ri mais ainda, sendo acompanhada por ele - Vamos jantar! Já esta tudo pronto, e você parece estar com fome!
Durante o delicioso jantar, ficamos conversando, e depois sentamos na sala, tomamos um café, e quando eu percebi que já estava ficando tarde, resolvi que estava mais do que na hora de voltar para casa; tomei um banho e capotei na cama.
No dia seguinte, minha rotina foi parecida, sem o fato do abajur quebrado,eu desisti dele por um tempo, na verdade até que aquele gato não oferecesse mais perigo, e contando que dessa vez o Jake resolveu ir fazer a comida em casa.
A semana continuou assim, eu e Jake revezávamos os jantares, um dia na casa dele o seguinte na minha. O final de semana chegou e eu não tinha idéia do que fazer, afinal estava cansada do trabalho, achei que comandar uma equipe e revisar matérias fosse mais fácil, engano meu, era mais difícil, porque alem de fazer isso, ainda tinha que escrever as minhas matérias e decidir a pauta para as edições;
Achei melhor alugar um filme e ficar em casa, com um chocolate quente em baixo da coberta, curtindo a minha preguiça, comecei a ver P.S. I love you que eu tinha alugado em um dos dias quando voltava para casa; o filme estava no meio e eu já estava desidratada e pensando que eu não ligaria a mínima se um Gerry resolvesse aparecer na minha porta, fui interrompida pela campainha:
- Fui atendida rápido! – falei pra mim mesma fazendo uma brincadeira em relação ao meu pensamento, pausei o filme e fui abrir a porta. Dei de cara com o Jake, segurando uma garrafa de vinho e alguns morangos:
- O que exatamente é isso? – perguntei sem entender
- Vim te fazer os morangos flambados que eu havia prometido – deu um sorriso e foi entrando sem pedir licença – e trouxe uma das melhores safras de vinho que eu encontrei! – mostrou a garrafa de vinho.
- Ah, sim! A cozinha é sua, pode ficar a vontade! – falei rindo e voltando a sentar no sofá, ainda voltando a me aconchegar e dando play no filme novamente.
- Você ta pensando que vai ficar sentada aí? Levanta essa bunda gorda daí e vem pra cá agora! – falou autoritário desligando o DVD e me puxando pela mão
-Chato! – fiz bico e ri logo em seguida, enquanto era arrastada até a cozinha, onde eu sentei-me à mesa enquanto ele abria o vinho e servia em taças.
Ficamos algum tempo conversando na cozinha, enquanto tomávamos vinho, já estávamos na terceira garrafa quando ele decidiu fazer os morangos, apesar de nenhum dos dois estar bêbado, quem sabe um pouco alegre, achei mais seguro que deixar para outro dia, já que só naquela semana Jake havia quebrado um vaso, dois copos e o pop, aquele monstro, havia entrado no meu apartamento e rasgado o braço do sofá inteiro.
- Vem Jake, nada de fogo para você! – o arrastei pelo braço para a sala e o sentei no sofá, me jogando ao seu lado.
- Annie… – meu novo apelido – eu quero fazer os morangos! – falou fazendo uma voz arrastadamente bêbada.
- Faz amanhã, eles não vão sair andando! – falei me levantando e fazendo-o levantar também – e vem, vou te levar para casa. – abri a porta e o levei a até a porta de seu apartamento, rindo de uma idiotice qualquer que nós dois fazíamos, depois de deixá-lo dentro de casa, voltei ao meu apartamento, me joguei no sofá e fiquei vendo algum programa idiota e pensando em como aquele emprego em Londres poderia mudar a minha vida, ou melhor, em como já havia mudado a minha vida. Dormi pensando nisso, acordei algumas horas depois, desliguei a televisão e fui para cama.
Acordei com alguém batendo na porta, na certa era aquele meu vizinho problemático, me levantei do jeito que estava: cabelo bagunçado, pijama minúsculo, cara amassada, afinal quem mais poderia ser a essa hora da manhã fora aquele perturbado do meu vizinho:
- O que você quer a essa hora seu encosto? – falei abrindo a porta e bocejando, mas para a minha surpresa, não era o Jake que estava na porta, era outro cara, tão bonito quanto, eu posso nunca ter falado mas o Jake é muito bonito, alto, cabelo escuro, olhos verdes, ombros largos, enfim, bonito; mas voltando ao estranho, ele me olhava com uma cara assustada, talvez um pouco confusa, dei um sorriso um pouco envergonhado – er… me desculpa, achei que fosse outra pessoa!
- Ah, tudo bem! É que eu sou um amigo do Jake, eu achei esse bilhete na porta dele dizendo que ele já voltava e que pra eu não ficar esperando no corredor era pra eu tocar aqui que você é amiga dele. – ele me entregou o bilhete e ficou me olhando, eu passei a mão pelos cabelos tentando arrumá-los.
- Pode entrar, o apartamento tá meio vazio mas pode ficar a vontade, só um minutinho que eu vou me trocar! – falei sorrindo para ele e fui para o quarto fechei a porta, pensando no mico que eu havia acabado de pagar; só o Jake pra me fazer pagar um mico desses, escutei a campainha tocar novamente, seria outro amigo gato, ou será que agora seria aquele cretino?
Voltei para sala e o amigo continuava sentado lá, olhando para o nada, abri a porta e agora dei de cara com Jake e algumas sacolas de um supermercado qualquer, olhei para o relógio e vi que eram quase meio dia, além de tudo aquela criatura ia fazer o almoço em casa:
- Agora é você, seu encosto! - dei espaço para ele entrar, e fechei a porta, notando os dois olhando para a minha cara.
– Então Annie, esse aqui é o Danny um amigo meu; Danny essa aqui é a Anne minha vizinha – sorri acenando para ele e fui até a cozinha pegar alguma fruta para matar a fome até o almoço sair, Jake foi atrás de mim deixando Danny sozinho na sala:
- Você podia ter me avisado né? Eu atendi a porta descabelada, com a cara amassada e um pijama minúsculo e ainda por cima o chamei de encosto achando que era você! – falei reclamando
- Desculpa, mas o Danny não vai se importar com isso, ainda mais a parte do pijama minúsculo. – ele falou dando um sorrisinho malicioso recebendo um tapa como resposta – agora vai conversar com a nossa visita!
- Nossa visita? Sua visita que você mandou invadir minha casa! – falei saindo da cozinha, afinal não era nada educado deixar uma visita, mesmo que não fosse sua sozinha.
Quando cheguei à sala Danny estava olhando para o apartamento vazio, com uma cara que eu não soube decifrar exatamente o que era:
- Oi! – falei despertando-o e sorrindo
- Oi, desculpa te acordar àquela hora, eu imaginei que você soubesse dessa coisa do Jake e…
- Relaxa, ele costuma ser folgado assim mesmo, além do que você também não sabia que eu não sabia da ideia mirabolante daquele encosto! – falei rindo
- Hey! Eu ouvi isso, tá? – Jake gritou da cozinha, nos fazendo rir.
- Quem disse que não era pra você ouvir? – gritei em resposta e Danny me olhava sorrindo.
- Então você veio passar uns tempos na casa do Jake? – falei percebendo que ele tinha uma pequena mala.
- É, estou reformando meu apartamento, aí dei uma de folgado e vim acampar do dele.
