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Era meu namorado

@erameunamorado / erameunamorado.tumblr.com

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"O meu caso não se compara com os dramas vividos por mulheres que são agredidas fisicamente, mas é um caso de relacionamento abusivo com todas as características de agressão psicológica. Resolvi escrever aqui como um desabafo e principalmente como um alerta e reconhecimento, é difícil as pessoas perceberem comportamentos abusivos como agressão e reconhecer seus males, no entanto é muito mais comum nas relações íntimas do que se imagina e tem graves consequências, tais como o suicídio. Fiz questão de descrever vários fatos, todos abusivos e muito comuns no dia-a-dia de nós, mulheres, e não encarados como violência, mas reconheçam! Foi um relacionamento curto de 8 meses, mas o suficiente pra escrever uma história triste. Eu o conheci num momento frágil, onde eu estava buscando me encontrar. Nunca tive relacionamentos heterossexuais afetivos com sucesso, e antes dele tinha resolvido experimentar um homossexual pra tentar a sorte e não tive. Quando o conheci estava revoltada, dando pra todo mundo. O conheci na casa de uma amiga, onde ele estava dividindo apartamento. No começo neguei as investidas dele, mas, como uma mulher carente e devido às insistências, resolvi nos dar uma chance. Transamos de primeira, afinal o que eu queria era transpor as minhas regras, os meus padrões. Dormi na casa dele por muitos dias, e isso pra ele configurou um relacionamento sério, eu não queria isso pra mim, não queria me limitar, o objetivo era experimentar, me conhecer, mas a ‘força de vontade’ dele era tanta que ele conseguiu. Num determinado momento do meu relacionamento essa transa de primeira virou motivo pra ele me chamar de puta, de ele dizer pra mim que eu não era digna de respeito, que ele quis assumir a relação comigo somente porque já estava apaixonado, mas que, se fosse outro homem, já teria me descartado. Ele me ofendia desse jeito, não respeitava as minhas decisões, não sabia lidar com as diferenças – ele enxerga a buceta como algo "sagrado" – eu não. De outra vez ele descobriu invadindo meu facebook que eu tinha transado com outro rapaz na mesma época em que eu ficava com ele, numa viagem que fiz. Tirou tudo o que era meu do quarto dele e me mandou embora pra minha casa. Acusou-me mais uma vez de inúmeras coisas, como traição, desrespeito com ele e comigo mesma, inclusive – porque fazendo isso eu me tornaria uma desclassificada, desprezada pela sociedade –, acusou-me de burra porque eu tinha um homem diferenciado e não sabia reconhecer isso. Eu não devia explicação nenhuma a ele, o corpo é meu e eu faço dele o que quiser, mesmo se isso fosse considerado uma traição eu não merecia ser tratada como uma "coisa", erro maior ele cometeu invadindo a minha privacidade. Eu voltei pra casa dele depois, e ainda o pedi em namoro – ele me convenceu de que era diferenciado quando jogou na minha cara tudo o que tinha feito por mim – tinha me dado proteção, de maneira útopica, é claro, ele me protegia do mundo que não me tinha como "alvo", mas ele me fazia alvo do egoísmo e do machismo dele; do carinho que ele tinha comigo que chegava a ser sufocante; da indulgência comigo – porque nenhum homem trataria uma ‘puta’ com tanto afeto. --- Outro episodio nesse mesmo relacionamento foi quando eu decidi sair com os amigos da minha ex-namorada e que também eram meus amigos. Enquanto ainda estávamos dormindo, ele teve um surto, levantou da cama já gritando, eu acordei desesperada, completamente assustada, ele gritava que sabia tudo que ia acontecer, que eu achava que ele era um idiota, mas eu ainda era ‘muito faixa branca’ para consegui isso com ele. Gritou que sabia que, quando eu saísse com eles, eu dormiria por lá, e que, do jeito que eu era, terminaria transado com alguém da mesma maneira que eu transei com o outro quando viajei. Ele disse que não confiava em mim e que isso era tudo culpa minha, porque antes ele tinha me dado uma oportunidade de me mostrar confiável mas eu fiquei com outro cara. Dessa vez ele se exaltou tanto que jogou um banco de madeira na direção do guarda-roupa, eu não sabia o que fazer, fiquei atônita, queria sair correndo dali, mas tinha muito medo do jeito que ele podia reagir caso eu me levantasse, só conseguia pedir que ele parasse, o meu único argumento era dizer ‘pare, eu não vou mais, se você não quer, eu não irei’, mas ele não parou! Abriu a porta do guarda roupa e jogou todas as minhas coisas no chão (isso ainda me esculhambando). Eu não entendia o porquê dessa reação, ela não tinha fundamento, não fazia sentido – nós estávamos bem, tínhamos ido dormir agarrados depois de trocarmos carinho – o que podia ter acontecido? Ele ficava andando de um lado pro outro, como se tivesse tomado por um ódio desmedido e eu torcia pra que os pais dele percebessem a situação. Em seguida ele abriu a porta, pegou um monte de sacola e me mandou juntar tudo porque eu iria desaparecer da vida dele, porque ele não aguentava mais viver perturbado com a possibilidade de ser traído, porque desde a minha viagem ele tinha perdido a paz. Quando comecei a catar minhas coisas no chão, me desabei em lagrimas, foi a maior humilhação da minha vida, nessa hora a mãe dele apareceu pra saber o que estava acontecendo, eu achava que ele ia se intimidar com a presença dela, mas ele continuou me ofendendo e num determinado momento saindo do quarto disse: tira essa menina da minha frente se não eu faço uma besteira. Nessa hora eu pensei que ele fosse me matar, ele estava muito inquieto. Consegui ligar pra minha mãe, com a ajuda da mãe dele, e avisar que eu estava indo embora pra ela me receber porque já estava tarde (a briga durou até a madrugada) quando peguei o telefone pra ligar pro táxi, ele puxou da minha mão e disse que eu não ia pra canto nenhum, que eu tinha obrigação de me explicar e fazê-lo esquecer isso. Eu me desesperei, eu não aguentava mais, aquilo era tortura, minha cabeça, minhas orelhas já estavam pegando fogo, mas com medo eu fiquei, conversei e ele se acalmou, mas pediu que eu dormisse lá porque não queria que minha mãe pensasse mal dele tendo me expulsado de lá na madrugada. No outro dia, com as malas ainda prontas, me aprontei pra ir embora, eu estava decidida que não tinha mais condições, mas não adiantava eu estar decidida se eu tinha MEDO dele, medo da voz, medo dos movimentos, medo de morrer. Quando ele me viu pronta começou tudo de novo, os gritos, os choros, as agonias, até se jogar no chão, ele se jogou – era como uma criança mimada, só que, dessa vez, ao mesmo tempo em que ele dizia que eu era uma vadia, me pedia pra ficar. Eu só queria acabar com aquilo, resisti nos primeiros minutos, argumentei que só queria ir em casa espairecer, ter colo da minha mãe, e depois voltaria, mas ele não queria aceitar, disse que sabia se eu saísse não voltaria mais. Por medo, mais uma vez eu fiquei. --- Um terceiro episodio foi em um sábado à noite em que fomos à casa de uma amiga dele. Éramos quatro casais, uma reunião íntima com bebidinhas e comidinhas. A música era o som de um notebook. Fazia tempo que eu não me divertia, estava decidida a isso, ainda mais porque essa amiga tinha o mesmo gosto musical que eu, e as minhas músicas dentro do nosso quarto não tinham vez. Comecei a beber, a dançar e a conversar com as pessoas, uma coisa atípica em muito tempo, eram pessoas que pertenciam a um mundo que eu gostaria de pertencer, mas eu me privava porque ele sempre me dizia que ‘isso é bom agora quando tu estás nova, mas depois quando tu procurar um sentido não vai encontrar’, que ‘sabia que não era essa vida que eu queria, que na verdade eu não era aquilo, eu só era fraca e influenciável' – eu me forcei a acreditar nisso tudo. Depois de dançar, fui ao banheiro e ele foi atrás de mim, entrou no banheiro e pediu que eu parasse de dançar porque o namorado da menina estava olhando demais pra mim. Eu estava dançando muito inocente – era uma casa com somente mais três casais conhecidos – pedi que ele deixasse de besteira porque eu queria dançar, e, mesmo com medo, dancei. Percebia que ele me olhava o tempo todo recriminando a minha felicidade. Ele já estava ficando tenso, mas decidir que hoje era o meu dia de diversão, e foi, mas só até o momento que chegamos em casa. Ele disse que eu estava dançando pra seduzir o namorado da outra menina, que eu gostava dessas situações, e que mais uma vez eu tinha exposto ele de maneira ridícula na frente de todo mundo, que todos tinham percebido e ele tinha ficado com nojo de mim – não era verdade nada disso, nessa época eu mal sabia se ainda o queria, quanto mais me entregar a outro. Nesse dia eu estava mais ao meu favor e rebati tudo o que ele dizia, e num determinado momento, quando ele disse que não sabia o que fazer comigo eu gritei pra ele me matar; eu disse: ‘faça isso agora! Não foi isso que você disse que faria comigo da última vez, me mate porque eu já não suporto mais nada disso’. Nessa hora, ele apertou o meu braço e me sacolejou pedindo que eu calasse a boca pra não acordar os pais dele, e que se isso acontecesse seria pior pra mim – eu não me calei porque os xingamentos também não pararam. Ele entrou no chuveiro e eu fui atrás, ele me deu um empurrão que perdi o equilíbrio, eu estava bêbada, mas não foi só por isso. Nessa mesma madrugada liguei pra minha mãe avisando que iria voltar pra casa, era isso o que eu precisava fazer, mas não foi isso o que eu fiz. Ele começou a se vitimizar, conseguiu inverter o jogo e eu me senti culpada – porque eu poderia ter evitado aquela situação se tivesse atendido ao pedido dele, eu poderia ter me privado a leveza de um momento feliz para mantê-lo em ordem temperamental, eu não pensei em preservar o meu relacionamento, então, eu errei. No outro dia a briga continuou, muitas acusações, muito medo e um psicológico extremamente ferido, era tanto medo de morrer que eu me anestesiei. Enquanto ele me ofendia, eu pedia calma, ele estava transtornado, queimou todas as nossas cartinhas de ‘amor’ – jogou álcool e tocou fogo – todas as vezes que ele saia e entrava no quarto eu pensava que ele voltaria com uma faca na mão pra me ferir, o nervosismo e a atenção foi tão grande que eu passei a vomitar muitas vezes seguida, eu estava tonta, com a minha cabeça fervendo e eu só queria ser salva, mas ninguém podia fazer nada, só eu mesma. Depois que eu vomitei ele saiu de casa e voltou com duas lasanhas na mão pra almoçarmos, e me obrigou a comer. Era assim sempre, depois das brigas ele fingia que nada tinha acontecido, que nem eu nem ele tínhamos nos magoado. Ele deletava tudo da memória dele e me tratava como se eu tivesse feito o mesmo. A decisão final foi quando, num fim de semana, ele ficou acordando nas madrugadas do nada porque sonhava comigo traindo ele e perdia o sono. No primeiro dia ignorei, mas no segundo dia fiquei pensando que, num acordar desses, ele podia achar a faca que eu tinha escondido e me fazer mal. Passei a acreditar na realidade disso, que existia essa possibilidade comigo também, não era só com as mulheres em capas de jornais. Fui trabalhar e passei no banco, senti falta de dinheiro – ele tinha pegado meu cartão e sacado dinheiro sem me pedir. Quando cheguei em casa liguei pra ele e coloquei um fim. Sim, liguei, esqueci essa ideia de bons modos porque ou eu me arriscava a apanhar ou eu me defendia, e eu escolhi me preservar. Foi muito drama, muito choro, muita cobrança. Os filhos que eu prometi e não os dei, a desconsideração por ter sido por telefone, a injustiça por ser com alguém que só me ama; foram muitas promessas de mudanças e transformações, juras de tratamento espiritual e psicológico, mas eu não acreditei, tinha tomado a minha decisão. De lá pra cá foram muitas ameaças, muitas privações, as correntes ainda não foram rompidas. Todos os bens que adquiri nesses meses que passei na casa dele ainda continuam lá, pois ele só me devolveria se eu fosse pessoalmente buscá-las, e eu jamais me arriscaria tanto. Tenho medo de encontrá-lo por aí, não sei o que isso pode despertar em mim, muito menos nele. Fui agredida, chantageada, abusada, perseguida, roubada e humilhada pelo homem que me fez sonhar, desconstruir esses sonhos e me desapegar do desejo de 'dar certo' é difícil, traz sofrimento. Desarticular os mecanismos que me faziam vê-lo sempre como vítima dos problemas familiares, vítima dele mesmo e de mim é um trabalho árduo de conscientização. Acreditar que eu não tinha uma MISSÃO a ser cumprida, nem a obrigação de resgatar ninguém da marginalidade e que eu não preciso me frustrar porque não consegui êxito em melhorá-lo é complicado. Hoje, depois de quase três meses, ele já tem outra pessoa, que, assim como eu, se tornou instantaneamente o amor da vida dele (coitada). E mesmo com tudo isso, eu ainda me inferiorizo, e me assusta a possibilidade dela conseguir transformá-lo e eu não – eu teria sido incompetente. Ao mesmo tempo em que eu saio do lugar de vítima para 'autora' quando busco justificar o comportamento dele, eu me encho de ódio de mim mesma por isso, me sinto burra e fraca. Sinto ódio dele também por me fazer viver todo esse caos e esses conflitos. Perdi tempo, perdi autoestima, perdi a paz de espírito e perdi a capacidade de me sentir limpa de coração – porque saber que ele já reconstruiu a vida e que eu ainda estou aqui presa a todos esses fatos me faz querer vingança, não por mim, mas pela vida."

Anônima.