- Entendo, só toma cuidado com aquele monstro que ele tem no apartamento dele – falei com um ar sério e ele me olhava confuso – Aquela coisa que ele chama de gato!
- AH! O pop?
- Esse monstro mesmo. Monstro destruidor de abajures! – falei um pouco mais alto para que Jake ouvisse, ouvi sua risada da cozinha.
- Destruidor de abajures? – o outro me olhava sem entender
- É, ele quebrou 2 abajures meus, DOIS! – me pus a explicar a historia inteira, causando risos em Danny e Jake que escutava as coisas da porta da cozinha, depois de preparar o almoço e comermos; continuamos lá conversando durante algum tempo, até o Jake concluir que era melhor ir para o próprio apartamento e levar Danny com ele.
Aproveitando que eu estava sozinha e que a tarde em Londres estava gostosa, decidi que iria pintar a parede do meu quarto, e começar finalmente a deixar o meu apartamento do meu jeito, troquei de roupa, peguei a chave do carro e sai atrás de uma loja de tintas que eu havia visto pelas redondezas.
Estacionei, entrei e comecei a olhar para as várias latas sem saber ao certo que cor eu estava procurando, olhei alguns catálogos e em um deles tinha uma cor muito bonita: goiaba. Decidi que ia pintar comente uma das paredes com essa cor e deixar as outras da cor que estavam, era um bege quase pêssego.
Voltei para casa completamente empolgada, troquei de roupa e empurrei a cama, e forrei o chão e deixei uma fresta da minha porta aberta e voltei para o quarto ainda tinha 3 paredes para pintar, liguei o notebook e o coloquei no corredor, para que eu ouvisse a musica que tocava, sem incomodar o vizinho. Comecei a pintar, e depois de terminar de passar a primeira mão resolvi fazer algo para comer.
Fui até minha cozinha, abri meus armários e achei a coisa ideal: um pacote de trakinas; sentei-me no sofá e comecei a comer olhando para o cômodo, e pensando em como poderia decorá-lo. Após terminar pacote, respirei fundo tomando coragem para passar a segunda mão, me levantei e deixei o pacote por lá mesmo.
Estranhei ao ver algumas marcas indo em direção a minha porta e vindo do quarto, fui devagar tentando identificar o que eram aquelas marcas e me abaixei um pouco para olhar melhor, mas as que iam para fora estavam pequenas e disformes, será que eu havia sujado a roupa e pinguei no chão? Tive essa resposta quando entrei no quarto e o chão estava marcado com patinhas de gato em cor goiaba, já que eu havia coberto somente perto da parede que eu estava pintando. Aquele monstro sujou completamente o meu piso de madeira, além do edredom que estava na cama. Fiquei um tempo olhando para aquilo sem acreditar, se eu pegasse esse gato eu iria matá-lo e dessa vez era sério, muito sério.
Fui que nem um furacão até a porta do apartamento vizinho e comecei a esmurrá-la, sem paciência para ser educada, aquela bola de pêlos já havia me dado muitos prejuízos; um Danny assustado abriu a porta me olhando sem entender, o porquê daquilo, entrei no apartamento sem permissão procurando o pop e/ou seu dono:
- Cadê? Onde ele está? – perguntei olhando em volta tentando encontrar qualquer um dos dois para que eu pudesse esganá-los, qualquer um servia.
- O Jake saiu e já volta…. – Danny me respondeu calmo – mas tá tudo bem, aconteceu alguma coisa?
- Não, não está tudo bem! – eu estava histérica, de onde tiraria dinheiro para substituir a madeira do piso, aquilo era caro; foi quando eu vi o gato se lambendo na porta da cozinha, meu primeiro impulso foi ir atrás daquela animal, mas como ele não era burro tratou de sair correndo e se esconder atrás da geladeira me fazendo soltar um grito de frustração.
- Nossa, que bicho te mordeu? – Jake havia acabado de chegar e me olhava da sala com um sorrisinho no rosto.
- Nenhum bicho me mordeu, mas esse gato vai morrer quando eu pegá-lo.
- O que o meu inofensivo gato fez desta vez?
- Vá olhar o piso de MADEIRA do meu quarto e do corredor, para ver o que aquela peste fez! – coloquei a mãe na cintura vendo-o sair do apartamento e entrar no meu que ainda tinha a porta aberta.
- Puta que pariu! – ouvi-o gritar de lá de dentro – agora até eu to com vontade de matar esse animal, esses pisos são caros, e eu não tenho dinheiro para pagar, Annie! Não agora pelo menos, mas prometo que eu te pago quando eu receber. – ele começou a se justificar
- Jake se você me entregar seu gato empalhado, eu perdôo as suas dividas! – falei ainda com muita raiva – mas agora falando sério, depois acertamos isso! – já estava ficando mais calma, ao ver o desespero dele – mas, por favor, mantenha esse monstro longe de mim!
- Desculpa Annie, mesmo! – eu assenti e ele saiu do apartamento bufando, enquanto Danny estava parado no corredor sem saber o que fazer. Ele me olhou confuso por uns segundos, depois de Jake ter entrado rápido no apartamento enquanto eu só bufei andando um pouco pra dentro e depois voltando com as mãos no cabelo.
- Que foi? – perguntei, já que Danny continuava parado, encostado na parede do corredor.
- Nada – ele se limitou a dizer, talvez com medo do meu humor – ele fez um estrago muito grande?
- Meu apartamento tá cheio de pegadas cor goiaba – encostei a cabeça na porta, com um suspiro derrotado.
- Deve tá legal, diferente – ele disse, e eu me virei para vê-lo: estava sorrindo.
- Você acha, é? - revirei os olhos ainda sentindo uma vontade enorme e crescente de matar aquele animal.
- Claro – ele disse mais animado, vendo que talvez pudesse livrar aquele gato da morte. Ou ele estava só sendo simpático.
- É, talvez – dei de ombros, e nós ficamos por um tempo quietos, olhando para lugares diferentes, decidi deixar para lá, não poderia fazer nada agora de qualquer forma – Hey, quer tomar um chocolate quente? – convidei.
- Claro – ele disse simpático, fechando a porta atrás de si e entrando comigo apartamento adentro.
- Não liga pro cheiro de tinta – disse rindo, e indo para a cozinha, coloquei o leite para esquentar e estranhei não ouvir reposta – DANNY? – chamei por ele, e depois deixei o pano de prato na pia, procurando-o pelo nem um pouco grande apartamento.
Estava fazendo o caminho para o meu quarto, onde Danny provavelmente estaria provavelmente analisando o estrago, quando trombei com o mesmo que saia pela porta, e bati o nariz no ombro dele, já que nós tínhamos uma diferença considerável de tamanho.
- Tá tudo bem aí? – ele colocou a mão no meu ombro, ainda rindo.
- Tudo sim – apesar de estar rindo com ele, meus olhos estavam cheios de água, involuntariamente, e eu massageava meu nariz – veio ver o estrago?
- É, e eu não achei esse estrago todo – ele disse e eu o olhei com uma sobrancelha levantada – tá, se fosse no meu piso de madeira eu também teria ficado furioso – ele colocou as mãos no bolso da calça, enquanto nós andávamos para a cozinha – mas ainda assim achei super criativo.
- Bom, se você contar que não é a primeira coisa minha que ele estraga você… AH MEU DEUS, MEU LEITE! – sai correndo até o fogão e desliguei com o leite quase caindo da borda, mas tinha dado tempo. Depois dequele quase desastre, terminei de fazer o nosso chocolate quente, com alguns pedaços de chocolate derretidos no fundo e ali mesmo, na cozinha, nós continuamos conversando sobre as nossas vidas, na maior parte do tempo fazendo perguntas um sobre o outro. Até a campainha tocar.
- Vou lá – disse me levantando e Danny fez o mesmo, sentando no sofá enquanto eu abria a porta – Sim?
- Oi Annie, sabe onde está o Danny? – ele disse simpático, mas ainda demonstrando estar sem graça em relação ao que tinha acontecido.
- Oi Jake, entra, ele está aqui dentro. - ele entrou apreensivo, olhando em volta e encontrando Danny sentado em meu sofá, mudando os canais. - Eae, Danny? - Jake sentou-se ao seu lado, colocando as mãos em baixo da perna, como uma criança envergonhada, segurando-se para não quebrar nada. - Fala dude! - Danny encontrava-se esparramado no sofá, que ja era pequeno, deixando pouco, ou melhor, nenhum espaço para me sentar. - Danny, tal de Alice, ligou para você, pediu para que você retornasse assim que possivel! - Jake passou o recado, sentindo-se mais confortável, parei na frente do sofá impossibilitando-os de ver o jogo de futebol que haviam achado em algum canal qualquer. - Vocês esperam que eu me sente aonde? - eles olharam para o sofá, percebendo que não havia sobrado espaço. Danny deu os ombros, enquanto tentava olhar para a televisão. - Ah não sei Anie, tem um espaço grande no chão.
- Verdade! E tem um controle no chão também, quem sabe eu não ache algo melhor que futebol para ver? - no mesmo instante eles abriram espaço para que eu me sentasse entre os dois. - Muito obrigada!
Durante o jogo tive que aturar os dois gritando e torcendo para times contrários, além de nem se preocuparem e ser delicados e não falarem metade dos palavrões que eu não sabia da existencia, mas que aprendi. Depois disso mandei o Jake para a cozinha, como não podia ser diferente, e ele preparou algo que eu não sei o nome, nas verdade pouco importo, o gosto estava divino.
Danny foi pra o apartamento de Jake ligar para a tal Alice, enquanto continuamos a conversar sobre nada específico; nós dois teríamos de trabalhar no dia seguinte então a conversa não se prolongou muito, mas o suficiente para ser agradável.
Antes de dormir, decidi ligar para a minha família, afinal independência não é sinônimo de ausência de saudades. Admito, chorei horrores, só não mais que a minha mãe que além de falar que sentia a minha falta tentava me convencer a voltar a morar com eles; meu pai, mais contido, não chorou, ou melhor, não demonstrou e quis saber de como tudo estava, ao final falei com a minha irmã, que era mais minha amiga do que tudo, e tive que fofocar sobre os bonitões do apartamento ao lado. Depois disso, dormir era a única coisa que me restava.
Os dias se seguiram assim, Jake passava mais tempo no meu apê do que no dele as vezes o Danny vinha junto, as vezes saia com a Alice, namorada dele; eu a conheci, ela foi muito simpática comigo e eles são um casal bonito. O Pop se manteve afastado do meu apartamento depois do incidente com a tinta, e o meu apartamento agora tinha mais que alguns móveis, o quarto e a sala tinham a decoração completa, simples, com cores não muito chamativas e do jeito que eu adoro, aconchegante.
No entanto as coisas no trabalho só pareciam piorar, Cath me cobrava melhoras que eu ainda não podia lhe mostrar, sempre reclamando das minhas pautas e das reportagens, alguém pode avisar essa mulher que fazia somente um mês que eu me encontrava aqui, e estava tentando melhorar o máximo possível? Mas essa última semana a coisa havia piorado ainda mais, outro setor da revista tinha perdido uma matéria importantíssima, e agora ela queria que eu achasse algo para cobrir o espaço em pouco mais de uma semana…
Eu estava horas sentada na minha sala olhando pra fora tentando achar algo suficientemente bom pra me livrar de toda a cobrança, devo admitir que estava muito difícil. Sentei-me pra trás apoiando a cabeça no encosto e ouvi o telefone da minha sala tocar; ”por favor, não seja mais uma bronca” eu pensei e atendi prontamente: - Alô? -Annie? - Sou eu, quem é? - eu sabia que conhecia aquela pessoa de alguma forma, mas não tinha a mínima ideia da onde - Cara, não acredito que consegui falar com você! - isso já estava ficando estranho - é o Sam… - Sam? - falei na duvida, recorrendo as minhas memórias e finalmente lembrando - Meu Deus, Sam! - falei alto e feliz demais - Como foi que você me encontrou? Nossa, quanto tempo! Como você está? - disparei várias perguntas surpresa demais pra acreditar que estava falando com ele.
- Eu liguei na sua casa e sua mãe ficou tão feliz que me passou todos os seus possíveis telefones - ele deu uma risadinha, e porque isso não me surpreende - Estou bem, animado de saber que estamos na mesma cidade… - MENTIRA! - eu dei um grito e me arrependi logo em seguida quando toda a redação me olhou de um jeito nada legal - Nossa, vamos nos ver, eu saio daqui uma hora e meia e a gente pode ir tomar um café, se você puder e quiser, obviamente.
- Te liguei exatamente pra isso, eu estou de passagem por pouco mais de um mês, e tenho alguns compromissos durante esse tempo, essa semana é a única que tenho todos os dias livres; e já que você sai daqui a pouco e eu to sem fazer nada eu passo pra te pegar, pode ser? -me peguei sorrindo com o convite, e agradecendo por sempre sair bem vestida pra ir trabalhar, apesar de lamentar por ter escolhidos os saltos que mais me machucam hoje, apesar de serem os mais bonitos.
- Claro, será um prazer tomar um café com você depois de tantos anos. - percebi minha chefe parada na porta da minha sala - para conseguirmos negociar uma possível pauta. - falei tirando sorrisinho da cara e me acertando na cadeira
- Pauta? Annie, do que você ta falando? - eu fingia pra minha chefe que ouvia algo de extrema importância e concordava com alguns “ahans” e “uhuns”.
- Ok, eu vou avisar a minha chefe sobre isso e nos falamos mais tarde. - tentei fazer com que ele entendesse
-AHHH! Sua chefe está aí, ok então, passo pra te pegar daqui uma hora e meia, fique pronta, beijos. - ele se divertia com a situação e eu me segurava pra não rir da minha péssima interpretação.
- Ok, até! - e desliguei. - Oi Cath, aconteceu alguma coisa?
- Aparentemente tem alguém quase conseguindo uma pauta, certo? - ok Cath, eu já entendi, mas você pode, por favor, parar de me pressionar?
- É possível! - dei um sorrisinho amarelo e ela saiu quase satisfeita da minha sala, e eu, bom, eu tava mais do que ferrada.
Agora eu estava com dois problemas, tinha dito a minha, antes, tão amada chefe achava que eu tinha uma possível pauta, eu tentava pensar em alguma, mas só conseguia pensar em quão divertido seria rever o Sam.