Resposta da página:

Muito obrigada pelo envio do seu relato. A violência psicológica também é uma agressão, também prejudica, fere e mata mulheres todos os dias. E nessas situações, quando estamos vivendo um relacionamento abusivo psicologicamente, é extremamente difícil dar conta de que aquilo é errado, que é uma violência sim e que o outro é um agressor. Ele te ofende? Ele justifica ofensas como "punição" pelo seu comportamento? Ele te humilha? Ele mina sua autoestima? Ele te ameaça? Ele te faz sentir medo? Se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for 'sim', significa que sim, seu relacionamento é abusivo e ele é, sim, um agressor.
Você fez muito bem em sair dessa, romper com ele e se afastar. Não se sinta culpada por NADA. Você não 'demorou' a sair da relação por escolha própria, você saiu no tempo que você pôde sair, dentro do seu nível de consciência sobre o que estava acontecendo. E agora, o movimento é continuar pesquisando sobre seus direitos e ajudar outras pessoas, como você está fazendo. Na luta contra o machismo, não podemos deixar de cuidar umas das outras. A competitividade entre mulheres não é 'biológica' como tentam colocar; ela é uma construção cultural, e precisamos quebrá-la para melhorar nossas condições de vida. A nova namorada dele, provavelmente, também será vítima do comportamento abusivo que ele possui. Lembre sempre de que: quando um homem é machista, ele está tirando vantagem disso; quando uma mulher assume uma postura machista, ela não tem vantagem alguma, pelo contrário: ela tolhe a própria liberdade, se restringe e apenas se prejudica.
Apenas mais um comentário: não é responsabilidade das mulheres "consertar" a violência dos homens. Se ele foi violento com você, a culpa não foi, de modo algum, sua. Não foi você quem "não conseguiu" fazer com que ele não fosse violento; foi ELE quem FOI VIOLENTO, essa culpa e essa responsabilidade é absolutamente DELE, e você apenas participou disso na posição de VÍTIMA. Nunca se esqueça disso!
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"Olá! Então, só peço que preservem o anonimato, pois minha cabeça anda confusa demais e preciso desabafar. Enfim, em menos de uma semana para cá, estava conversando com um amigo e acabei contando uma história que contarei aqui. E na minha inocência contando, não me liguei na gravidade da coisa, até que ele disse: "tu foi estuprada". Confesso que a partir daí, minha mente anda perturbada demais e tentando entender de fato o que aconteceu, já havia comentando com uma amiga há uns meses atrás e ela me falou: "mas isso foi abuso" e eu não dei bola. Mas depois que ouvi aquilo do meu amigo, na semana passada, comecei a analisar mais a história e foi caindo a minha ficha. A sociedade machista te manipula direitinho, incrível. Não comentei com mais ninguém pq nunca soube direito o que aconteceu, fica sempre aquela incógnita, sabe? Mas enfim, ocorreu em dezembro de 2012, há pouco tempo atrás. Estava em uma festa open bar, uma bem famosa que tem na minha cidade e como o próprio nome já diz, tinha a bebida a vontade. Bebi cerveja, vodka com energético e tequila, daí já viu e confesso que sou fraquinha para bebidas, mas até aí estava tudo bem, estava curtindo a festa com as minhas amigas, no nosso grupo dançando, até que a festa acabou e isso já eram mais de 7h da manhã, quase 8h na verdade. Saímos da festa eu, uma amiga e uma conhecida, íamos pegar um táxi, até que essa conhecida nossa encontra uns amigos de carro (que nem estavam na festa, só estavam lá na frente) e fala: "vamos de carona com eles, assim a gente não gasta de táxi" e naquela 'vibe' da bebida nem negamos, fomos. Dentro do carro estava um sujeito que não conhecia e um amigo dele, esse amigo eu já conhecia de outras festas. Essa minha conhecida como morava muito longe iria dormir na minha casa, então eles deixaram minha amiga em casa primeiro e depois iam deixar nós, já que íamos descer no mesmo lugar. Então como o previsto ficamos por último, pq não quis deixar minha amiga sozinha com eles. Estávamos dentro do carro, indo para casa e fui orientar o que estava dirigindo para nos deixar em casa e falei: "agora é só seguir reto" e ele dobrou, comecei a achar estranho e tenso ao mesmo tempo, mas naquela adrenalina e como estava 'mole' da bebida, fiquei meio sem reação, mas mesmo assim falei: "nããããooo, já são quase 9h da manhã, preciso ir para casa, faz a volta, pq se não meu pai vai me matar" e eles só falavam: "vamo para casa gurias, tá calor, vamos tomar um banho de piscina" e eu falando que queria ir para a casa, mas não adiantou. Descemos do carro e eu visivelmente alterada acabei ficando com o carinha (esse que nunca tinha visto na vida), mas isso aí na rua, daí falei: "tá, agora tu me deixa em casa, se não meu pai vai me matar, tenho que ir para casa e não é só pelo meu pai, eu quero ir para casa também", mas nada adiantava, até que ele me pegou no colo e me levou correndo para dentro de casa, já estava entendendo onde ele queria chegar, mas poxa não é só pq dou um simples beijo no cara que já quero e já vou sair transando, não é assim que funciona. Não, eu não queria transar, na verdade não queria nem beijar ele, não lembro direito, quando vê já estava beijando, uma coisa muita louca, que só quem já ficou altamente alcoolizado sabe do que estou falando. Quando ele me levou no colo para dentro de casa, eu gritava: "nãããããooo, voltaa, sério, não quero fazer nada, eu quero ir para casa", até que ele entrou em um quarto, acredito ser o quarto dele e me jogou na cama, só que eu estava inerte, daí ele veio por cima de mim me beijando e eu pedindo: "me deixa em casa, por favor, não quero fazer nada, nem te conheço" e ele dizia: "eu sei que tu quer", mas eu não queria pooo, não lembro de muita coisa que ele falou e que eu falei e essas cenas quem me vem na cabeça são flashes, sabe? Até que eu apaguei na cama por uns segundos ou minutos, não sei ao certo, eu estava de saia, quando acordei, ele estava arredando minha calcinha e tentando me penetrar, e eu dizia: "não, por favor", só não entendo pq eu não reagi? Pq eu não bati nele? Pq eu não tentei sair correndo naquela hora? Pq? Pq? Esses 'pq' me deixam louca. Pq se eu tivesse sóbria eu reagiria a isso, tenho certeza, eu me conheço, já aconteceu de os caras passarem a mão em mim em festa eu sentar a mão na cara, pq eu faria diferente? Ainda mais nessa hora. Mas nossas atitudes mudam quando estamos bêbadas, ficamos mais vulneráveis, ou seja, não sabemos o que está acontecendo direito, a gente não quer, mas não tem força para reagir. Mas voltando, pedi para ele parar e ele achava que eu estava consentindo, mas não, eu só queria fugir dali, mas não tinha forças, não sabia direito o que estava acontecendo, estava muito tonta, muito embriagada. E ele dizia que sabia que eu queria, até que ele conseguiu me penetrar e na época eu tinha feito poucas vezes, então me doía um pouco ainda e era meio difícil a penetração, acordei com ele me "cutucando", tentando me penetrar, até que ele conseguiu e eu meio dormindo e meio acordada, acho que fiquei imóvel, eu não lembro direito o que aconteceu, fica tudo muito confuso quando tento lembrar, só lembro de tentar sair e ele me segurar forte e não deixar eu levantar, lembro dele me segurando para não me mexer, para não sair dali, só lembro dessa minha reação, de tentar escapar e ele não deixar, achando que eu estava gostando, mas eu nem sei direito o que aconteceu, como eu ia querer? como eu iria estar gostando? Enfim, até que eu atinei e falei: "deixa eu ir por cima" (pq eu queria escapar dali mesmo ou tentar) daí ele me colocou em cima e eu caía, literalmente, lembro dele me penetrando e mandando eu me mexer, mas sei lá eu o que estava fazendo, a minha intenção é quando fosse por cima, ameaçar que ia fazer algo e fugir porta fora, então caí na asneira de falar: "tenho que ir embora agora, é sério", então ele viu que eu ia sair e me segurou pelos braços e mandava eu continuar me mexendo e eu tentando me soltar, até que minha conhecida, bateu na porta ou janela e falou: "teu pai tá te ligando, vamos embora", e eu dizia: "viu, eu falei" e parece que não adiantava, então me veio uma luz e falei: "não é eu que estou por cima? deixa comigo então", até que ele 'caiu como um patinho', me soltou e achou que eu ia 'mandar ver', mas sai dali correndo, abri a porta e me mandei. O cara ainda luta, ou seja, não tinha e nem tenho a menor chance contra ele, homens geralmente já tem mais força que as mulheres, ainda quando bebemos ficamos mais frágeis e ainda o cara luta, sem chance alguma com uma pessoa assim. Mas enfim, depois do ocorrido eles ainda nos deixaram em casa, não lembro direito do trajeto. Quando chegamos em casa minha conhecida me perguntou: "Vocês transaram?" E eu dizia: "Não sei, não sei a resposta certa, não sei o que aconteceu, se eu quis ou não, simplesmente não sei te responder". Ela não entendeu e nem eu. Depois disso fui para o chuveiro caindo de bêbada, lembro que a minha conhecida ainda me ajudou pq estava muito mal, não parava em pé direito, eu só queria tomar banho, pq estava me sentindo 'suja', mas era aquela 'sujeira da alma', sabe? Queria me 'limpar' de algum modo. Depois do banho me deitei, ainda por cima com a cabeça para o fundo dos pés da minha cama, não lembro disso, mas sei pq acordei assim ou quem sabe fiz isso dormindo, no estado que eu estava. Daí vocês imaginem o meu estado. No outro dia acordei com MUITA ressaca, obviamente, fui mexer no note, abri meu face e estava a solicitação de amizade dele no meu fb, ele ainda veio falar comigo e na maior cara de pau ainda disse: "não sei se tu lembra o que aconteceu noite passada, não sei nem se tu lembra de mim", ou seja, a criatura tinha TOTAL noção do meu porre e ainda assim teve coragem de fazer o que fez. Um ano e meio depois e estou aqui, depois do meu amigo ter me dado 'a real', que eu estou tendo noção do que aconteceu. Fiquei esse tempo todo, confusa, confesso que não contava ele, quando surgia aquela famosa pergunta em grupo: "Com quantos tu já se relacionou?" Pq fica SEMPRE aquela incógnita, aquele vácuo... Pior que ainda vi ele em duas festas depois e conversei com ele, achando que eu tinha consentido só pelo fato de estar bêbada, de estar mais 'facinha' (como a sociedade prega), ou seja, mais vulnerável. Fico me perguntando, será que a culpa não é minha? Eu até disse que não queria, mas pq não reagi? Parece que eu quis, mesmo não querendo, parece que eu deixei, mesmo não deixando, só não mostrei reação, no outro dia ainda te bate aquela 'ressaca moral' e tu acha que tu foi A culpada, que tu foi A fácil, te arrepende de ter "feito" isso, achando que tu consentiu também, mas na hora não me lembrava, depois aos poucos fui me lembrando do que aconteceu e me dei conta. Eu disse que não queria, lembro dele me segurando, não deixando eu me mexer, eu dormi e quando acordei estava sendo penetrada, como que isso não é abuso? (Embora a minha cabeça às vezes fique dizendo que isso não é abuso, que é a coisa mais normal do mundo e que quem está na chuva é para se molhar) Pq minha ficha não caiu antes? Pq só me dei conta um ano depois? Já tinha dificuldade de confiar e me apegar nos homens antes (mas esse era o meu jeito, sempre foi), mas depois do ocorrido não consegui confiar e me apegar em homem NENHUM! Algo errado tem! Sei que não dá para generalizar, que nem todos são iguais, mas... simplesmente não consigo, não tem jeito. Peço que me ajudem, pq ainda estou confusa, fica o famoso 'anjinho' e o 'diabinho' martelando na minha cabeça, uma hora vem um e diz: "não, tu não foi estuprada nada, ninguém mandou tu beber, a culpa é TODA tua, aceita" e outra hora vem outro e diz: "o que tu sofreu foi abuso, tu precisa de ajuda, isso não é normal". O pior é que o cara não tem a mínima noção do que fez, ou se tem, passou pela cabeça dele que ele possa ter feito algo errado (mas no máximo isso) pq eu estava bêbada, mas que ele não fez nada de mais, que foi algo "normal", se foi estupro, ele não sabe que foi o estuprador, isso que me deixa com mais medo e cada vez mais frustrada. ME AJUDEM, pq não sei em qual dos dois acreditar, na verdade, acho que agora me dei conta que foi estupro, mas não quero acreditar. Estou sem chão, estou travada, não consigo colocar para fora, não consigo reagir, estou me sentindo de mãos atadas. O que aconteceu realmente? Me ajudem, por favor! Meu amigo disse que foi burrice minha não ter denunciado pq foi estupro, mas na hora não me liguei mesmo. Pq custa taaanto tempo assim para gente cair a ficha? Hein? Se pudesse voltar atrás, teria denunciado, mas agora não tenho o que fazer. Não consigo confiar mais nos homens, depois disso eu acho que todos ou quase todos só querem se aproveitar de mim e depois largar fora, isso tem a ver com que passei? Desculpem pelas mil perguntas, mas tô precisando de ajuda, de respostas e aqui foi o único meio para recorrer! Desde já agradeço e desculpem pelo texto gigaaante, se tivesse que escolher não queria estar falando sobre isso :s Estou me sentindo assim: "Sorrindo por fora, chorando por dentro." Me ajudem, obrigada! "

Anônima.

Resposta da página:

Moça, você foi estuprada sim. As pessoas custam a entender que estupro não é só quando você anda sozinha por uma rua escura e um desconhecido te ataca enquanto você, SÓBRIA, grita e tenta empurrar ele pra fora de você. Na verdade, essa é a menor parte dos estupros que ocorrem. A maior parte é com conhecidos (namorados, ficantes, maridos, familiares). 
Duas coisas MUITO importantes: Não, você não teve culpa; e não, você não foi burra por não ter denunciado. As coisas não são simples assim. O que aconteceu com você foi um crime, uma violência. É mais que normal levar tempo (meses ou às vezes anos) para as vítimas se darem conta de que foram estupradas, até porque nós não recebemos instrução sobre isso durante toda a nossa vida, nas escolas e nas nossas casas. Não aprendemos que nosso corpo é nosso e nós que decidimos sobre ele; não aprendemos que bebidas ou roupas não fazem de nós pessoas que "pedem para ser estupradas", que não existem pessoas que pedem para ser estupradas porque estupro é quando não há consentimento (mesmo que isso não seja declarado verbalmente). A única saída desse cenário é o feminismo, que conscientiza as mulheres sobre seus direitos (direitos que deveriam ser óbvios, mas estão muito longe de serem reconhecidos e vividos na realidade).
Meu conselho para você é você não se culpar, e ler sobre feminismo que ajuda muito nesse momento de reconhecimento da violêcia que você sofreu e que nós sofremos, todos os dias. 
Saiba que você não está sozinha, essa luta é nossa. 
Força, e um forte abraço!
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Há mais ou menos um ano encontrei o blog Escreva Lola Escreva (http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/). Muitas mulheres relatam casos horríveis de abusos que sofreram. Não sei porque, mas algo nesse blog me prendeu. Durante quase um ano, visitei esse blog diariamente. Em algum post tinha um link para esse tumblr. Passei um dia sentada no computador e li TODOS os posts. E fiquei chocada. E entendi o que me prendia nesses relatos tristes: Eu fui estuprada. Mas neguei tão bem negado que simplesmente não pensava nisso. E eu fui estuprada pelo meu namorado. E ninguém me contou que isso existia. Que estupro não era só daquele cara estranho desconhecido no beco escuro. Namorados estupram namoradas. Eu tinha 16 anos e ele 21. Eu tinha acabado de deixar as bonecas de lado e não sabia nada sobre sexo. Fui criada em família religiosa e pensava que sexo era só depois do casamento. Tudo começou de forma muito sutil. Numa hora ele falava que me amava, logo depois me pressionava para transar. Ingênua, concordei. Como eu morava com meus pais e ele muito longe, não tínhamos um lugar para momentos íntimos. Então eu fiz uma única exigência: que a minha primeira vez fosse numa cama. Acho que não pedi muito, né? Um dia ele foi me deixar em casa e me levou para a escada de incêndio do meu prédio. Já tínhamos ido antes mas só para beijar e fugir do olhar curioso dos porteiros. Ele passou a mão dentro da minha calcinha. Eu tirei. Ele colocou de novo. Eu tirei. Ele disse que não ia fazer nada. De repente senti uma dor. Uma pressão. Não entendi. Olhei para baixo. Meu jeans estava todo sujo de sangue. Meu allstar branco estava sujo de sangue. Eu estava numa poça do meu próprio sangue. Olhei assustada para ele. E a única coisa que eu consegui fazer foi pedir desculpas. Desculpa por estar sangrando. E comecei a chorar de desespero e vergonha. Fui correndo para casa e não sei como meus pais não viram que eu estava toda suja. Tomei banho histericamente. Me lavava e chorava. E não entendia o que tinha acontecido. Liguei o computador para ler sobre perda de virgindade. Se era normal sangrar tanto assim. E ele veio falar comigo no chat. Me mandou um poema. Até hoje, quase nove anos depois, me lembro do último verso: "baby, apesar de tudo a noite foi ótima". Me lembro que fiquei com muita raiva e confusa, "como assim ótima, ele não deveria me pedir desculpas?". Mas ele me tratou no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. E eu não falei mais nada. Namorei mais um ano e meio com ele. Sempre que minhas amigas me perguntavam como foi a minha primeira vez eu inventava uma história linda e romântica. E na história eu sempre mencionava uma cama fictícia. No dia em que terminamos, fui abusada pela segunda vez. Eu tinha percebido que ele estava a fim de uma outra menina e queria conversar sobre isso. Ele me puxou para um canto e forçou um boquete. Tentei me soltar mas ele segurava minha cabeça com força. Tínhamos saído da praia e aquele cheiro de maresia com gozo me dava náuseas. Ele me deixou em casa em silêncio. De noite ele me ligou e terminou por telefone. Depois desse namoro, fiquei fora de mim. Fiquei com vários homens e machuquei muito eles. Me arrependo de muitas coisas que fiz nessa época, muitas pessoas que machuquei. Queria poder contar para elas o que eu passei, tentar fazê-las entender, mas não sei muito como. Assim que eu começava a ver que eu estava gostando de alguém ou que alguém estava gostando de mim, eu surtava e ficava com outra pessoa. Demorei muito para conseguir me relacionar, amar e deixar alguém me amar. Hoje em dia tenho um namorado incrível que me respeita. Somos acima de tudo, melhores amigos. No dia em que eu entendi tudo, em que eu tive coragem de me olhar no espelho e falar para mim mesma, eu fui estuprada, eu chorei muito. Mas eu me entendi. Eu me libertei. Obrigada a todas por compartilharem seus relatos. Mas infelizmente, volta e meia ainda sinto cheiro de maresia com gozo e quase sempre acabo vomitando.

Anônima.

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"Bem… Oi. Leio os relatos e não consigo parar de ler, não consigo parar de me sensibilizar com o que todas essas mulheres, meninas, o que todas passam ou passaram. Estou há cerca de UM MÊS tentando decidir se envio ou não envio minha história, são coisas que morro de vergonha de falar, então acabei por decidir que sim, mas estou criando forças pra escrever sobre isso. Minha história infelizmente é um pouco mais comprida que o normal, aconteceram infinidade de coisas que infelizmente eu passei e inclusive, evito contar até para as pessoas mais próximas, porque sempre preciso escutar o comentário "pra acontecer esse tipo de coisa tantas vezes será que o problema não está em você?". Bem, para que vocês entendam, vou falar que meu nome é Clara. (nome fictício) Eu sou lésbica. Sempre fui, só demorei a compreender o que eu sentia. Na época que eu era mais nova, sempre havia perguntinhas dos parentes sobre os "namoradinhos". Mesmo que eu fosse nova, as minhas amiguinhas já trocavam beijos e eu me perguntava porque eu não sentia a menor vontade disso. Eu era desenvolvida pra minha idade, então sempre percebia olhares dos garotos mais velhos e comentários sobre quando eu crescesse. Isso não chegava a me incomodar, exatamente, mas eu me sentia um pouco como um pedaço de carne. Uma vez, com 9 anos, estávamos todos brincando de esconde-esconde. Eu estava escondida, quando o irmão da minha coleguinha, que devia ter uns 13 ou 14 anos, chegou do meu lado. Ele me beijou e, sem que eu entendesse muito bem o que tinha acontecido, puxou meu short pra baixo e em seguida o dele próprio, me violentando por trás. Eu lembro de tudo o que aconteceu, mas não me recordo das sensações físicas: se senti medo, se senti dor… Lembro de um diálogo em específico, em que eu disse: “Ta bom, chega”, que recebi em resposta “Perai, só mais uma vez”. Depois disso, acredito que seguindo o pensamento machista de que todo homem tem que ser comedor, ele saiu espalhando que havia “me comido”... Simplesmente, as crianças começavam a me ameaçar, “Não quer emprestar sua bola? Vou contar” e quando me dei conta o bairro inteiro sabia e passei a ter uma péssima fama. Acho que nunca ocorreu a ninguém que eu tinha 9 anos, portanto, nenhum impulso sexual. Então, entrei em pânico: eu mesma fui lá e confessei pra minha família parte de pai (meus pais estavam recém separados) o que tinha acontecido. Não, eu não recebi apoio. Eu fui proibida de sair de casa e isolada de todos os meus amigos, precisei me confessar ao padre. Passei muitos anos me culpando do que aconteceu, achei mesmo que eu era “safada”, mesmo sendo uma criança, achei que eu era suja e que tinha obrigação de ter gostado daquilo, porque “mulher gosta mesmo, só se faz de santa”. Então, quando pessoas me perguntaram se eu tinha gostado, eu respondia que sim. E morro de vergonha de confessar isso hoje, é a primeira vez que menciono esse detalhe, porque me envergonha. Eu só fui perceber que fui influenciada pelo medo lendo as coisas aqui, vendo o que mulheres iguais a mim passaram. Os anos passaram e eu sempre tive inúmeros problemas toda vez que eu tinha qualquer namorado. Meu sobrenome é um tanto incomum, portanto, facilmente reconhecível. Sempre que um garoto comentava que estavam namorando comigo, vinham milhões de histórias, milhões de boatos. Aparentemente, eu havia feito sexo com garotos, eu havia chupado cinco caras de uma vez só em uma festa e eu nunca tinha ouvido falar nessas pessoas que eu havia supostamente feito sexo. Eu era virgem ainda. Era um absurdo isso como as pessoas inventavam histórias com o nome de alguém sem se importar com o que ela poderia passar. Eu me trancava no banheiro, chorava, tinha pânico de ir pra escola e enfrentar aquelas pessoas todos os dias, que falavam absurdos pelas minhas costas. Cheguei a ter crises de pânico, em que eu gritava e chorava por quase uma hora. Foram anos muito difíceis. Quando eu tinha 18 anos, estava com a oportunidade de mudar de cidade com minha mãe, mas eu tinha a opção de permanecer com meu pai, então estava nesse impasse. Faltava algo que me fizesse decidir. Bem, eu tive algo. Eu estava em uma festa com uma amiga, que bebeu além da conta. Em dado momento, me perdi dela e um rapaz me abordou: “Você é a Clara?”, quando eu confirmei, ele me disse que minha amiga estava passando mal e havia pedido pra me chamar. Eu, na minha ingenuidade, fui atrás. Não achei que naquela festa fechada, que era em um salão de festa de um hotel de luxo, algo fosse me acontecer. Eles me levaram para uma parte mais isolada, alegando que minha amiga estava lá passando mal. Eu choro muito quando lembro como fui burra, como acreditei neles. Os rapazes já me conheciam “de nome”, por conta de tantas histórias horríveis que diziam a meu respeito e queriam me experimentar. Os dois ao mesmo tempo. Eu, obviamente, me neguei. Eu estava pregada no chão, horrorizada com aquela situação. Um deles começou a colocar o pênis pra fora e eu tentei fugir. Eles foram agressivos. Eu levei um chute nas costelas que me fez cair no chão e comecei a levar socos nas costas. Um deles se afastou pra ver se ninguém estava se aproximando do local e o outro estava bêbado, então aproveitei e corri. Não sei como, mas consegui fugir. Cheguei à vista dos seguranças, pálida e chorando. Eu simplesmente saí e, sem sequer procurar minha amiga, FUI PRA CASA. EU NÃO PEDI AJUDA, EU NÃO FALEI NADA PRA NINGUÉM. Mas eu estava com medo. Eu não sabia o que fazer. Isso foi definitivo pra que eu mudasse de cidade, obviamente. Eu estava farta de pagar por conta disso, pagar por uma coisa que eu fui vítima e continuar sofrendo violência. A nova cidade, apesar de tudo, não me fez bem nos primeiros meses. Demorei um tempo para me adaptar, mas depois de um ano, consegui um namorado e estava razoavelmente feliz. Um rapaz atencioso, animado, mas um pouco saidinho em relação a sexo. Pensei que meu pesadelo tinha acabado… Pra que vocês entendam, eu preciso dizer: por ser lésbica, eu não conseguia relaxar com homem nenhum, nem o mais gentil e paciente dos homens, não conseguia me excitar. Um dia, eu estava com esse garoto na casa de um amigo, então entrei no quarto para pegar um remédio na minha bolsa, então ele entrou atrás de mim. Começou a me beijar, a me apertar e, quando vi, eu estava despida. Até aí tudo bem, por mais que eu estivesse um pouco acuada, eu havia permitido, embora não fosse necessariamente a minha vontade. Então, quando ele perguntou se eu queria tentar, eu respondi que não. Ele insistiu, por quase meia hora, com o argumento de que: “Se você não tentar, vai ficar virgem pra sempre”. Eu me senti uma imbecil, porque afinal, eu já estava ali, e ainda com os pensamentos machistas na cabeça, eu achava que era culpa minha, que eu havia provocado, agora ele precisava se aliviar. Resolvi tentar. Mais por ele, do que por mim. Quando fomos tentando, obviamente, eu senti uma dor absurda: não estava relaxada, muito menos excitada. Eu pedi pra ele parar. E o que ele fez? Me puxou pela minha cintura pra entrar dentro de mim de qualquer jeito. Eu chorei na hora, implorei pra ele parar e ele não parou. Não digo que ele chegou a me estuprar, porque quando ele percebeu que eu tremia e chorava realmente de dor, parou na mesma hora e veio todo cheio de cuidados, me abraçando e me beijando, sendo todo gentil até me levar em casa. Eu não conseguia nem olhar pra ele. Não conseguia falar. Eu só queria chorar, havia me sentido completamente suja, indigna, por ter me sujeitado a ser um objeto de um homem, mas eu achava que havia merecido, afinal, “eu havia provocado”. Quando cheguei em casa, minha mãe me perguntou se eu estava bem, se algo havia acontecido. Apenas sacudi a cabeça. Ela nunca soube de nada do que me aconteceu. E nem nunca vai saber. Eu não tenho coragem de contar. Muito menos coragem de questionar ao outro lado da minha família porque me condenaram por ter sido vítima. Pode até ser que eu merecesse tudo o que passei, pode até ser que eu tenha procurado alguma dessas coisas, pode ser que eu seja uma vagabunda como todo mundo sempre falou. Mas eu só queria parar de sofrer com isso. Tenho hoje 24 anos e tenho nojo de homens, eu não acho isso normal, independente da minha orientação. Eu fui injustiçada e isso me destrói até hoje. Só queria que parasse de doer… Felizmente, eu tenho hoje um relacionamento estável com uma mulher, que é perfeita e me compreende. E afirmo, nenhuma mulher merece passar por isso: sendo homo ou hetero, nova ou velha. Eu agradeço pelo canal pra desabafar. Muito, muito obrigada. Só quem passou por isso, sabe como dói."

Anônima.

Resposta da página:

Minha querida, não diga que você é uma "vagabunda". Isso não existe. Você não procurou por essas coisas, você não tem culpa. Sua família está errada e a sociedade está errada ao colocar a culpa em cima de você (de nós), das vítimas, e isso precisa estar MUITO claro na sua cabeça quando você pensa sobre o que aconteceu. É pra isso que temos esse espaço, para falar e entender que o que está errado não somos nós, são eles, e é contra eles que lutamos com cada vez mais força.
Muito obrigada pelo relato, você não imagina o quanto é importante e o quanto está ajudando outras mulheres que também passam por violência, todos os dias.
Um abraço e muito carinho.
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"Depois de ler muitos relatos e encarar esse assunto por diversas vezes, sempre me senti absurdamente sortuda em nunca ter sofrido nada desse tipo, até o momento em que a ficha caiu. Eu tinha 14 anos, era vocalista de uma banda e na minha cidade a cena era bem unida e por isso eu conhecia bastante gente que também tinha banda ou estava nesse meio. Um certo dia, uma amiga minha que era fotógrafa disse que um cara de uma outra banda estava afim de mim, "queria me pegar". Sabia quem ele era e sempre o achei muito bonito também, ele era 5 anos mais velho do que eu, mesmo assim, na minha cabeça uma ficada não faria diferença alguma (tanto porque nunca fui ligada nesse lance de idade). Ele chegou em mim, conversamos por um bom tempo, nos divertimos, ficamos e foi bom. Até aqui, tudo ótimo. Nós nos falávamos bastante pela internet e combinamos de nos encontrar em um show que a banda dele faria, fui até o show com uns amigos mas me separei deles ao encontrá-lo, ficamos mas dessa vez ele foi estranho, mordia meu pescoço e minha bochecha com muita força, inicialmente dei risada e disse pra ele parar de querer ser "vampiro" porque se não ia deixar marca e como resposta ele falou brincando "vai levar bronca do pai depois né?". Pedi pra ele parar porque estava me machucando, ele não parou na primeira, mas depois cedeu. Na minha cabeça isso era normal. Eu precisava ir embora e ele estava de carona no carro com uns amigos, ele veio no banco de trás comigo abraçado, nada de mais. Fiquei um bom tempo sem vê-lo e por mais que eu não tenha achado ele abusivo, achei que ele era "muito estranho" porque saía mordendo as pessoas, inclusive zuava sobre isso com a minhas amigas e elas falavam que eu sempre atraía gente maluca. Até que um dia já meio bêbada depois de sair com minhas amigas, paramos em um posto e ele mandou mensagem no meu celular perguntando onde eu estava, respondi falando que estava no posto na rua x. Não deu 15 minutos ele já tava lá e disse para eu encontrá-lo que ele estava de carro. Fui até o carro e ele abaixou a janela, fiquei em pé do lado da porta conversando com ele um tempão, aí ele disse: "vamos dar uma voltinha? tu vai ficar ai em pé poxa?" ai eu avisei minhas amigas que ele tava ali que a gente ia em algum lugar e já voltava, nenhuma delas achou isso estranho e elas meio que sabiam quem ele era então... Chegando no carro ele colocou uma música legal, eu tava cantando junto, ai ele estacionou o carro umas 3 quadras a frente em uma rua escura, trancou as portas, abaixou o volume, ficou olhando pra mim, pegou meu rosto com as mãos e disse "mulher, tu é linda demais" e me deu um beijo, até ai "tudo bem". Depois disso as coisas foram pra pior, ele me beijava com mais força e eu percebia quais eram as suas intenções ele tentava de todas as formas pegar nos meus seios e abaixar minha blusa e depois de muitas vezes falar não e empurrar a mão dele, me esquivar e bater nele pra ele parar de se aproximar de mim eu gritei com toda a minha voz o mais alto que eu pude: "PARA AGORA SE NÃO EU VOU COMEÇAR A FAZER O MAIOR ESCÂNDALO EU VOU LIGAR PRA POLÍCIA, ME SOLTA AGORA, ME LEVA DE VOLTA PRO POSTO AGORA". Ele se assustou, ficou com cara de "essa mina é maluca", não me importei, meu coração estava MUITO acelerado, saí do carro CORRENDO e quando encontrei minhas amigas: fingi que nada tinha acontecido. Minhas mãos ainda tremiam de medo, eu não sabia o que fazer, eu tinha vergonha de não ter conseguido dar um basta antes que uma situação como essa acontecesse, me sentia culpada afinal, eu aceitei entrar no carro com ele. Nenhuma amiga minha sabe disso até hoje e acredito que se eu contasse elas achariam que é besteira. Depois do ocorrido toda vez que o via em algum lugar eu ficava apavorada e me escondia. Um certo dia estava na casa de um amigo das minhas amigas e ele estava lá, não o cumprimentei e o evitei ao máximo, mesmo assim ele me encontro uma hora na cozinha e perguntou "não vai falar comigo?" eu ignorei e saí andando ele me pegou pelo braço com força e eu já quase gritando "me solta agora!!!", ele perguntou "porque isso?" eu puxei meu braço com força, me soltei dele e fui correndo pra sala com as minhas amigas. Nunca mais o vi. Depois de tudo isso descobri que ele tinha namorada e que eles continuam juntos até hoje, se com uma desconhecida ele foi assim, imagina com a namorada. Até me assusta. Acredito que isso tenha sido um assédio, ele forçou e tentou fazer coisas que eu não queria e abusou da sua força. Hoje estou em um relacionamento, amo muito meu namorado mas se em algum momento ele vem me dar um beijo ou um abraço e eu não estou muito afim e falo que não quero e ele insiste me fazendo cosquinha ou falando "ô sua chata, é só um beijinho, nem me faz carinho sua desnaturada" eu já entro em pânico. Parece que isso me marcou mais do que eu imaginava, a ficha caiu."

Anônima.

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"Tenho 13 anos - sei, sei, sou nova - e nunca fui rotulada pela sociedade como "normal", sempre defendi meu direitos e sempre fui independente, me considero uma feminista com muito orgulho. Sempre sofri muito por conta das brigas que meus pais tinham entre si, me doía ver que minha mãe se sentia desvalorizada, desprezada, só porque o miserável do marido dela - ao qual não tenho orgulho de chamar de pai - a traía, às vezes eu chorava escondida por pena da minha mãe, e por raiva também, sabe por quê? Porque via que ela não fazia nada para se defender ou sair da situação, ela sabia que estava sendo traída, mais nem ligava, aguentava tudo. Ele - vamos chamá-lo de D. - sempre traiu a minha mãe, desde quando eu me entendo por gente, no início eu não tinha noção alguma, mas depois de muito pensar descobri que meu pai a traía desde que eu nasci, e eu cresci em um ambiente tenebroso. Uma vez presenciei meu pai a agredindo, jogando um sapato na cara dela, e depois dizendo que foi "sem querer", fiquei totalmente sem chão, como alguém pode tratar alguém assim, e como pode a outra não reagir? Eu tinha raiva da minha mãe por não fazer nada e ódio por meu pai que fazia tudo. Mais aí eu descobri que minha mãe não reagia porque ela me ama e ama meu irmão, e quer nos ver felizes, com uma família. Mas que família? Eu quero perguntar, mas não falo nada, sei como ela se sente, presa e inútil, não quero acabar com o alívio dela de pelo menos fazer os seus filhos felizes. Eu quero apenas que ela seja feliz, se separe do D. e viva, mas não falo nada por medo. Medo da sua reação. Medo de que ela possa contar o que falei para o D. - o que ela já fez uma vez, por conta que falei a ela para se separar dele -. Medo de que ela se torne mais infeliz. Tenho ódio dele. Tenho ódio por ele ter destruído a minha esperança de ter uma família feliz. Ódio por ele ter estourado a minha bolha com o mundo em uma "perfeição" quando eu tinha 10 anos. Ódio por ele fazer minha mãe infeliz. Odeio TUDO nele. Me lembro que em 2012, presenciei uma cena que nunca mais me saiu da cabeça. Meu pai forçando minha mãe a fazer sexo. Nunca me esqueci. Eles estavam brigando - meu irmão e eu estávamos dormindo em uma cama ao lado, pois estávamos de mudança e tudo estava bagunçado - por conta que minha mãe descobriu uma nova traição e tinha tomado a decisão de se separar - fato que me deixou feliz, mas infelizmente ela não levou esse plano adiante - então ele começou a atacá-la emocionalmente, falou palavra doces e ela ignorando, até que ele forçou ela a transar, ela não queria, mas fez, mesmo não querendo, só para acabar com aquilo. Eu vi a cena, fechei os olhos quando vi que ele enfiava aquele maldito pênis nela, que forçava. E depois eu dormi. Como devem ter percebido, eu odeio o D. Odeio o homem que devia ser o meu pai. Sempre quis ter um pai atencioso que lesse para mim história de princesas e felizes para sempre. Mas nunca tive um, e sim um com temperamento forte, que grita com todos e ameaça me bater quando faço uma coisa errada, por menor que seja, como por exemplo esquecer de pegar a jarra de suco e colocá-la na mesa. Recentemente tive um sonho em que era obrigada a casar com D. para salvar a minha família, e no sonho eu fui estrupada por ele, ele me obrigava a me fingir uma mulher apaixonada que retribuía seus carinhos, e eu obedecia, só para salvar minha mãe meu irmão. E depois do sonho comecei com a depressão. Inicialmente comecei a me culpar, me achando uma vadia por ter sonhando com aquilo, com o meu propio "pai". Depois vergonha por ter traído em sonho a minha mãe. E depois nojo. Toda vez que do D. chegava perto de mim eu fingia indiferença e sai de perto, ainda faço isso, tenho nojo só de olhar para ele. Tentei me suicidar, peguei uma enorme tesoura e apontei para o coração, quase me matei, pois achava que ia ser mais fácil, que o sofrimentos ia passar, então pensei na minha mãe e no meu irmão e desisti. O meu refúgio é o meu quarto, fico lá escrevendo, lendo e desenhando, ouvindo música e pensando. Lá eu superei várias coisas. Talvez pelo fato de o D. nunca ter entrado lá. Um dos fatos para ter me deixado na depressão, foi o fato de eu ser mais ou menos ateia, eu comecei a culpar os acontecimentos da minha vida por conta de que eu não acreditava em Deus. Mas ainda bem que eu criei coragem, hoje mesmo morando com minha mãe, meu irmão e o D., tento ser "normal", tento fazer as duas pessoas mais importantes do mundo para mim felizes. Meu maior sonho agora é me formar, ter um emprego, fazer meu irmão ter as mesmas coisas que eu quero ter, e depois, senão o mais importante de tudo, fazer com que minha mãe se separe do D. e seja feliz, e viva a sua vida. Tenho medo de contar isso a alguém, de ser julgada, pois sei que quase ninguém vai me entender. Peço - de novo - que deixem isso no anônimo. Ainda não tenho coragem de me "revelar". Muito obrigada - a quem quer que você seja - por estar me dando está chance de GRITAR. Muito mesmo."

Anônima.

Resposta da página:

Minha querida,
Você é muito forte de viver nessa situação e por conseguir escrever o que acontece e como você se sente. Estou sem palavras para comentar o seu relato. Saiba que você não precisa agradecer pelo espaço; aqui é um lugar de acolhimento, você pode ficar à vontade para se pronunciar e o seu anonimato está, sim, garantido. Você não imagina o quanto seu texto é importante para nós.
Vou responder em tópicos:
1) Sobre "o seu pai ter forçado a sua mãe a transar": forçar alguém a transar tem um nome: estupro. Estupro não é só quando um desconhecido ataca uma mulher desconhecida na rua. Não importa se o homem é marido, namorado, amigo da vítima, ele não pode obrigá-la a fazer sexo com ele, isso é crime, é ilegal e é uma violência sem tamanho. Alguém poderia comentar: "mas ela aceitou, para 'acabar logo com isso' ela deixou, ela consentiu". Não, ela não consentiu. Ela não "aceitou" para "acabar logo com isso". As pessoas não precisam dizer a palavra "não" para expressarem que não querem fazer alguma coisa; e até quando dizemos "sim" por medo ou por constrangimento, também é como se disséssemos "não". Não existe essa história de "eu não queria mas eu topei porque era inevitável"; sexo não é inevitável quando uma das partes não quer. Se for inevitável é porque é uma violência, é porque é um estupro e é porque o cara é um estuprador.
2) Não sinta raiva da sua mãe porque ela não se separa. Ela, como tantas mulheres que apanham dos maridos e têm medo de sair de casa, também não tem a menor culpa pela situação da sua família. Ela precisa de ajuda. O primeiro passo para que mulheres que sofrem violência doméstica se libertem é o empoderamento, elas precisam se sentir fortes para isso, precisam saber que elas podem fazer isso. E é justamente esse empoderamento que o feminismo tenta levar para todas as mulheres, a sensação de controle sobre a própria vida e sobre o próprio corpo.
3) Sobre os seus planos para ajudar sua família: Isso é muito importante, mas a primeira coisa que você pode fazer é ajudar você mesma. Está certíssima ao pensar em estudar e se formar e ter um emprego e viver... e também é ótimo você se importar com sua mãe e seu irmão e querer vê-los bem. Mas você não pode se responsabilizar por eles. Você tem o DIREITO de ajudá-los, mas a felicidade deles não é sua responsabilidade. Acredite, a felicidade de NINGUÉM é responsabilidade de outra pessoa, nós só somos responsáveis por nós mesmos. O máximo que podemos fazer é ajudar quem precisa de ajuda, mas nunca somos responsáveis pelos outros, nem pela nossa família e nem pelos nossos próprios filhos depois que eles se tornam adultos. Cuide de você e, quando você estiver forte o suficiente, dê o apoio que as pessoas que você ama precisam, sempre dentro do que for possível para você fazer. Primeiro a gente cuida da gente, depois cuidamos dos demais. Sempre.
Forte abraço e muita força pra você.
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“Antes de começar, quero agradecer às administradoras dessa página, que estão me proporcionando uma sensação que eu nunca tive, a sensação de poder desabafar. Muito obrigada! Vou começar contando um pouco da minha história (irei mudar nomes, ok?)... Bom eu fui criada na igreja, sempre fui ativa na minha religião, não porque meus pais me obrigavam, mas por amor a Deus mesmo. Mesmo estando na igreja, sempre fui aquela criança “pra frente”, sempre soube de tudo, nunca acreditei na cegonha, e creio que, devido a isso, comecei a ficar com meninos muito nova (quando eu digo ficar, eram apenas beijos, nada demais). Com 12 anos eu já havia beijado 11 meninos, não me considerava uma “piriguete”, mas queria dar um tempo com isso, afinal eu iria ficar mal falada. Mas foi aí que eu conheci um rapaz, o nome dele era Eduardo e ele tinha 17 anos, nós tínhamos amigos em comum, e isso facilitava o nosso contato, começamos a conversar por MSN, na época ele era um doce e nós acabamos ficando, logo depois começamos a namorar em casa e eu estava completamente apaixonada (começamos a namorar em julho de 2011). Eu era muito nova, mas como disse, não era boba, queria experimentar coisas novas, e entre um beijo ou outro a coisa começou a esquentar. Comecei a dar “brechas”, primeiro a mão no bumbum, depois no sutiã, indo pra embaixo da roupa, até que começaram os “chupões no peito” e os dedos por dentro da calça. Isso tudo acontecia na varanda da minha casa, e depois quando ele ia embora, eu me sentia um lixo, eu cheguei a contar isso a ele, mas ele dizia que era bobeira e eu acabava fazendo tudo de novo. Já tínhamos três meses de namoro quando um casal de amigos nossos começou a namorar, eles mantinham uma relação sempre bem quente, com toque nas partes íntimas e sexo oral, meu namorado começou a me pressionar, não queria se sentir inferior ao amigo. Foi aí que aumentamos o nível, começamos a praticar o sexo oral e uma “masturbação mútua”, mas, como eu era virgem, ele usava os dedos com cuidado pra não atingir o hímen. Eu gostava de receber tudo isso, era prazeroso. Mas depois começou a ser forçado. Havia perdido a graça, mas ele não achava o mesmo. Ele me levava pra um cômodo que fica distante dos principais da minha casa e dizia coisas do tipo “- me chupa amor” “- e se eu morrer no caminho?” ou “- não custa nada, por favor” , ele dizia isso puxando o pênis pra fora, nem dava tempo de falar, logo ele empurrava a minha cabeça com força, e por vezes gozava na minha boca, eu me sentia em um filme pornô e odiava isso. Pra mim, a relação que mantínhamos já era o suficiente para saciar a necessidade de prazer dele. Eu sentia nojo, mas ele queria sempre mais e eu continuei fazendo tudo o que ele queria, pois eu havia enviado uma foto nua pra ele (eu sei que fui burra, eu sei). Eu tinha medo de negar o que ele pedia e ter essa foto jogada na rede. Não tinha jeito, eu deveria continuar com isso, mas... até quando? Eu não queria perder a minha virgindade, e ele sabia disso, e os motivos eram: por questão religiosa (meu sonho é casar virgem); por medo dos meus pais descobrirem; medo de engravidar e, principalmente, eu sabia que ele não era o cara, as nossas diferenças eram inúmeras e brigávamos muito, então eu disse que se ele quisesse, faríamos apenas as preliminares e mais nada. Foi aí que ele teve a “brilhante” ideia “- Vamos fazer sexo anal, você continua virgem, e eu mato meu desejo”. Eu conhecia algumas coisas sobre sexo, mas não fazia ideia de como era o ato em si, não sabia se iria doer, quão inocente eu era. Então, de forma amedrontada, burra e precipitada, eu aceitei. Agora imagine, uma menina virgem, toda “fechada”, que nunca tinha ficado pelada na frente de ninguém, decide por “livre e espontânea pressão” fazer sexo anal. Em uma tarde de novembro, ele veio até a minha casa, eu havia inventado muitas desculpas, mas elas não colaram e ele veio assim mesmo, e, quando eu percebi, eu estava do meu quatro, na cama, com um pênis dentro do meu ânus. Eu não sentia nenhum prazer naquilo, só sentia dor, mas ele não aceitava parar, era do tipo “ajoelhou tem que rezar”. Eu sofri muito, fiquei com uma dor muito forte e depois tive algumas complicações para sentar e evacuar. Pra minha infelicidade, nessa nossa primeira vez, ele gozou perto da minha vagina e um novo terror estava pra começar. Um mês depois, a minha menstruação estava atrasada, e o medo começou a subir a minha cabeça, eu falei pra ele, e o consolo que ele me deu foi um teste de gravidez daqueles comprados em farmácia, pra provar que eu era uma doida, que estava inventando desculpinhas. Graças a Deus o teste deu negativo, mas o terror não para por aí. Depois dessa história de teste e de toda a dor que eu senti quando fizemos sexo, eu decidi que não queria mais transar, e ele fez um escândalo e várias ameaças. Ele dizia que iria contar pra todo mundo o que nós fizemos, e como prova, iria mostrar a minha foto. Ele estava viciado em sexo, e eu era a droga dele. Entrei em desespero, chorava toda noite, tinha vergonha dos meus pais e nojo dele. Continuamos nessa relação insustentável durante um ano e um mês mais ou menos, ele já havia me proibido de ver minhas amigas, minha vida estava um inferno e de vez em quando, nós íamos para a casa dele, fazíamos sexo anal e por várias vezes ele tentou algo mais “estava enjoado de bunda”, mas eu tive força, não cedi, e ele ficava possesso, sentia muita raiva, e por vezes pensei que ele fosse me bater, mas eu tenho alguma força física e evitava. Eu já não aguentava mais, eu ouvia da minha família e amigos o quanto o nosso namoro era sufocante e que ele só fazia mal pra nós mesmos, mas eu não conseguia terminar, ele sempre me ameaçava, dizia que iria contar pra todo mundo que eu havia “dado” pra ele e eu morria de medo; moro em uma cidade pequena onde a fofoca corre solta e não queria ser difamada pelo resto da minha vida, então continuei transando com ele, e sofrendo muito. Namoramos por um ano e meio, e se eu não tivesse tomado uma atitude, estaria naquela situação até hoje. Em janeiro de 2013 eu criei força, não aguentava mais viver com alguém que me ameaçava, e me tratava como um objeto, que não sente dor, e nem tem sentimentos. Na verdade eu era como uma boneca inflável, só servia para penetração e exibição. Terminei com ele no dia do aniversário da minha mãe, porque como tinham muitas pessoas em casa, presumi que ele não faria nada comigo. Ele fez um escândalo, fez várias ameaças como contar tudo pra todo mundo e se matar, mas no final não fez nada, apenas foi embora. Me procurou alguns meses depois, mas eu não dei bola, não podia imaginar aquele sofrimento de novo. Hoje em dia eu namoro um menino perfeito, ele é um príncipe e nós decidimos que vamos nos preservar e só transar depois do casamento, planejo uma linda primeira vez, longe de sofrimento e traumas que eu ainda tenho, não suporto que encostem em mim, ou que a mão dele fique mais abaixo da cintura, sinto calafrios e choro muito. Mas ninguém sabe do que eu passei, tenho medo e vergonha de contar. Eu ainda sou muito rude comigo mesma quando o assunto é essa fase da minha vida, mas vendo todos os relatos da página não pude me calar, sei que existem muitas meninas por aí que estão nessa situação, e eu quero dizer pra essas meninas o seguinte: se o seu namorado diz que vai terminar com você porque você não quer transar com ele ou ameaça contar alguma coisa da intimidade de vocês pra outras pessoas, NÃO CEDA! se ele te amar, ele vai entender e esperar o momento em que você estiver preparada. Não deixe seu namoro chegue no ponto em que o meu chegou! Eu não considero que o que aconteceu comigo seja um estupro, pois eu cedi muitas vezes e me sinto muito culpada por isso, me sinto um lixo; mas as feridas deixadas por ele já estão sendo cicatrizadas, graças a Deus, e creio que com o tempo serão apenas marcas, tenho fé que um dia eu reescreverei esse texto sem lágrimas nos olhos. Bom, essa é a minha história. Peço perdão pelo longo texto e por palavras mal expressadas, tentei resumir tudo, e acho que isso pode atrapalhar o entendimento do texto. Agradeço a oportunidade de poder falar, vocês agora são os únicos que conhecem a minha história e pra ser sincera, estou aliviada!”