Ele era um amigo de muitos anos atrás, dessas amizades que vem desde o ensino fundamental, na adolescência tivemos nossos problemas, afinal ele havia virado um galinha e eu uma boba apaixonada, mas isso passou assim que ele encontrou uma namorada e resolveu se apaixonar, e passou a ser o cara mais incrivelmente fofo e carinhoso que eu já conheci, até ela traí-lo e ele se revoltar e resolver que ia sair de casa e viajar com a banda que ele e dois amigos tinham, desde então eu não tinha noticias dele. E agora ele voltava assim, do nada. - DROGA! - bati com a mão na cabeça, eu tinha me lembrado que com toda a confusão eu não havia passado o endereço da revista pra ele, e nem tinha seu celular pra ligar de volta - O que eu faço? - olhei em volta tentando pensar em alguma coisa e lá veio a luz no fim do túnel, a redação tinha um registro de telefonemas que ficava no sistema central, resta saber como conseguir.
Disquei o Ramal da secretária imediatamente, para não dizer desesperadamente, e fui logo perguntando como fazia pra saber o número de alguém que havia ligado:
- Olha Annie, você tem que ir até a parte técnica da redação e falar com eles, mas antes tem que justificar o porquê você quer o número, digamos que é um pouco burocrático…
- Eu consigo isso pra hoje?
- Então, aí é que está o problema, hoje estamos com um problema no sistema central, não está registrando nenhum número desde hoje de manhã.
- Cacete! - falei automaticamente ouvindo a moça exclamar surpresa do outro lado da linha - Desculpa e obrigada!- desliguei antes que ela pudesse responder e tratei de pensar em outro jeito de conseguir falar com Sam; Abaixei a cabeça na mesa, respirando fundo e pensando, eu estava agindo como uma doida obsessiva atrás de um cara que eu não via ha anos;
Levantei a cabeça passando a mão pelos cabelos e resolvendo terminar de fazer as coisas no trabalho, antes que a Cath voltasse a reclamar. E vou isso que fiz até o final do expediente e começar a arrumar as minhas coisas: Desligar o computador, pegar o casaco, conferir se tudo estava comigo e pegar o celular que se encontrava em cima da minha mesa, e então o susto dele vibrar na minha mão, uma mensagem e no meu rosto um sorriso: “estou na porta da redação, e você continua mordendo o lábio enquanto se concentra!”
Na mesma hora abri a porta da minha sala e lá estava ele, na porta com um sorriso me olhando de forma tão encantadora que não teve como meu sorriso não aumentar; andei devagar e parei a sua frente sem saber direito o que fazer, eu devia abraçá-lo, talvez um aperto de mão, ou só um aceno cordial?
Essa duvida foi finalizada quando seus braços envolveram minha cintura no melhor abraço que eu recebia nos últimos tempos, daqueles que te abriga e protege que te deixa confortável, daqueles que se quer eternamente. Soltei-me dele ainda sorrindo, e me despedindo das pessoas conhecidas que estavam próximas, e fomos pra frente do elevador:
-Hey, como você sabe o endereço daqui e o número do meu celular?
-Digamos que o número do celular eu tive ajuda da sua mãe, e o endereço nada que o google não descubra! - ele deu uma risadinha e entramos no elevador que havia acabado de chegar
-Eu me esqueço da pequena grande boca da minha mãe!
- Poxa, você devia agradecê-la, se não fosse por ela eu não estaria aqui… - falou usando um tom de voz quase infantil e aquela cara de criança magoada.
- Eu vou, mas isso não muda em nada o fato dela ter uma grande boca… - Falei rindo e saindo do elevador na garagem - Tá de carro?
-Estou, e aparentemente você também, como faremos?
- Façamos o seguinte: a gente vai pra algum lugar perto daqui e depois você me deixa aqui na frente e eu pego meu carro, pode ser?
- Pode! - voltamos pro elevador, descemos no térreo e entramos no carro dele, tentando decidir pra onde ir, e no final da conta acabamos em um barzinho perto dalí.
- Agora me conta o que você tem feito? - perguntei curiosa enquanto bebericava meu mojito.
- Bom, a minha banda ta ganhando reconhecimento em outros lugares, e nós resolvemos começar por aqui a divulgação. - eu sorri; ter essa banda sempre havia sido seu sonho, e agora eles finalmente estavam conseguindo.
- Sério? Nossa! Isso é muito bom, Sam, parabéns! - enquanto eu o parabenizava meu instinto jornalístico apitou: música, lançamento, pauta, chefe feliz! - Caracas!
- O que foi?
- Vocês vieram divulgar a banda, certo? - ele acenou com a cabeça confirmando - então pra vocês uma reportagem seria ideal, certo? - ele acenou de novo, parecendo entender o que eu estava pensando. - Você tem o telefone do seu empresário aí?
- Você não vai ligar pra ela agora?
-Na verdade, vou sim, depois você termina de me contar tudo, prometo que te ouço sem nem interromper, mas agora eu vou ligar pra ela te ajudar e salvar o meu emprego. - dei uma risadinha estendendo a mão para pegar o celular dele, assim que apertei um botão, a luz de fundo se acendeu, e mostrou uma foto dele com a banda e uma garota que me parecia familiar; franzi o cenho tentando me lembrar de onde eu poderia conhecê-la.
- É a Frankie… - levantei o olhar do celular olhando pra ele, ainda com uma expressão confusa - aquela minha amiga do colegial, vocês chegaram a se conhecer, mas…
- AH NÃO! - eu sabia que tinha falado alto demais, e talvez tivesse sido um pouco indelicada em cortá-lo, mas aquela menina, agora mulher, me irritava mais do que profundamente. Ela sempre conseguia atrapalhar as coisas, além de ter um ciúmes doentio do Sam; uma vez ela havia rasgado meu trabalho e eu não havia visto, no final das contas fiquei de recuperação e ela sorrindo com aquela carinha de santa enquanto ele brigava comigo por causa das “falsas acusações”.
- Não faz assim, Annie, todos nós amadurecemos. - eu revirei os olhos, e ele percebeu - Sério, Annie, dá uma chance, tenho certeza que você vai mudar essa impressão ruim que você tem dela.
- Duvido muito, mas faço tudo e qualquer coisa pra minha chefe sair do meu pé! - respirei fundo, procurei o número na agenda e liguei.
- Oi Sam! - a voz continuava a mesma, irritante e desagradável, e o jeito de patricinha também.
- Boa noite, Frankie, eu sou Annie, sou jornalista e queria conversar com você sobre uma possível pauta. - enquanto eu falava, ele fazia cara feia, como se me mandasse ser mais simpática, até parece, né?
-Boa noite! - ela falou incerta - seria um prazer, mas se eu não me engano esse celular é do Sam, certo?
- É sim, mas o meu está sem bateria e nós estamos tomando um café juntos… - ouvi uma exclamação contida, mas indignada
- Ele não me avisou que ia sair hoje, eu poderia falar com ele?
- Claro, mas antes quero saber se podemos marcar um almoço para amanhã, com você e o resto da banda para definir ou não se haverá pauta… - enquanto eu falava ele tinha um surto à minha frente, quase me batendo pela forma que eu estava falando com ela.
- Ok, amanhã na hora do almoço, está marcado! - Confirmei e dei uma risadinha, passando o celular para ele, e ouvindo as reclamações dela assim que ele colocou o telefone na orelha.
Ela falava, ele respondia, e fazia caretas para mim, e eu tinha vontade de rir, e essa vontade aumentou ainda mais assim que ele explicou que eu era “eu”, a Annie amiga de muitos anos atrás. Depois de alguns minutos de reclamações e gritos contidos ele desligou o telefone emburrado:
- Sério, Annie, quando eu chegar no hotel ela vai falar mais um monte;
- E a culpa é minha que ela continua uma chata?
- Poxa, você nem deu chance dela ser legal!
- Agora, ou quando éramos mais novos?
- Em ambos… - ele nunca gostou da nossa inimizade, o problema é que nós duas nunca gostamos uma da outra.
- Sam, o que importa agora é estou perto de conseguir a minha pauta! - sorri aliviada em pensar nisso, e ele pareceu deixar de lado, pelo menos por agora, o nem tão pequeno problema entre nós duas.
- E eu estou perto de conseguir aparecer numa matéria feita por uma ótima jornalista.
- Você continua puxa-saco, né? - falei brincando
- E você continua não aceitando elogios, né? - respondeu com outra pergunta, e não precisamos de mais tempo para continuarmos a conversar como velhos amigos;
E assim passou a noite, nós dois conversando por horas, rindo de bobagens e lembranças, por vezes parecíamos crianças, rindo alto e nos imitando. Não parece que ficamos anos sem nos vermos, nossa amizade continua a mesma; e eu fiquei a noite toda tentando me proibir de voltar a ficar encantada por alguém tão encantador:
- Bom, acho que está dando a minha hora! - o sono já começava aparecer, e apesar de querer ficar ali o resto da noite, eu sabia que no dia seguinte eu tinha um almoço importante, e que eu precisava estar mais do que preparada pra enfrentar aquela chata e todos os problemas que ela ia criar. Ele olhou no relógio e pareceu surpreso:
- Nossa, nem percebi que já era tarde assim… Quase 1 hora já! - Dessa vez que se surpreendeu fui eu, droga, tinha ficado mais tempo do que eu imaginava.
- Caramba, 1 hora, droga, droga, agora o prédio da redação já fechou, não vou conseguir pegar meu carro. - enquanto falava mais para mim mesma do que pra ele bati na testa com um pouco mais de força do que eu deveria - Aí, droga! - e passava a mão tentando amenizar a ardência;
- Tudo bem, Annie, eu te deixo em casa…
- Não precisa Sam, eu pego um táxi; o problema não é nem agora, o problema é amanhã pra vir pra redação de novo.
- Então eu te trago amanhã pra cá! - falou como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer
- Claro que não, você ta louco?
- Relaxa, Annie, eu não me importo.
- Mas eu me importo, vou pegar um táxi, e você volta pro seu hotel que é pro outro lado; amanhã de manhã eu ligo pra Cath e vejo se eu posso ir direto pro almoço… Pode ser no hotel que vocês estão? - ele assentiu - então ótimo, amanhã eu passo aqui pego meu carro e vou pra lá!
- Tudo bem, mas hoje eu te deixo em casa, e não discuta! - não deu nem tempo de reclamar, ele já estava levantando e indo em direção ao caixa, não que uma carona não fosse muito bem vinda, mas o hotel em que ele estava ficava para o outro lado. Paguei a conta, depois de brigar com ele que queria pagar, e saímos me direção ao carro, e de lá ao meu apartamento.
- Estava com saudades das nossas conversas malucas e das suas risadas engraçadas. - eu sorri com aquela frase
- Eu também, muito! Mas fique sabendo que a culpa disso tudo é sua… Foi você que me trocou pela sua banda e levou a Frankie ao invés de me levar! - o tom de voz era de brincadeira, mas sabe como é né, toda brincadeira tem um fundo de verdade.
- Ixi, lá vem o drama, se eu soubesse tinha te deixado vir de táxi! - ele riu quando eu abri a boca com uma expressão indignada. - Você sabe que é brincadeirinha…
- Duvido, já me deixou pra trás uma vez, não é muito difícil fazer a segunda! - cruzei os braços e virei o rosto me fingindo de brava.
- Para com isso, Annie; eu sei muito bem quando você está se fingindo de brava! - desfiz a minha expressão voltando a olhar pra ele e mostrar a língua.
- Tinha me esquecido de que você me conhece muito bem! - comentei lembrando alguns anos atrás; mas Sam pareceu paralisar e pensar em algo.
- Promete pra mim que você vai se comportar amanhã? - eu sabia sobre o que ele estava falando; não que eu tivesse algo em mente, mas não era como se eu tivesse pensando em ser o ser mais fofo do mundo - Anne, promete? - eu respirei fundo, fechei os olhos, e concordei com a cabeça - Eu quero ouvir… - quando éramos mais novos ele sempre me fazia falar “prometo”.
- Prometo! Eu vou ser completamente profissional, nada de provocações ou indiretas, e nem de responder a possíveis indiretas dela. - prometi mesmo contrariada, e incerta de que conseguiria cumprir aquilo tudo à risca.
- Nossa, mais do que eu esperava, vejo que a mocinha cresceu mesmo! - falou me provocando.
- Se você continuar com essas brincadeirinhas sem graça eu retiro a promessa! - provoquei
- Não se pode retirar uma promessa, foi você mesma que me ensinou isso quando éramos menores!
- Nossa! - falei surpresa - Você ainda se lembra disso! - ele balançou a cabeça e sorriu. Ele balançou a cabeça e sorriu. Eu sorri ainda mais, pensando no quão maravilhoso era estar ali com ele de novo, depois de todos os anos, e ainda assim tudo continuar tão igual.
O caminho até em casa não foi muito demorado e ainda ficamos mais um tempo conversando com o carro parado em frente ao meu prédio. Tentei ser silênciosa ao subir, mas eu nunca fui muito bem sucedida nisso.
Enquanto tateava devagar e atrapalhadamente pelo escuro, já que a luz do corredor, aparentemente, havia queimado algo passou correndo por entre as minhas pernas, e me fizeram bambear e cair, virando o pé. O meu grito se espalhou pelo andar, e a porta um pouco mais à frente se abriu, com um Danny completamente sonolento e desalinhado, me olhando um tanto quanto espantado:
-Anne, tá tudo bem? – neguei com a cabeça, meu tornozelo latejava, e aparentemente meu celular havia se espatifado e divido em algumas três partes – O que aconteceu? – se aproximou me ajudando a ficar sentada e tirar os sapatos.
- Alguma coisa passou por entre as minhas pernas enquanto eu tentava chegar a minha porta, e eu cai, e torci o tornozelo. – passei a mão por ele, sentindo um inchaço – e agora ele está doendo muito…
- Ops, deve ter sido o Pop, ele não voltou hoje. – revirei os olhos ao ouvir o nome daquela peste, mais preocupada com a dor do que com o gato.
- Danny, o Jake tá aí? – ele negou, com expressão de quem não está entendendo nada – eu vou ter que ir ao hospital, meu tornozelo está inchando e doendo demais, ia pedir pra ele me levar, mas provavelmente ele saiu de carro, né?
- Mas eu te levo, a chave do seu carro está na sua bolsa? – falou começando a procurar a bolsa em volta.