Anônima.

Resposta da página:

Em primeiro lugar, sinto muito que você tenha passado por isso, que nós passemos por isso todos os dias como nós passamos. Mais uma vez eu digo: não se culpe; a culpa não foi sua. Não se sinta horrível porque você "cedeu", porque sentir medo ou constrangimento de dizer 'não' NÃO é ceder
Você fez, como tantas e tantas mulheres fazem, o que te ensinaram a fazer: agradar ou fazer a vontade do "seu homem" para que ele não fosse embora, e manter a "boa fama", a imagem de "boa moça" que, na nossa sociedade machista, significa "não ser sexual" (para a mulher) e que é supervalorizada, constrangendo nossa libido, oprimindo e machucando. Então não, você não tem culpa nenhuma e você não "cedeu" como você colocou ali em cima, ok?
Meus parabéns por ter tido a força para se libertar dessa situação aprisionadora. Agradeço o compartilhamento do seu relato com a gente, é muito importante para que nós continuemos fazendo o trabalho que fazemos contra a cultura do estupro. Muito obrigada!
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"O "episódio" mais triste da minha vida aconteceu quando eu tinha 14 anos. Eu gostava muito de um garoto três anos mais velho e nós ficamos juntos por cerca de um ano. Meus pais não nos deixavam namorar porque me viam muito nova, mas nos gostávamos tanto que fomos levando a situação debaixo do pano. Nosso melhor amigo era o mesmo e eu não conseguia entender meus pais, mas eles sempre me falavam com desconfiança desse amigo. Me alertavam sempre, não queriam nossa amizade. Quando meu pai me chamou para conversar e disse que sabia do meu namoro escondido, pedindo para eu acabar, fiquei muito triste. Liguei para marcar um papinho com o namorado e terminei. Na mesma semana ele estava ficando com a minha melhor amiga na minha frente. Eu estava inconsolável e o meu melhor amigo me deu todo o apoio necessário. Nessa época nos aproximamos tanto que eu me lembro de chamá-lo de irmão. Meses depois me vi ficando com ele. Ele era diferente do meu ex. Era safado, me dava um pouco de medo. Era completamente diferente de qualquer coisa que eu pudesse gostar. Tinha cabelos compridos, era forte demais e tocava baixo em uma banda de metal pesado. Ainda assim eu podia confiar nele e receber compreensão e carinho. Naquele ano eu tinha dado o meu primeiro beijo. Eu era virgem. Meus pais costumavam conhecer a minha rotina, mas eu comecei a mentir para eles. Faltei duas ou três aulas para encontrar com o cara. Mudei as roupas, mudei a playlist, menti. Certo dia ele me chegou muito esquisito. Trocamos um rápido beijo no pátio e ele olhava para os lados, parecia meio nervoso. Falou baixo e sério “tenho um lugar pra gente”. Me levou até o último andar inativado do colégio e eu fiquei atônita. - Pra que isso? O que quer que não pode ser na frente de todo mundo? Meus pais não vão gostar disso, eu me sinto errada. Não sabia o que havia de errado, seu olhar era frio. - Os seus pais não precisam saber de nada Me puxou para uma sala escura, me levantou para que eu ficasse sentada em cima de uma mesa E começou a me beijar fortemente. Nossos beijos sempre foram leves. Ele respirava tão rápido quanto crescia o meu medo. Meu Deus. Eu estava sozinha com aquele cara forte, estranho e nervoso. Dali ninguém jamais ouviria se eu gritasse. Suas mãos começaram a tatear meu corpo. Eu pedia “Pare! Pare!” Pouco tempo atrás havíamos conversado pela primeira vez sobre sexo e eu demonstrara meu medo. Eu tinha medos muito bobos. Dor. Pecado. Castigo. Gravidez. Tentei me desvincular, mas eu não tinha a mínima chance contra ele. Com uma só mão conseguiu segurar minhas duas para trás e com a outra subiu minha camisa o suficiente para enfiar a cabeça nos meus seios. A mordida foi tão forte que eu soltei um grito sufocado. Enquanto eu tentava me soltar — só me cansava cada vez mais — gritava “Por que está fazendo isso comigo?” Uma só vez ele parou, riu e disse calmamente “pode gritar, mas ninguém vai te ouvir” Quando largou minhas mãos para baixar minha calça eu tentei correr e ele me alcançou na parede ao lado da porta. Me empurrou tão forte contra um vidro que a minha cabeça rachou o espelho (foi quando percebi que estávamos no laboratório e era tão escuro apesar de ser dia por conta das cortinas com black-out) - Tá fazendo o quê? Quer que eu arrebente você? Fica quietinha que eu vou tirar o seu medo! Eu estava simplesmente apavorada. Eu acabara de desistir de lutar. Já soluçava. Ninguém nunca havia me tocado, quanto mais isso. Minhas calças foram baixas e seus dedos (não sei ao exato quantos) me penetraram com tamanha grosseria. Eu também nunca havia me masturbado. Não fazia ideia do que fosse aquilo. Eu nunca senti tanta dor na minha vida. Parecia que a pele estava rasgando com cada movimento. Quando se afastou para ir até a mochila, me joguei no chão sem forças e gritei de dor, de medo, de ódio. Gritava e chorava. Ele ainda teve a cara de pau de me perguntar “eu tenho camisinha, quer continuar?” Meus soluços e fungados (o nariz escorria, os cabelos grudavam nas lágrimas) foram a única resposta. Ele pegou a bolsa e foi embora. Eu fiquei ali naquela escuridão sentindo a dor mais torturante da minha vida e sem pensar em absolutamente nada. Minha cabeça doía com o choro. Quando consegui sair fui direto para o banheiro que era logo adiante. O único conforto era saber que ninguém me perturbaria naquele lugar. Deitada com a mão na barriga eu me sentia tão enjoada e abandonada. Estava tão apertada, mas todas as tentativas de fazer xixi falharam. Doía, ardia… havia urina e não saía. Quando me sequei percebi que estava sangrando. Fiquei tanto tempo ali sem saber o que fazer. Quando me acalmei um pouco consegui lavar o rosto e ir para casa. Graças a Deus eu não esbarrei com conhecidos e não tinha muita gente no caminho. Chegando em casa fui direto para o banho. Chorei ainda mais. Novamente não consegui fazer xixi e ainda sangrava um pouco. Enviei uma mensagem para o celular dele. “Por que fez isso comigo? Eu estou sangrando, seu monstro!” Eu não esperava receber resposta. Contei tudo para uma amiga em quem realmente podia confiar. Peguei no sono. Meus pais já andavam com bastante raiva de mim por nossa amizade. Não sei bem como, mas descobriram tudo, só que de outro ângulo. Antes de me procurarem, procuraram a mãe do garoto e marcaram uma reunião no colégio. Ele disse que eu havia pedido. Meus pais acreditaram nele. Entrei em um mundo obscuro próprio. Escrevia textos sombrios, chorava o tempo todo, fui obrigada a frequentar a psicóloga do colégio… Meus pais me olhavam com nojo. Perdi toda a confiança. Por dias não dirigiram a palavra a mim. Sem dúvida foi o período mais desesperador da minha vida. Já vão fazer 4 anos. Hoje estou bem com os meus pais, mas isso demorou muito e sei que eles não esqueceram, não acreditaram em mim. A minha inocência foi retirada brutalmente por alguém que eu confiava. Até hoje nunca me relacionei sexualmente com alguém. Ainda tenho medo e carrego a cicatriz comigo eternamente, o emocional e uma virgindade tirada à força, sim, meu hímen foi rompido, por isso o sangue. Não sei ao exato se totalmente. Até hoje não fui a uma ginecologista novamente e quando tomo banho o faço de forma a me sentir o mínimo possível. Se cuidem. Tenham medo. Desconfiem. Toda confiança é muita.

Anônima.