- Está, mas meu carro ficou no prédio da redação… Danny, você pode me ajudar a descer? Eu vou tentar achar um taxi! – falei já fazendo força para ficar em pé, sendo imediatamente ajudada por ele.
- Annie, não tem taxi circulando pela cidade há essa hora, entra aqui um pouco, que eu vou ligar pro Jake… – me apoiei nele e fomos assim até o sofá, onde ele me deixou sentada e foi atrás do telefone.
- Jake? Alô? Você está me ouvindo? – uma pausa, provavelmente esperando a resposta do outro – Então cara, a Annie machucou o tornozelo e precisa ir pro hospital, tem como você voltar aqui? – outra pausa – Sei… eu entendo, mas ela o carro dela não está aqui, senão não tinha te pedido pra voltar… Jake, por favor, será que dá pra você voltar? – Danny começava a ficar sério – ‘Tá bom então! – e desligou.
- Então? – perguntei meio incerta
- Ele disse que não pode voltar porque está meio ocupado… – minha cara de indignação apareceu imediatamente – mas não se preocupe, nós vamos dar um jeito.
- Vamos dar um jeito? Qual o problema com ele afinal? – eu desatei a falar, o que eu costumava fazer quando ficava nervosa – ele só pode estar brincando; a culpa disso tudo é do gato dele, esse animal inconveniente.
- Annie, calma, nós vamos dar um jeito. – o Danny estava sério, provavelmente irritado com toda a minha falação.
- Ok! – concordei
- Você não conhece ninguém daqui do prédio que possa ajudar? - neguei me lembrando que não ia muito com a cara dos meus vizinhos – alguém que more perto? – neguei de novo, não fazia tanto tempo que havia ido para lá, não conhecia tão bem as pessoas do bairro - Alguém que…
- Já sei – interrompi – me empresta o telefone? – ele me entregou o telefone tentando entender – e você pode pegar meu celular também? – assim que ele me entregou o aparelho comecei a procurar na minha agenda o número do Sam, talvez ele ainda estivesse próximo daqui – Alô, Sam? Oi, é a Annie!
- Oi, que foi, esqueceu alguma coisa no carro, Srta. Eu sempre esqueço as minhas coisas? – começou a debochar de mim, lembrando da minha memória falha quando éramos mais novos.
-HÁ HÁ – falei ironicamente – Não, Sr. Eu sou engraçadinho, eu preciso da sua ajuda, preciso ir ao hospital e não há ninguém que possa me levar agora…
- Está tudo bem? O que aconteceu? Alguém te fez alguma coisa? – ele me bombardeou de perguntas
- Sam, respira, eu caí e torci o pé, meu vizinho que tem carro saiu, e o meu carro ficou no prédio da redação; você já esta muito longe daqui?
- Estava, mas já estou voltando, uns 20 minutos e eu estou aí! – nem esperou que eu respondesse e desligou o telefone.
- Danny, você pode me ajudar a descer? Consegui uma carona! – eu sorri para ele, que concordou já me ajudando a levantar.
- Quem vem te pegar, Annie? – ele perguntou enquanto me ajudava a saltitar até o corredor
- Um amigo meu! – apertou o botão do elevador, e ficamos esperando
- Hum, certo! – entramos
- Desculpa te dar todo esse trabalho, Danny!
- Que isso, Annie, não foi culpa sua, e sim daquela criatura que o Jake chama de Pop! – ele riu, me fazendo rir também e levantar a sobrancelha, afinal, a única que tinha problemas com esse animal era eu – ele rasgou um relatório, que eu precisei passar a noite fazendo para entregar pro meu chefe, além de roubar uma das minhas pantufas e me arranhar toda vez que eu tento pegar de volta.
- AHÁ! Eu não queria dizer isso, mas eu avisei! – dei uma risadinha, sendo ajudada por ele a sair do elevador.
Paramos no portão, olhando para a rua esperando que o Sam chegasse o mais rápido possível, 5 minutos, 10 minutos, 15 minutos, e nem sinal dele, comecei a ficar preocupada:
-Annie, acho que seu amigo te enganou! – Danny falou debochando
- Ele já deve estar chegando, talvez ele tenha pegado transito, sei lá…
-Ahan! – falou com um tom completamente irônico. – Transito a essa hora? Claro, completamente plausível.
- Pode parar, ele vem e já deve estar aqui perto!
- Ou ele… – Danny não conseguiu concluir sua frase, pois Sam havia acabado de parar o carro na frente do prédio, e já descia vindo ao nosso encontro; eu dei uma risadinha irônica e pisquei para o Danny, vendo-o fazer uma cara emburrada.
- Desculpa a demora, mas tive que parar para colocar gasolina, não queria correr o risco de ficar sem combustível no meio do caminho para o hospital! – ele parou na nossa frente, se explicando
- Tudo bem, Sam! – falei e ouvi o outro rapaz ao meu lado bufar baixinho – Esse é o Danny, amigo do Jake que é meu vizinho da frente – falei para ele que estendeu a mão – Danny esse é o Sam, um amigo de infância que decidiu reaparecer!
- Prazer, e obrigado por ajudar essa estabanada! – Sam falou cumprimentando Danny e apertando sua mão.
- Não foi nada! – ele sorriu – Melhor vocês irem, antes que isso inche e fique muito feio! – apontou para o meu pé, e enquanto Sam abriu a porta do carro, ele me ajudou a entrar.
- Brigada, Danny; e avisa pro Jake que estou de mal dele! – agradeci me arrumando no banco e fechando a porta do carro.
- Você como sempre foi estabanada e caiu, ou algum fator externo te ajudou nisso aí? – Sam perguntou querendo rir da minha cara.
-Não, o gato do meu vizinho me derrubou, aquele animal!
- Isso significa quem te derrubou foi seu vizinho que você acha bonito , ou o gato que ele tem como animal de estimação?
- O animal de estimação dele, que está mais para um demônio de estimação, isso sim!
- Certo, certo! – ele fez uma pausa - Aquele cara é o seu vizinho? – ele me olhou de rabo de olho.
-Que cara? O Danny? – somente confirmou com a cabeça – Você não ouve nada do que eu falo, não? – franziu as sobrancelhas – Eu te disse que ele é o amigo do Jake, que é meu vizinho, assim que você chegou, e eu apresentei vocês dois.
- Ahh, desculpa, eu estava preocupado com você e não prestei atenção.
- Sei, sei! Você nunca presta atenção no que eu te digo; e será que dá para ir mais rápido, eu estou com dor e preciso chegar ao hospital.
- Ok, Srta. Reclamação! – ele brincou e acelerou o carro em seguida.
Quando estávamos chegando ao hospital meu celular tocou, numero desconhecido, e me fez pensar quem poderia ser a essa hora da noite:
-Alô? – atendi em dúvida
-Annie, é o Danny, você já passou no médico? Está tudo bem? – ele começou a fazer várias perguntas
- Oi, Danny! – assim que eu falei o nome, Sam que estava concentrado na rua me olhou - Calma, estamos chegando, e o pé já não dói tanto, não precisa se preocupar pode ir dormir...
- Ah, certo, mas vamos combinar assim, quando você sair daí me liga para avisar que está tudo bem, ok?
-Owwwn, tão fofo e preocupado! – falei brincando – pode deixar que eu aviso, Dan!
- Vou esperar, beijos! – me despedi e desliguei o celular; o carro já estava parado em frente ao hospital, e Sam me olhava de um jeito que eu não soube entender
- O que foi? – ele balançou a cabeça querendo dizer que não era nada, e eu dei com os ombros abrindo, me virando e abrindo a porta do carro.
Ele saiu do carro, e fechando a porta e indo ao outro lado me ajudar a levantar do banco e ir até a porta do hospital; a sala de espera estava praticamente vazia, e a única atendente do local, não me parecia muito disposta:
- Boa noite, eu preciso passar em um ortopedista, eu tenho que preencher algum tipo de ficha antes, ou algo assim?
- Sim, essa aqui! – me mostrou uma ficha e me deu uma caneta, voltando a prestar atenção no rapaz bonitinho sentado perto dela.
-Ok! – sentei-me em uma das cadeiras e demorei pouco mais de um minuto para preencher toda a ficha, enquanto Sam permanecia calado ao meu lado.
Voltei até o balcão com a minha pequena dificuldade de locomoção, e entregando o papel a pessoa mal amada atrás do balcão:
- Agora é só aguardar! – falou e colocou a minha ficha em um envelope
- Ok! – sentei novamente ao lado de um Sam completamente esquisito. – O que você tem?
- Nada! – falou de forma simples e sem tirar os olhos da televisão que havia na sala.
- Sam, me fala!
- Você e aquele cara, o “Dan”... – imitou minha voz quando falou o apelido que usei para chamar o Danny
- O que tem? – me fiz de desentendida, esperando pela crise; Sam sempre tinha uma crise de ciúmes quando percebia que não era o único homem na minha vida, toda vez que eu arrumava um amigo, ele ficava bravinho e morrendo de ciúmes.
- O que ele queria no telefone?
- Saber como eu estava, se já tínhamos chegado ao hospital... Essas coisas! – dei uma risadinha quando eu vi seus olhos revirarem – Sam, sem crises de ciúmes, ok? – Ele fez bico e balançou a cabeça concordando.
- Gostava mais quando você era só minha amiga! – falou com jeito de criança que me deu vontade de aperta-lo
- Vou esperar, beijos! – me despedi e desliguei o celular; o carro já estava parado em frente ao hospital, e Sam me olhava de um jeito que eu não soube entender
- O que foi? – ele balançou a cabeça querendo dizer que não era nada, e eu dei com os ombros abrindo, me virando e abrindo a porta do carro.
Ele saiu do carro, e fechando a porta e indo ao outro lado me ajudar a levantar do banco e ir até a porta do hospital; a sala de espera estava praticamente vazia, e a única atendente do local, não me parecia muito disposta:
- Boa noite, eu preciso passar em um ortopedista, eu tenho que preencher algum tipo de ficha antes ou algo assim?
- Sim, essa aqui! – me mostrou uma ficha e me deu uma caneta, voltando a prestar atenção no rapaz bonitinho sentado perto dela.
-Ok! – sentei-me em uma das cadeiras e demorei pouco mais de um minuto para preencher toda a ficha, enquanto Sam permanecia calado ao meu lado.
Voltei até o balcão com a minha pequena dificuldade de locomoção, e entregando o papel a pessoa mal amada atrás do balcão:
- Agora é só aguardar! – falou e colocou a minha ficha em um envelope
- Ok! – sentei novamente ao lado de um Sam completamente esquisito. – O que você tem?
- Nada! – falou de forma simples e sem tirar os olhos da televisão que havia na sala.
- Sam, me fala!
- Você e aquele cara, o “Dan”... – imitou minha voz quando falou o apelido que usei para chamar o Danny
- O que tem? – me fiz de desentendida, esperando pela crise; Sam sempre tinha uma crise de ciúmes quando percebia que não era o único homem na minha vida, toda vez que eu arrumava um amigo, ele ficava bravinho e morrendo de ciúmes.
- O que ele queria no telefone?
- Saber como eu estava, se já tínhamos chegado ao hospital... Essas coisas! – dei uma risadinha quando eu vi seus olhos revirarem – Sam, sem crises de ciúmes, ok? – Ele fez bico e balançou a cabeça concordando.
cabeça concordando.
- Gostava mais quando você era minha só amiga! – falou com jeito de criança que me deu vontade de apertá-lo.
- Por quê? Agora eu sou mais que isso? – perguntei em tom de brincadeira, levantando a sobrancelha; ele me olhou, balançou a cabeça levemente, e sorriu.
- Bem que você queria né? – brincou, fazendo uma cara de galã mexicano e me fazendo gargalhar alto.
- Loucamente! – respondi, ouvindo meu nome ser chamado logo em seguida; ele me ajudou a levantar e fomos até a sala do médico.
Depois de alguns exames o médico me liberou, com o pé engessado e duas muletas; eu havia torcido o pé e trincado o osso, e agora estava de folga forçada por pelo menos uma semana, ou seja, Cath iria me matar!
- Legal, a minha chefe vai adorar saber que eu estou assim – apontei para o pé, tentando entrar no carro desengonçada.
- Hey, relaxa, ela vai ter que entender...
-Ou não! – completei a frase dele para mim mesma, enquanto ele estava dando a volta no carro para entrar no lugar do motorista. Ligou o carro e eu peguei o celular para avisar do Danny, que já devia estar começando a ficar preocupado.
Sam me olhou pelo canto do olho, tentando saber o que eu estava fazendo enquanto eu discava o numero da casa do Jake:
- Alô! – uma voz sonolenta atendeu, mas não era a do Danny
- Jake, seu filho da mãe! – gritei, ouvindo ele resmungar alguma coisa do outro lado – por culpa do seu gato eu estou com a perna engessada, e vou perder meu emprego – nada como um bom drama para assustar esse cretino.
-Aí... – cinco segundos pra pensar nos próprios atos, e eu com uma vontadinha de rir – Anne, eu... – mais cincos segundos – Poxa, eu... – ele tentou se desculpar
- Além de tudo você nem estava aqui para ajudar a me socorrer, e não quis voltar, porque estava “ocupado”!
- Annie, eu... Não dava tempo de voltar, mas eu... – não agüentei e comecei a dar risada, e ele ficou sem entender nada.
-Jake, primeiro você para de gaguejar, eu não pedir o emprego, mas realmente estou com a perna engessada, mas avisa o Danny, por favor, que estou voltando para casa, e que está tudo bem?
- Pode deixar e... Desculpa!
- Relaxa, Jake, depois a gente conversa, beijos, tchau! – ele se despediu e desliguei o telefone. Apoiei a cabeça no banco, respirando fundo; eu só queria chegar a minha casa e dormir. – Sam, você se importar deu descamar a entrevista amanhã?
- De jeito nenhum, Annie. Mas e a sua chefe?
- Com ela eu me viro, vou ter que ficar de folga de qualquer jeito mesmo! – ele afirmou com a cabeça e parou o carro na frente do meu prédio – Obrigada, Sam! – agradeci abrindo a porta do carro enquanto ele dava a volta para me ajudar a sair.
- Já estava sentindo falta desse seu jeito estabanado; foi divertido, apesar de tudo. – falou olhando para o gesso no meu pé.Não demoramos para estarmos na porta do meu apartamento, enquanto eu procurava a chave e tentava me equilibrar;
-Ajuda Annie? – neguei com a cabeça levantando a chave e balançando. Com toda a paciência do mundo Sam me ajudou a entrar, tirando os tapetes e coisas nas quais eu pudesse tropeçar do chão, despediu-se de mim e saiu me desejando ‘melhoras’.