Resposta da página:

Querida,
É muito importante você ter bem claro na sua cabeça que você não cometeu erro algum por confiar nele (digo isso porque você fala, no final, que "toda confiança é muita"). A responsabilidade e a culpa pelo que aconteceu não são nunca das vítimas que confiam. O único errado nessa história foi ele, não você.
Força e um forte abraço.
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Ele era engraçado. Meio desajeitado, meio esquisito, tipico nerd. Me pareceu fofo. Sou uma pessoa demasiadamente intuitiva, e tenho a tendência de saber bem o que quero, portanto tendo a gostar ou não gostar rápido. Digamos que sou vítima de amores à primeira vista. Fazia muito tempo que eu não sentia nada, que eu não gostava de alguém, que ninguém me despertava algo, aquela faísca... Havia passado os últimos dois anos me recuperando de um relacionamento abusivo e machista, que como a maioria das mulheres nesse pais, eu também fui ensinada a "me comportar para não ser punida" e "ser forte e aguentar, ter paciência e guardar pra mim as frustrações com as atitudes dos homens", por uma família super tradicionalista. Emfim.. Procurava aprender com a experiência do ex, pra não se repetir de novo. Fiquei afastada de qualquer intimidade com homens e mulheres, nesse período. Ele era engraçado, me pareceu fofo. Vi ele no bandejão da USP, onde éramos calouros. Tinha acabado de voltar pra São Paulo, da casa do meu pai. Fomos apresentados por colegas em comum. Eu estava morando sozinha, ao lado da universidade. Ficamos um tempo razoável, no meu aniversario ele me deu uma garrafa de cerveja especial, eu adorei. Guardei a tampinha pra lembrar. Os meses passam rápido, e ele tinha viajem marcada pros EUA, sonho dele. Ia passar os meses do fim do ano la. Lembro da nossa despedida. Lembro dele me ligar na manhã do dia, reclamando da atitude negativa da mãe dele, que não gostava de mim porque sou uma "goy": nao sou judia. Algumas vezes ja havíamos conversado sobre isso, lembro dele um dia na rua perguntando se dava pra disfarçar meu nome, sei lá... Mas não dá, é obvio que não é judeu. E eu não tenho religião, sou ateia. Lembro daquela manhã, dele dizer que precisava muito me ver, lembro de eu ficar completamente boba e encantada por isso... Corri pra casa dele, logo mais ele deveria estar num avião... Lembro das promessas da despedida e de eu me declarar, que me seguraram por 3 meses, que não passavam nunca. Nesse tempo me ocupei em fazer dietas, fui ao cabeleireiro gastei dinheiro que ganhava com dificuldade loucamente. Queria que ele ficasse feliz quando voltasse. Então, finalmente o dia chegou. Passei três dias me arrumando, e arrumando minha casa, queria ver tudo lindo. Um belo dia ele chegou, numa hora que eu não esperava, então me pegou de surpresa... Bom havia três meses que exceto dois melhores amigos, ninguém entrava em casa. Queria conversar, queria saber como foi a viajem... E ele queria sexo. Seu jeito objetificado de "matar a saudade". Na hora eu estava demais boba, e devido a ausência, não me sentia confortável nua... Era como se fosse a primeira vez, de novo. Quando percebi, ele estava estranho. Forçou a tirada do meu vestido. Me jogou na cama. Ele riu então pensei que fosse brincadeira, ri também. A gente começou a se beijar, ele deitou do meu lado, perguntou "O que aconteceu?", disse que "eu tava diferente", perguntei se era "pra melhor ou pra pior?", ele disse "Ta muito bonita". Nisso, uma breve conversa, ele subiu pra cima de mim, o comportamento dele estava estranho. Alguma coisa estava estranha. Achei que pensei besteira. Até que ele começou a fazer muito forte, repentinamente, pôs a mao na minha boca, me virou de bruços e segurou as minhas mãos com uma força espantosa pra um cara não tao alto. Ah, sim, deveria ter-me lembrado do KravMaga, do exercito de israel, um monte de carinhas assim que matam gente... Mas na hora a unica coisa que se seguiu foi dor. Dor. Dor. Pânico. Desespero. Sangue, e dor. As mãos dele seguravam as minhas bem a frente. Me estiquei num esforço infinito, e mordi. Mordi com dor. Mordi como alguém morde um pedaço de pano quando tem parte sua arrancada. Descarreguei toda a minha dor naquela mordida. Ele tava tao ensandecido que demorou alguns segundos - que pra mim foram minutos - pra ele perceber que ele estava a ponto de sangrar. Que eu estava mordendo. Que não, não era fetiche. Era uma mordida. Era o ultimo "Para!", depois de tantos que eu gritei, pedi, implorei, mas só recebi "Chega", "Fica quietinha!" e "Delicia". Ele ate tentou me impedir de continuar mordendo, mas naquela hora, a fera ali era eu. E fiz o que meu cachorro faria, não soltei, ate ele parar e sair correndo. Pena que meu cachorro, estava em tratamento médico na casa da minha mãe, porque o vet antigo dele era do lado. Senão, ele teria duas mordidas. Gritei, gritei, "SAI!!!", "SAI DAQUI!!!", "SOME!" Me chamou se louca. E eu estava mesmo. Quem não ficaria? Aquilo era surreal. Parecia esquizofrenia, onde realidade e fantasia se misturam. Pior que não era. Aquilo tudo era surreal. Começou a vir na minha mente, "como?", "porque?"... "Eu sou forte, sou uma mulher forte, eu bato nos caras... como ele conseguiu?" "ele foi tao TÃO rápido!" "Porque não fez nada, sua inútil?" "Como você deixou?" "O QUE VÃO PENSAR DE VOCÊ AGORA? VOCÊ NÃO SERVE MAIS PRA NADA." "SE MATA! RESOLVE!" ... Ele, num súbito clarão da merda que havia feito, voltou da porta de saída para se desculpar. Minha adrenalina havia caído, eu não estava mais corajosa, eu estava acoada e em choque. Não, ele não estava arrependido. Ele queria discutir o fato. Resumindo: ele achava que eu fosse um pouco mais trouxa. achava que podia tudo. Daí viu que eu sabia gritar, e alto. Temeu que não ficasse barato. Temeu que ia perder a idiota que matava "a fome de comer" dele. temeu que não iria mais ''comer'' aquele ''pedaço de carne". Nunca mais. Nunca. Eu estava decidida, eu o pedaço de carne comível. Na minha pouca razao, na minha cabeça de ponta cabeça, eu estava decidida. Eu tremia. Tive enjoo. Ele do meu lado, sentado na cama. Porque não ia embora? "Vai embora..." dizia embargada de choro e nojo... "Não vai contar pra policia né?" Respondi com uma prontidão automática, que hoje me soa aterrorizadora: "Naaao ta louco, eu gosto de você demais pra te ver sofrer... E você é judeu, sua mãe é super bem conectada, sairia rapidinho." Tenho vergonha de dizer que há exatamente um ano atrás, naquela hora, esse foi o pensamento automático que me veio à cabeça. Minha cabeça girava e doía. Doía mais que meu ventre. Das coisas que ele disse ainda estavam "Olha! (aponta pra mordida) você me machucou também" Eu não sabia como conduzir a situação. Na minha mente eu queria era pegar uma motosserra. Mas eis o que eu fiz: "Deixa eu ver." Peguei o braço. Olhei o machucado. Dei 'um beijinho pra sarar'. Fiz isso como uma TV obedece e muda de canal logo apos de apanhar por dar interferência no meio jogo. Fiz como um robô. Como se tivesse usado drogas. Não sei ao certo se nesse nível, eu ainda possa ser considerada consciente.. Eu acho que eu não estava, mesmo... Ele puxou o braço rápido com a dor do toque, gritou "QUE ISSO?!" Disse como uma boneca, olhando pro vazio, sem encarar ele... "beijinho pra sarar.." Não sei ao certo, quando ele foi embora. A dor física, foi pra minha alma. Nao consegui mais trabalhar direito. Perdi o emprego. Ele ainda chegou a mandar mensagem pra mim, pedir que "parasse com isso", ele queria "comer", estava faminto de novo. O animal. Eu neguei. Desde a minha mãe que me mantinha mas me batia, estou acostumada a sentimentos mistos. A morar com o inimigo. Me parece estranho simplesmente exclui-lo das listas, perder o contato. Não. Sou louca, sim. Contei a minha prima, somente. Ela queria processá-lo. Eu não o fiz. Minha covardia. Medo. Tenho medo, tive medo. Mas agora esta melhor, estou escrevendo aqui. Creio ser um passo importante. Neguei, e uma semana depois ele apareceu namorando uma judia, que conheci, pois pra meu total azar, na festa que fui pra tentar espairecer a cabeça do ocorrido e continuar minha vida, umas semanas depois, ele também foi. Me apresentou ela assim "Essa é fulana minha amiga", "minha futura namorada Judia", e foi assim, pediu pra namorar com ela na minha frente. Ela riu, fez cara de foda-se. Uma semana depois, fotos e mais fotos de restaurantes, e declarações de amor, num face de alguém que não podia sequer ser marcado por mim em um post engraçado qualquer "pois minha mãe vê meu face, veja que eu não posto quase nada como as outras pessoas". Ele declarou uma vez que "não sou machista, só não sou feminista também", e outra depois que "não sou machista, aliás não conheço ninguém mais feminista que minha avó, e ela me criou"

Anônima

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Depois dessa semana terrível dos 65%, em que esse assunto não conseguiu sair da minha cabeça, eu realmente precisava desabafar com alguém pra poder tirar todo esse peso das minhas costas. Eu tenho 17 anos, curso o terceiro ano do ensino médio. Muitos dos meus professores levaram esse tema pra debate em sala de aula e eu tive que ouvir milhares de desaforos dos meus colegas machistas, racistas, homofóbicos e tudo o que tem de preconceituoso no mundo. Semanas atrás, meus colegas começaram a fazer piadas racistas do tipo "parem com o preconceito entre negros e humanos" e eu levei isso até a coordenação. Eu não sou negra, mas isso me ofende tanto que eu fui conversar com a orientadora soluçando de raiva daqueles meninos. No começo desse ano, eles publicavam fotos de mulheres nuas no grupo da turma pra manterem a imagem de mascu forte e opressor. Eu tremia de raiva. Os coordenadores da escola disseram pra eles que "eles tem o direito de serem preconceituosos, desde que isso não afete ninguém" (??) racismo é crime! Ninguém tem esse direito. Mas enfim, perdi o foco da minha história que só veio à tona agora porque eu realmente não consigo lidar com esses comentários. Houve uma discussão sobre gênero e eu tive que esconder meu rosto porque comecei a chorar só de ouvir a voz dos meus colegas. Todo aquele papo de colocar a culpa na vítima, de que o protesto com a plaquinha é uma forma de chamar atenção e ganhar likes me dói porque eu já passei por isso. Eu já fui estuprada três vezes. Em todas eu estava inconsciente e não me lembro de nada além de uns flashes que me dão vontade de vomitar. Eu não disse não, mas o feminismo me ensinou que quem cala não consente. Quem cala tem medo, quem cala viveu uma vida de opressão, quem cala mal sabe que foi violentada e tem medo de procurar ajuda. Na primeira vez, depois de ter sido levada pra um banheiro por um menino, eu lembro de que tentei me jogar de uma sacada com as costas pra rua e o balcão da sacada quebrou. Eu quase caí no chão e por pouco não aconteceu nada pior. Na segunda, esse outro rapaz me levou pra um banheiro e lá ele me colocou contra a parede, deixando marcas dos meus pés lá. Colocaram uma câmera pra dentro do banheiro e viram que estávamos "transando". Mas eu tava dormindo, inconsciente, não lembro. Só sei que isso aconteceu porque senti uma dor terrível na minha vagina quando acordei, tão terrível que eu mal conseguia me sentar. Depois disso, fui visitar a minha amiga e a mãe dela quis me levar pra casa porque eu "dei no banheiro dela", sendo que ela pagou bebida pra um bando de adolescentes de 15 anos e viu que meus amigos tiveram que me carregar no colo. Ela me chamou de puta, disse que eu passei dos limites e que eu não era companhia pra filha dela. Esse dia foi terrível, eu não lembrava de nada, só da dor que eu senti no outro dia e das minhas amigas me dizendo pra eu "me valorizar". Ela me deixou na esquina da minha casa e eu fui caminhando sozinha e chorando, sem entender nada do que se passava. Como eu podia ter feito algo com ele se eu não lembro? Se foi consensual, por que eu sentia toda aquela dor? Na terceira vez, meus amigos colocaram vodka dentro de uma melancia e eu comecei a beber. Eu tava ficando com um carinha que tava por lá, e depois de um tempo ele me levou pra um quarto. De novo, só lembro de alguns flashes. Ele me dizendo "isso aqui tá seco, me ajuda" e eu tentando virar pro lado e dormir. Eu dormi e ele continuou. Quando recuperei a consciência, liguei pra ele implorando pra que ele não contasse pra ninguém nada do que aconteceu. Como eu gostava muito dele, não soube na hora que eu fui estuprada. Hoje, dois anos depois desses pesadelos, aprendi a me controlar em festas e a não beber, por medo. Reconheço que eu viva um problema sério, porque eu tinha 15/16 anos e acabava inconsciente na maioria das festas e isso não é normal. O feminismo me ensinou que a culpa não é minha, e eu sei disso do fundo do meu coração. Quando ouço qualquer piadinha ou cantada vejo todos os flashes desses dias e é difícil segurar as lágrimas, porque eu era nova demais pra entender o que se passou comigo. É difícil entender quão difícil é pra sociedade aceitar que o estupro não ocorre só nas ruas, que a culpa não está na bebida, na roupa, na mulher, na vítima. A culpa é do estuprador, que foi criado com sua sexualidade precocemente estimulada. A culpa é do estuprador, que vive na sociedade em que mulheres são meros objetos de satisfação sexual masculina. Eu me sinto perdida, sem saber com quem contar e querendo mudar essa merda toda. Vou cursar Filosofia ou Ciências Sociais pra que eu possa lecionar e talvez mudar um pouquinho a cabeça dos meus alunos. Mas tenho medo, de não saber lidar com as críticas, possíveis ameaças e tudo aquilo que nós mulheres temos que ouvir sempre que nos rebelamos contra o que nos oprime. É muito difícil segurar o choro nessas situações e às vezes mal consigo sair de casa por causa das feridas que a violência me causou. Gurias, essa semana foi terrrível. Terrível. Meus amigos compartilhando textos machistas sobre estupro o tempo todo e eu só sentindo vontade de chorar. Muito obrigada por esse espaço pra desabafar, só depois de dois anos realmente percebi que fui estuprada e estou contando pra quem é próximo de mim pra que eu possa, de alguma forma, aliviar essa dor. Esse espaço é muito importante, porque muitas das mulheres não reconhecem a violência e imaginam que as pessoas próximas "nunca fariam isso conosco". Obrigada pelo espaço e pela voz.

Anônima.