Enrolei o pé em um saco plástico e fui saltitante até o banheiro, tomar um banho, e logo depois seguir para cama.
Dia seguinte, luminosidade no rosto, pé dolorido, despertador tocando e eu pensando nas formas de explicar para minha chefe que eu não iria há uma entrevista, nem tinha ido ontem, e que por isso não tinha uma pauta para entregá-la. Esfreguei os olhos me espreguiçando e estendendo a mão para baixo do travesseiro, pegar o celular: sete horas da manhã, revirei os olhos novamente.
Cath provavelmente não teria acordado ainda e, para piorar, eu teria que acordá-la; disquei fechando os olhos e torcendo para que ela não atendesse.
- Não, não, não – sussurrava baixinho, mesmo sabendo que isso não adiantaria nada
- Alô? – a voz sonolenta e a fala arrastada denunciavam o que eu temia, ela estava dormindo.
- Oi, Cath, bom dia! – desde quando eu tinha tanto medo dela a ponto de gaguejar – É a Annie.
- Hum, bom dia. – praticamente um grunhido.
- Cath, eu... – respira - eu torci o tornozelo e estou com a perna engessada; eu não vou conseguir realizar a entrevista de hoje, para a possível pauta, por isso eu desmarquei e...
- O Que? – nada parecido com um grunhido – Você sabe que existe um prazo para entregar essa matéria, não sabe, Annie? – respondi com um ‘uhum’ – e sabe que você está chegando bem perto do deadline, certo? - um ‘sim’ sussurrado da minha parte – que bom, eu espero uma pauta até segunda feira, em cima da minha mesa. – e tudo que eu ouvi foi um ‘tu, tu, tu, tu’.
Fechei o flip do celular e enterrei a cabeça no travesseiro gritando o mais alto que eu pude. Droga, eu tinha conseguido um bom emprego e já está estragando as coisas. Pior de tudo é que, a minha querida chefe ainda não sabia sobre a minha folga forçada, ótimo.
Levantei com dificuldade e sentindo um dor levemente incomoda no pé, fui saltitando até o banheiro, por preguiça de pegar as muletas e fiz o ritual da manhã. A cozinha foi meu próximo destino, frustrante devo dizer, afinal não tinha nada nos meus armários, teria de apelar para o apartamento vizinho.
Toquei a campainha sem nem me importar com o fato de serem pouco mais de sete horas da manhã; quem atendeu a porta foi Danny e a cara de sono mais fofa que eu me lembrava de ter visto:
- Bom dia, Danny! – sorri, falando animada e entrando no apartamento.
- Annie, que horas são? – ele coçou os olhos e bocejou, fechando a porta e se virando para mim.
- Hora de vocês acordarem para me alimentar... Não tem comida na minha casa. - ele acenou com a cabeça, indo ao banheiro e resmungando algo como ‘só me deixa lavar o rosto’; enquanto eu esperava, impacientemente, diga-se de passagem, comecei a perceber algumas pequenas mudanças na decoração desde a primeira vez que eu havia vindo até aqui.
Danny não demorou a voltar do banheiro, com uma cara mais animada e menos amassada, me pegando pela mão e levando até a cozinha:
- E então, Srta o que deseja para o café da manhã? – perguntou cortes, fazendo uma reverência exagerada e engraçada.
- O que o Sr tiver para me oferecer... – repeti a reverência sorrindo, e me desequilibrando de leve graças ao pé engessado.
- Vou olhar, só não faça essas gracinhas e quebre um braço! – me alertou brincalhão.
- Sim senhor, senhor! – bati continência e me sentei. Meu humor não estava dos melhores, mas era impossível não me divertir com Danny e toda a paciência que ele tinha comigo.
- Hum, acho que teremos de ir à algum lugar, aqui não tem nenhuma comida descente para uma mocinha como você! – fiz bico, entortando o corpo para tentar olhar dentro da geladeira, constatando que existia um queijo de procedência duvidosa, uma garrafa de água, cerveja e mais nada.
- Como é possível não existir comida na casa de um chef de cozinha?
- Pois é, casa de ferreiro, espeto de pau! – ele riu, estendendo a mão para mim e me ajudando a levantar- vamos, eu dirijo e a gente vai naquela padaria deliciosa que você adora.
-EBA! – dei um grito tendo a plena certeza de que não poderia parecer mais criança do que naquele momento. Depois de colocarmos uma roupa decente e termos algum trabalho para conseguir encontrar a chave do carro do Jake, já que o meu havia ficado no prédio da redação, nós seguimos em direção à padaria que eu tanto gostava.
Tinha descoberto aquela maravilha fazia algumas semanas, enquanto voltava do trabalho por um caminho diferente e morria de fome. Fachada pequena e verde de visual retro havia me chamado atenção. E em um dos dias, eu havia encontrado com Danny na rua e o arrastado até o lugar. (Nota da autora: Acabei de descobrir que a padaria da foto fechou, triste!)
O pão era feito da forma tradicional e não havia um único dia que eu tinha passado por ali em que não estivesse fresco. O atendimento era excepcionalmente feito por um senhorzinho, daqueles que te lembram um avô, cabelos brancos, olhos gentis e sua mulher, que fazia o par perfeito com ele.
Não demoramos para chegar e o Sr que eu não sabia nome veio nos atender prontamente:
- Bom dia! O que desejam hoje? – perguntou com sua voz baixa e delicada
- O que você me indica? - Danny perguntou
- A nossa especialidade!
- E o que é a especialidade de vocês? – perguntei curiosa
- Só trago se vocês aceitarem a surpresa. – ele disse sorrindo e eu concordei com a cabeça;
- Você já pensou se a especialidade for uma coisa bizarra e ruim? – Danny perguntou de forma exagerada e indignada.
- Você já pensou se não for? – retruquei levantando a sobrancelha.
- Que fique bem claro que você vai experimentar a gororoba primeiro... – concordei rindo, e engatamos uma conversa sobre qualquer coisa banal.
Quando a ‘gororoba’ chegou o cheiro era muito bom, e parecia um tipo de pão, com uma massa folhada e leve, recheado de queijo, mas não parecia nenhum queijo que eu já havia comido, e o acompanhamento era um café, mas ele tinha um toque de alguma coisa que não conseguia identificar, era delicioso. Danny decidiu provar depois de ver a minha cara de ‘huum’.
- E então? – perguntou o velhinho.
- Delicioso! O que é?
- Segredo! – disse com uma risadinha e saiu andando.
Abri a boca indignada enquanto o idiota ao meu lado ria de mim, mas, naquele momento, a fome era maior do que a curiosidade, por isso teria que ficar para outra hora. Comemos quase quietos, ocupados demais em sentir o gosto da comida, até eu ser surpreendida por meu celular, que gritava junto com o nome da minha chefe no visor, droga;
- Annie, você vai ficar sem vir trabalhar? - ela só tinha percebido isso agora, e eu ouviria muitas coisas desagradáveis.
- Cath, o médico recomendou que eu ficasse, pelo menos, uma semana em casa... – falei devagar
- VOCÊ FICOU LOUCA? – outch, meu ouvido.