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"Oi! Vou escrever esse relato, mas preciso muito que fique anônimo, pois pessoas importantes podem sofrer com ele. Essa é a primeira vez que eu toco nesse assunto. Nunca falei sobre isso com absolutamente ninguém. Acho que isso é uma maneira de se preservar e de fingir que não aconteceu. Eu tinha 17 anos, e tinha ficado com esse cara uma vez. Era em uma cidade bem pequena, um lance escondido, pois ele tinha namorada e eu sabia. Talvez esse tenha sido o primeiro motivo pra eu achar que tinha culpa no que aconteceu. Ficamos uma vez, mas não transamos. Alguns dias depois, em outra festa, nos encontramos novamente. Eu achei que seria da mesma maneira, mas não foi. Estávamos no carro dele, ele disse que me deixaria em casa. Antes disso, ele começou a me beijar, e abaixou o banco do carro, e jogou o corpo com todo o peso em cima do meu. Eu disse que eu não queria, que queria ir para casa, mas ele parecia que fingia não ouvir, continuava falando coisas "doces", que eu era linda, que ele tinha tesão por mim. Eu comecei a gritar, disse que ia sair correndo, e foi quando ele me disse: "Vai, tenta sair daqui debaixo. Você não vai conseguir. Nem adianta gritar, porque ninguém vai ouvir. É melhor você deixar as coisas correrem da maneira mais fácil pra você, porque se EU QUISER te comer, EU VOU te comer, nem que seja à força, e vou te machucar muito". Então, eu tive medo de apanhar, tive medo dele agir com violência, como tinha ameaçado, e deixei ele fazer o que quisesse. Não sei dizer se foi rápido, não sei dizer se demorou. Não lembro direito, mas sei que quando ele terminou e saiu de cima de mim, eu coloquei a minha roupa, saí do carro, e fiz o resto do caminho pra minha casa a pé, sozinha. Eu sabia que tinha sido um estupro, mas também sabia que a vadia seria eu... sabia que as pessoas perguntariam: por que esse cara, por que você entrou no carro dele, você provocou, teve o que mereceu. Sabia que as pessoas diriam que eu DEVERIA saber que ele só queria sexo. Nesse estupro, eu engravidei, e a partir daí, escondi essa história suja em um canto da mente. Nunca contei nada disso a ninguém. Decidi que meu filho não saberia nunca que foi assim que ele foi concebido. Ele acredita que o pai é outra pessoa, que não o assumiu, e desapareceu. Desde essa noite eu só o vi apenas uma vez. E ele olhou pra mim como se... nada tivesse acontecido. Sem culpa, sem nada. Até hoje eu não sei ao certo como essa situação mexeu comigo. Acho que eu me culpei, coloquei na cabeça que eu tinha errado por entrar no carro, por estar de vestido, por estar ficando escondido com um cara compromissado... Consegui refazer a minha vida, tive outros relacionamentos maravilhosos, amei outros homens, fiz sexo com outros sem medo ou culpa... Enfim, consegui deixar essa tristeza de lado, e hoje eu sei que não foi minha culpa. Mas o segredo permaneceu. Até agora, que resolvi contar aqui, para vocês."

Anônima.

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"Sinto finalmente coragem de contar o que aconteceu no fim de 2013. Eu morava sozinha e namorava firme há oito meses. Já fazendo parte de um coletivo feminista, escutava relatos de fazer chorar, mas me sentia segura de que não aconteceria comigo. Meu namorado era tranquilo. Sempre conversamos muito e nos entendíamos bem. Em maio do ano passado, no entanto, o comportamento dele começou a mudar. Vindo de um acampamento de uma seita no Centro-Oeste as conversas dele começaram a focar só sua própria experiência com a religião e nosso relacionamento mudou de rumo. O entendimento mútuo virou conflito constante e eu, agnóstica, acabava acatando os pedidos por vezes absurdos que ele me fazia, pensando que podia estar é me fechando para o entendimento de uma realidade avessa à minha - e assim fui levando até o fim de setembro. Cheguei a pedir pra terminar, mas acabamos voltando porque ele prometeu mudar e ver mais o meu lado da situação. Numa noite no início de outubro, eu estava muito nervosa depois de uma briga feia que tivemos. Tomava (e tomo) remédios para dormir, então falei um "Boa noite" atravessado pra ele, virei pra parede e caí no sono. Literalmente apaguei, não vi nada nas 9 horas que dormi, mas quando acordei pela manhã com uma dor muito estranha na vagina, percebi que havia algo errado. Fui tomar banho, sem acordá-lo, e vi sangue no pijama, na calcinha, em toda parte. Senti dor, medo e muita vergonha, não conversava com meus pais há meses, mas só conseguia pensar na minha mãe (demorei mais dois meses pra contar a ela). Saí correndo do banheiro, meio furiosa, meio confusa e fui tirando a coberta de cima dele, e perguntando se tinha acontecido alguma coisa de madrugada. Achei cínica a maneira como ele perguntou, bocejando "Ué, você não lembra, não?" e fui catando as roupas dele no quarto, junto com sapatos e mochila e atirei tudo no corredor do prédio, pelada, ainda meio molhada, muito nervosa e chorando. Fui pro escritório em choque e não consigo me lembrar de nada que aconteceu entre esse dia e o dia em que meus pais foram me buscar, em meio a uma crise depressiva e me levaram de volta pra casa deles. Foram 15 dias de muito sofrimento e vergonha, dois sentimentos que só se dissiparam quando contei primeiro para minha madrinha e depois para minha mãe. Foi muito importante sentir-me segura e acolhida em meio a essa situação, mas toda vez que eu o vejo na rua, tenho que correr pra algum lugar e vomitar. Não consigo segurar. Obrigada por disponibilizarem este espaço."

Anônima

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Meu relato é mais para ajudar a se reconhecer dentro de um relacionamento abusivo do que pelo estupro em si. Acho que a minha história não se compara com os estupros traumatizantes que vi aqui, mas acho importante que meninas saibam reconhecer a personalidade de um manipulador. Eu tinha apenas 16 anos e era virgem, ele seria o meu primeiro todas as coisas. Eu poderia ter percebido a sua personalidade manipuladora desde os primeiros encontros, mas era muito inexperiente para perceber. Ele tentou tocar meus seios no cinema (nunca ninguém tinha me tocado dessa forma) e eu não queria. Ele ficou repetindo "eu sei que você quer" e continuava a passar a mão por cima e por debaixo da minha camisa. Dentro do cinema sussurrando para não "atrapalhar os outros" eu pedia para parar e ele insistia que eu queria. Chegou uma hora que eu parei de lutar e fiquei vendo o filme enquanto ele me tocava. Eu estava gostando dele. Sabia que muitas meninas faziam doce, achava que era difícil para um rapaz diferenciar "doce" de real falta de vontade. E continuamos a nos ver. Começamos a namorar e fizemos sexo consentido diversas vezes. Um dia ele me disse que queria experimentar sexo anal, eu concordei. Pesquisamos juntos métodos na internet de como fazer sem doer e fomos para o motel para tentar. Ele me beijou e disse "se você quiser parar é só dizer". E doeu e eu disse. Estava de 4, disse que estava doendo pedi para parar. Mas a resposta dele foi completamente diferente do planejado. Ele segurou a minha cintura e disse "agora que entrou você vai ter que terminar". Ele apertava a minha cintura e me puxava contra ele para entrar mais. Eu chorava e tentava sair e ele forçava mais e mais. Ele só me soltou quando gozou. Eu saí correndo e me tranquei no banheiro, não sei quanto tempo fiquei lá dentro chorando. Só sei que ele achou que eu estava me limpando após o sexo e só depois bateu na porta tentando entender o porque eu estava demorando tanto. Eu abri a porta com cara de choro e ele pediu desculpas por ter doído. Eu expliquei mil vezes que não estava chorando pela dor, mas por ele ter me forçado a fazer o que eu não queria, mas ele continuava a repetir que se soubesse que doía tanto nem tinha tentado pois não gostava de me ver sofrer. Ele me convenceu de que não tinha percebido que eu tinha pedido pra parar mesmo eu lembrando claramente dele me segurando à força e dizendo que eu era obrigada a ir até o fim. Paixão com ingenuidade à mercê de uma personalidade manipuladora é uma combinação perigosa. Ficamos juntos muitos anos. Nem todas as vezes que fizemos sexo foi consentida. Muitas vezes eu dizia não e ele insistia que eu queria sim, e como ele tinha ejaculação precoce eu achava mais fácil deixar ele gozar do que brigar. Das vezes que eu queria era até gostoso, mas se ele não conseguisse me fazer gozar eu tinha que me esconder no banheiro para me masturbar porque ele achava que masturbação era jogar na cara dele que ele não tinha me feito gozar. Me proibiu de usar vibrador e se eu fizesse sexo oral nele, após ele gozar ele virava pro lado e me deixava sozinha com tesão, pois a única forma que me era permitido gozar era com o pênis dele, qualquer outra forma era diminuí-lo como homem. Me convenceu a desistir de uma oportunidade de bolsa de intercâmbio. Já casados, ele tentou diversas vezes me convencer a largar a faculdade, teve êxito quando um primo meu faleceu 1 mês após o seu casamento. Eu fiquei muito abalada e me questionei sobre a efemeridade da vida. Ele usou isso para me convencer de que eu estava sendo boba em fazer faculdade pois ele já formado e empregado em empresa pública tinha dinheiro o suficiente para sustentar a nossa família. Eu larguei a faculdade e consegui um emprego que pagava muito mal. Ele começou a exigir que eu fizesse todas as tarefas domésticas pois apesar de nós dois trabalharmos, era o salário dele que sustentava a casa então no final de semana era direito dele descansar enquanto era meu dever trabalhar. Não pense que ele pagava 100% das contas pois ele somou o nosso salário, calculou a porcentagem do meu ganho sobre o dele e nós pagávamos a porcentagem correspondente ao nosso salário das contas. E todas as vezes que eu pedia para ele fazer algo dentro de casa ele me lembrava da porcentagem, dizia que se ele pagava 80% das contas, era justo que eu fizesse 80% do trabalho doméstico. Eu caí na real do que eu estava passando quando fomos comprar uma casa juntos e ao escolhermos a casa ele se recusou a colocar o meu nome no contrato. Disse que se ele ia pagar 80% da casa e que não era justo que eu tivesse 50% da propriedade. Eu me olhei no espelho, vi a melhor aluna da sala que passou no vestibular de todas as federais na primeira tentativa sem diploma na mão. Lembrei da minha mãe que foi convencida pelo meu pai a não terminar o segundo grau pois já era uma "mulher casada" apanhando do meu pai sem ter para onde ir. Exatamente igual às suas duas irmas. Me vi entrando aos poucos nessa vida pela qual todas as mulheres da minha família passaram. Eu me separei dele e voltei a cursar a universidade. Troquei a federal por uma particular com fama de pagou-passou, mas que a mensalidade cabia no meu orçamento. Para poder trabalhar de dia e estudar de noite. Meu salário triplicou em 2 anos e estou quase me formando.

Anônima.

Resposta da página:
Acho importante ressaltar que a causa desse tipo de abuso não é a "ingenuidade" da vítima. Tanto essa "ingenuidade" (que faz com que nós, mulheres, nos prendamos em relacionamentos abusivos) quanto o comportamento do agressor que "manipula" são expressões de um mesmo problema: o machismo.
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Bom, vou começar pelo começo. Meus pais se separaram quando eu tinha seis anos e meu pai foi morar fora. Depois disso, minha mãe sempre se relacionou com caras estranhos e os colocava pra dentro de casa. Até um tempo atrás eu me sentia super sortuda por nunca nada ter acontecido comigo, mas depois, vendo os depoimentos das outras pessoas que já passaram por isso eu me dei conta da minha situação, mas demorei muito pra aceitar. Parece que quando negamos fica mais fácil de viver, de conviver. Eu fui abusada pelo meu irmão, que é 2 anos mais velho que eu, eu devia ter uns 10 anos, ele 12. Eu não me lembro muito bem, mas sei que éramos pobres e, como no sul faz muito frio, tínhamos que dormir juntos. Nossa mãe nunca deu muita bola pra nós, então éramos livres, e esse era o problema. Eu não sei até que ponto ele tinha consciência do que ele estava fazendo, mas isso não faz dele mais inocente. Ele me tocava, eu acordava durante a noite e minha mão estava no pênis dele, era horrível. Eu contava para a minha mãe, mas ela estava sempre muito bêbada pra fazer algo. Eu achava que não era abuso, não teve uma penetração com o pênis. Depois que eu falei para a minha mãe ele parou de fazer, mas isso não diminui a minha dor e nem deslegitima o que passei. Alguns anos depois quando eu tinha 16 anos, eu ficava com um cara mais velho, ele tinha 22. Um dia ele me convidou pra ir na casa dele, eu era virgem. Aceitar foi o meu erro. Estávamos nos beijando, e ele começou a tirar a minha roupa mesmo eu dizendo que não queria, e mesmo eu dizendo que não ele me penetrou e fez o "que tinha que fazer". Foi péssimo, doloroso, no final ele disse: - eu não deveria ter feito, tu disse que não queria. E eu DEFENDI ELE. Depois disso ele começou a ficar com a minha melhor amiga porque ela era "melhor de cama". Eu fico muito triste em saber que, entre todos os jeitos de perder a virgindade, o meu foi o pior. Depois, no dia 27/12/13 sofri uma tentativa de estupro por um estranho, enquanto andava na rua durante a noite, sozinha. Eu estava passando mal porque tinha tomado um anti-alérgico e ele não me fez bem. Não me lembro nem do rosto do cara, e nem direito do que aconteceu. Sei que ele me perseguiu, eu gritei, e se não fosse um homem ter parado de moto na hora que eu gritei, acho que ele teria me estuprado. Foi na esquina da minha casa. Depois disso, eu comecei a entrar em pânico toda a vez que saía sozinha de casa, de dia ou de noite. Meu pai e meu irmão ficavam me aterrorizando depois do acontecido para que eu não saísse sozinha e não usasse determinadas roupas. Me culpando pelo que aconteceu. Tudo isso me levou a procurar auxílio psicológico. A primeira vez que falei disso foi um mês atrás, para a minha psicóloga. Eu tenho atualmente 19 anos. Tenho raiva de mim mesma por ter medo, é difícil não se sentir culpada. Mesmo sendo feminista, fazendo parte de um coletivo e lendo muito sobre, a sociedade faz com que nos sintamos culpadas. Aí vem a grande questão: Achar os culpados realmente resolve? o problema foi a minha mãe não estar lá, foi o meu pai não estar? foi minha culpa ter ido na casa do cara mais velho? Foi minha culpa ter saído de noite sozinha? É dos homens por existirem? São perguntas que, mesmo se respondidas, não vão solucionar nada. O grande problema é a objetificação do corpo da mulher, o patriarcado, o machismo e a reprodução dele por parte das mulheres. Acho que na vida da gente as coisas tendem a se repetir se não aprendemos com elas. E infelizmente, o que as mulheres em geral aprendem é a temer. Fazer parte das estatísticas não estava nos meus planos.

Anônima

Resposta da página:
Querida,
A ideia de que "quando negamos fica mais fácil de viver" é muito comum e, também, muito equivocada. Esse tipo de agressão sempre nos afeta e prejudica nossas vidas; a melhor maneira de lidar com esse tipo de coisa, por mais difícil que possa ser no começo, é enfrentando o problema. Você faz muito bem em se envolver com o feminismo e em procurar tratamento psicológico. É de grande ajuda!
Sobre o seu relato: Não sinta raiva de você mesma. Sim, é muito difícil não se sentir culpada, mas é muito importante que você se esforce. Você está muito certa quando levanta essas questões. Não, o problema não foi a sua mãe ou o seu pai não estar lá; não, não foi sua culpa, a culpa nunca é da vítima, aceitar ir à casa dele não foi um erro seu. O grande problema é o machismo, como você mesma diz. Fazer parte dessas estatísticas não está nos planos de ninguém... E a única forma de mudar isso é com o feminismo.
Achei curioso você ter levantado a questão da culpa ser "dos homens por existirem", e de afirmar anteriormente que o cara "fez o que tinha que fazer". Não, ele não "fez o que tinha que fazer"; ele violou o seu corpo, ele te estuprou. Isso não é natural. São muitas as pessoas que justificam o estupro pelos "instintos masculinos" -- dizendo que "homem é assim mesmo", que "homem não controla seus impulsos" -- o que é uma enorme besteira. A resposta é não, a culpa não é dos homens por existirem, não é dos "incontroláveis instintos masculinos". A culpa é do machismo, é da cultura do estupro que naturaliza esse tipo de violência.
Muita força. Estamos juntas.
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"Quero primeiro agradecer pelo espaço. E pedir para manter meu anonimato, por favor!! Eu só preciso falar... Depois de semanas e semanas pensando, revivendo, tentando entender, encontro este espaço, e finalmente, tento trazer o meu relato, aquele que tantas vezes comecei a escrever e apaguei. Desculpem pela escrita truncada. Eu ainda não sei o que fazer com o descobri, e este desabafo é quase um pedido de ajuda. Porque aconteceu há 8 anos, mas a ficha só caiu há 2 ou 3 meses. Demorei 8 anos para reconhecer o abuso que sofri. E mesmo assim, ainda não sei dizer se foi estupro. Ele não era meu namorado, não era um amigo, era um conhecido. Mas mesmo que, dentro da minha percepção do que é um estupro, meu relato se encaixe (acho que eu classificaria isso como estupro se tivesse acontecido com qualquer outra mulher), não consigo me assumir como vítima. Porque eu não gritei, eu não chorei, eu não bati, eu não insisti na negativa, eu fui até o quarto dele caminhando, com minhas próprias pernas, eu me deitei na cama dele porque eu quis. Pelo menos isso é o pouco que eu lembro. Eu tinha uns 20 anos, já tinha transado com alguns caras e estava num recente término de namoro. Fui pra um festa onde, ao acaso, acabei encontrando esse carinha, um conhecido da época da escola, que deve ser uns 4 anos mais velho que eu. Eu não curtia ele, achava ele meio mala, não tinha o menor interesse em ficar com ele. Mas aí a gente começou a conversar, começamos a beber, eu já tava bem alta e disse que ia embora. Tudo de boa. Ele disse "Eu te levo". Agradeci e neguei; ele insistiu. Acabei aceitando e, sim, de verdade eu acreditei que ele me levaria pra casa. Quando saímos do bar, ele me agarrou, me colocou contra o muro e começou a me beijar. Eu não tava a fim, mas eu deixei. Até aqui, ele não tinha como saber que eu não queria. Paramos de nos beijar e pedi pra ir pra casa. Não lembro direito do que aconteceu no carro, eu tava muito bêbada. Mas acho que não rolou nada. Não sei se eu consenti, se ele me convenceu, mas ele parou o carro em frente à casa dele. Subi com ele as escadas até o quarto. Ele me deitou na cama, começou a me beijar e foi tirando minha roupa. Não pedi pra parar, mas também não tomei nenhuma iniciativa. Eu estava enjoada e meio sem ação por causa da bebida, meio entorpecida. Aí eu apaguei. Não sei quanto tempo dormi, mas acordei com ele fazendo oral em mim. Fiquei meio apavorada, queria que ele terminasse, queria ir embora. Eu lembro vagamente de ser penetrada, porque fiquei pensando "será que ele colocou camisinha?". No momento em que acordei, foi a primeira vez que pedi pra ele parar. Pedi pra ir embora. Não consegui mais segurar e disse que ia vomitar. Como não deu tempo de ir até o banheiro, vomitei no chão de carpete do quarto dele (minha pequena vingança). Ele começou a se vestir, coloquei minha roupa e ele me levou pra casa. Fomos em silêncio, nunca mais nos falamos. Vi ele na rua poucas vezes, sempre desviei. Ele me adicionou no FB esses tempos, eu bloqueei. Eu sei que ele não deveria ter prosseguido com o sexo quando eu apaguei. Mas como eu vou assumir o papel de vítima se, pelo que me lembro, eu só disse "não" durante o ato? Isso acaba comigo, porque eu poderia ter negado, eu poderia ter reagido. Só que, na época, eu não percebi que eu tinha essa escolha, não consegui escolher."

Anônima.

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O que aconteceu com você foi estupro. E por mais duro que seja reconhecer isso, é um primeiro passo para a superação (tanto a superação pessoal como a coletiva, já que é preciso trabalhar na conscientização de todas as mulheres para que esse tipo de violência pare de acontecer).
Um ponto é muito importante: o fato de uma vítima não ter, literalmente, dito "não", não significa que foi consentido. Nós, mulheres, aprendemos desde a primeira infância a guardar o que sentimos. A sociedade machista nos ensina a ter "medo" de dizer não, a sentir "vergonha" ou se sentir "inadequada" por não querer sexo, a colocar as vontades masculinas na frente das nossas... 
Você não queria ficar com ele, isso estava na sua cabeça. E mesmo que você não tenha verbalizado isso, ele ignorou a sua vontade e seguiu em frente, satisfazendo a dele. O fato disso te afetar tanto na sua vida pessoal, por anos, evidencia como o seu corpo foi, sim, violado. Essa sensação de impotência, de falta de autonomia, de medo é muito nociva, e infelizmente está presente na vida de milhares de nós.
É de extrema importância que você tenha em mente, sempre, que a culpa NÃO foi sua. A culpa foi dele, e do machismo da sociedade que nos transmite esses modelos de conduta. Por isso o feminismo é tão importante.
Muita força, e saiba que você não está sozinha nessa luta.
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"Eu tinha 15 anos, ele, 19. Era meu melhor amigo, meu primeiro beijo, meu primeiro namorado. Juntos há mais de um ano, ele estava me ajudando a descobrir o sexo, assunto que muito me interessava. Porém, eu tinha total ciência de que ainda era cedo para começar a praticá-lo totalmente, e por isso "brincávamos" com o que nos interessava (mão aqui, mão ali, mostra o seu que eu mostro o meu etc). Curiosamente, mesmo adolescente, eu me abria demais com minha mãe, que já tinha me ensinado tudo sobre prevenção e chegava ao ponto de mencionar "aborto" caso algum acidente acontecesse. Mas eu sabia que não queria nada disso, não naquele momento. Continuamos "brincando". Um dia, ele foi além na brincadeira. Subiu em cima de mim, tentou tirar minha calça à força, começou a se mexer desesperadamente. Lembro de me assustar por não conhecer bem a intensidade dos movimentos sexuais, achei aquilo tudo meio primitivo. Comecei a empurrá-lo, só que desta vez ele não cedia. Sim, eu já estava um pouco acostumada a botar um limite nas brincadeiras, mas desta vez não rolou. Ele era bem grande, gordo, e eu era pequena. Tirei toda a força de mim para chutá-lo e, quando ele levantou, foi ao banheiro e se trancou. Pensei que fosse por vergonha, e abri a porta para conversarmos. Dei de cara com ele batendo uma punheta e, assustada, fechei a porta e saí correndo. Ele veio atrás, temendo que eu fizesse um escândalo, contasse pros meus pais, mas eu não fiz nada. A partir daí, o namoro começou a degringolar, e eu não admitia que tinha sido por isso. Dava variadas desculpas. Isso porque, quando fui contar para minha mãe, ouvi de sola: "mas você tava provocando, ele não ia se conter". Aquilo de certa forma fazia sentido para mim, era o ambiente no qual eu havia sido criada. Quem provoca, sendo mulher, leva troco. Peguei um nojo imenso dele, que perdura até hoje. E ele, pra piorar, decidiu virar o maior stalker que já conheci, desses que você já bloqueou de todas formas, mas ainda assim aparece vendo seu LinkedIn, comenta de você para suas amigas de infância, se faz presente de alguma forma (isso aconteceu há 18 anos). Levei anos até saber que aquilo era estupro, e que aquilo não era minha culpa. Lidei até bem com isso, com ajuda da terapia. Mas o que ainda me machuca, e muito, é a posição da minha mãe. Anos de convicção de que a vítima é sempre culpada não vão sair assim, tão fácil, da cabeça dela. Ela ainda minimiza, ainda acha que foi bobagem, e chegou até a aceitar a amizade dele e conversar via redes sociais. "Morro de dó, ele ainda é apaixonado por você". Não, ele é doente, e eu quero ele longe de mim."

Anônima.

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Oi. Vou enviar esse relato anonimamente. Essa página me fortaleceu e apareceu justamente no momento em que eu tinha acabado de "descobrir" que fui estuprada. Desculpem pois é meio longo... Ele era amigo de vários amigos meus. Ficamos. Ele foi fofo, saímos por um mês, não transamos. Mas eu estava entrando na faculdade e percebi que ele estava apaixonado e eu não, e eu queria conhecer outras pessoas... tentei me afastar. Um dia eu saí de casa e vi na esquina dois vultos, fiquei meio assustada porque um deles veio em minha em direção. Era ele. Como tinha descoberto meu endereço? Enfim, ele me pediu em namoro e eu, tentando ser mais gentil possível, não aceitei, disse pra sermos só amigos. Ele disse que tudo bem. Chegamos a ficar algumas vezes depois, por acaso, por nos esbarrarmos em algum evento. Eu comecei a namorar outra pessoa. Uns três anos depois de quando nos conhecemos, voltamos a ficar com mais frequência. Ele me chamou pra viajar com amigos e dormimos juntos. Achei ele muito afobado, parecia ter muita ânsia de transar mas dificuldade de gozar. Sempre tentava agradá-lo mas chegava um momento em que eu ficava cansada e queria que acabasse logo. Eu mesma não conseguia chegar ao orgasmo na maioria das vezes mas ele sempre tinha que chegar, parecia até que queria provar pra si mesmo que era macho, sei lá. Fui achando estranho porque ele parecia não se importar com o meu prazer. Tudo o que ele fazia ou falava na hora do sexo era pra aumentar (de um jeito até forçado) a libido dele mesmo. E exigia muito de mim, até porque ele só conseguia gozar quando estava totalmente relaxado eu até achei bom pra aprender a ser protagonista no sexo, ficar mais por cima, e tal. Mas fui percebendo que eu não era protagonista coisa nenhuma, eu só me cansava pra fazer as vontades dele. Fui me sentindo usada. Ele não parecia mais ser aquele fofo de antes, que tinha até feito uma música inspirada em mim! Agora só me ligava final de semana, pra me comer. Até que decidi não sair mais com ele. Mas um dia, quando eu estava num bar com minhas amigas, ele ficou mandando vários torpedos desesperados querendo me encontrar e dizendo que estava ali perto, e eu achei melhor ir falar com ele, até pra explicar que achava melhor não sairmos mais e que tava me sentindo usada. Mas eu estava indecisa se voltava pra casa ou ia mesmo falar com ele. Cheguei a entrar no carro da minha amiga mas ainda indecisa, lembro que ela me perguntava a cada mudança de escolha minha se eu tinha certeza. Até que eu tive certeza: saltei e fui falar com ele. Escolha errada. Ele já estava no carro dele estacionado com a porta aberta, me esperando. Mas nos torpedos tinha dito que estava com amigos. "ué, mas vc não estava com seus amigos bebendo?" "eles já foram embora". Eu fui sentar no carro pra conversar com ele, vi que ele estava bêbado com cheiro forte de álcool, mas mal eu sentei, lembro nem se fechei a porta, ele arrancou, cantou pneu, o carro muito rápido, e eu fiquei com medo. Eu disse que só queria conversar um pouco, que estava cansada e queria ir pra casa logo... eu ainda estava pensando no que que eu poderia fazer, como eu saía dessa, estava confusa... ele me levou direto pra casa dele, isso nunca acontecia assim. Tentei me acalmar "ele só deve estar muito bêbado e meio sem noção". Quando saímos do carro eu tentei dizer de novo que só queria conversar, ele disse pra gente conversar lá em cima, eu fui. No apartamento dele tinha uma grade no corredor e depois a porta da casa dele, ele trancou as duas, (lembro que fiquei assustada nessa hora) e começou a me beijar e tirar minha roupa. (o relato pode estar meio confuso porque a partir daí só lembro em flashes). Eu pensei "Bom, já que eu fui burra de aceitar subir, agora vou ter que transar, né. Tomara que seja rápido." Mas o pesadelo estava só começando. Ele pegava minha mão e botava no pau dele, quando eu aceitava chupar ele pegava minha cabeça pra forçar os movimentos, me puxava pra sentar nele, tudo de um jeito um pouco mais agressivo do que ele já costumava fazer. E eu totalmente sem tesão. Mas não considerei um estupro porque ele não me machucou, e eu não cheguei e empurrá-lo ou brigar, só comecei a dizer que não queria, que estava cansada, cheguei a me trancar no banheiro fingindo que estava passando mal e mesmo assim ele insistia. Hoje eu sei que é estupro. 'Descobri' que era um "date rape". Será que eu não me machuquei mesmo? E eu penso: até que ponto a violência física deixa mais marcas que a psicológica? e dá pra separar as duas? Eu lembro que quando ele dormiu eu quis fugir e sentei no sofá já colocando o sapato pra ir embora visivelmente incomodada e na hora que olhei pra cima tinha um pênis sendo empurrado na minha boca, e mesmo virando a cara ele continuou ali roçando meu rosto, isso não é violência física? Quando se 'aceita' fazer oral desse jeito sem prazer nenhum e ainda ficam empurrando sua cabeça quase te sufocando e te fazendo vomitar, não é violência física? Eu só consigo lembrar disso porque nessa hora a luz estava acesa e parecia mais real, mas e quando estava escuro? Eu lembro vagamente de fazer coisas mecanicamente e sentir dor por não estar excitada, mas minha cabeça tentava não se concentrar naquele momento... então isso tudo parece uma coisa boba, daquelas que você esquece por não dar importância... Mas quando consegui convencê-lo de me deixar ir embora e ele insistiu pra me levar pra casa, e chegando lá se despediu como se nada tivesse acontecido, eu só olhei pra ele desejando que aquela fosse a última vez e que eu nunca mais o visse, e quando entrei em casa, meio atônita, sentei e comecei a chorar... e me senti culpada, desde ter entrado no carro até ter deixado tudo acontecer... ele me pediu desculpas depois dizendo que estava bêbado e não lembrava de muita coisa, eu tentei marcar uma conversa com ele mas não tive coragem... então só expliquei pra ele algumas coisas virtualmente mesmo, e na única vez que esbarrei com ele por acaso há pouco tempo, dois anos depois do ocorrido, não tive coragem de falar nem um "oi", falei com nossos amigos em comum que estavam com ele, que nada sabem da história, mas ignorei sua presença. Já não sei até que ponto sou dona do meu corpo, se tem mais abusos por aí escondidos na minha percepção de 'bobeira', 'normalidade', que eu possa descobrir ou lembrar só depois... isso tudo é muito assustador.

Anônima.

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