[Praça de Serdin - Meio-Dia]
Eu até que vi as exigências de paleta de cores para o festival mas acontece que eu não tinha nada que se encaixava adequadamente. Apenas abri o guarda-roupas e procurei o que mais se assemelhava, e era essa. Evitei as peças verdes e tratei de arranjar algumas alaranjadas para usa-las no lugar.
Também confesso que não estava afim de participar de outro evento cultural daquele lugar, tudo remetia a deuses que eu jamais havia ouvido falar… Mas Malygos insistiu tanto e já que o quartel parecia um criadouro de aranhas eu resolvi ir. Para chegar mais rápido usei da ajuda das rochas o que deixou minhas calças um tanto empoeiradas, mas nada que algumas batidas de mão não resolvessem.
Depois de tanto tempo adormecido eu queria voltar a frequentar os eventos humanos, sempre tive esse desejo estranho e claro que eu teria que arrastar o dobrador comigo, eu jamais o perderia de vista.
Encontrei roupas adequadas para a ocasião, convenci o babaca da terra e fomos direto para Serdin. Tomamos um café reforçado e saímos bem cedo para conseguirmos chegar antes do meio dia.
E realmente deu certo, acabamos chegando até um pouco antes do esperado. - Já fazem anos desde minha última passada por aqui. - Observava cada canto, cada detalhe, cada aroma de magia que fluía daquele lugar.
Passeava pela praça com calma. Possivelmente havia perdido a líder por algumas horas, então aproveitava para caminhar tranquilamente pela multidão com a pequena ruiva quase em uma coleira.
Eram muitas pessoas. E era uma criança muito hiperativa.
Assim, sua tranquilidade não era realmente tranquila, mas lá estava ele. Olhando ao redor reconheceu duas figuras e instantaneamente um sorriso abriu-se em seu rosto. Claro que não perderia a chance de sacanear Kanji passeando por aí.
Ajeitou os panos de sua blusa e com passos rápidos aproximou-se. Elesis esforçou-se para correr atrás dele. - Ora ora, o que temos aqui. Um infiél e seu companheiro. - O sorriso não havia deixado seu rosto.
Andava vagarosamente ao lado do loiro, quase que deixando-o ir embora, não estava tão animado quanto ele para aquele festival. Talvez alguma comida ou tradição local me anime…
- Então você já esteve aqui antes daquilo… - Comentei. Então avistei a figura conhecida se aproximando e torci o nariz, é claro que ele estaria em um evento desses mas com tantas pessoas por ali ele tinha que vir em minha direção?
Revirei os olhos. - Bom te ver também Sieghart. - Infiél? Tsc… Lá vem ele com esse papo mais uma vez. Chato.
- Sim, eu gostava daqui. - Parei quando o outro se aproximou e voltei o olhar até ele. - Malygos. - Repeti meu nome, talvez a cabeça cansada de um avatar não fosse boa em guardar nomes.
Notei o desgosto do moreno, apenas abri meio sorriso. - Eu já te expliquei que você realmente está só se enganando com os contos do periquito das areias. - Dei de ombros, já estava cansado de falar as verdades de Hórus para o rapaz.
O moreno riu. - É sempre bom me ver. - E tão logo junto sua frase na seguinte. - E é bom saber que mais alguém aqui compreende as verdades da vida… Malygos. - Falou com certa jocosidade, repetindo o nome que conhecia, mas que pelo visto ele se ofendia se não chamado da maneira correta.
A menina finalmente alcançou os adultos, respirando fundo antes de começar a escalar Sieghart para poder ver os outros de perto. - Achei que você não podia vir nesse evento. - A menina soltou, olhando para Kanji. - Você sendo um traidor das Deusas e tal.
O imortal soltou um risinho.
O ego do imortal era tão grande que eu me sentia embrulhar a barriga só de ouvir seus auto elogios. - Ah, ótimo, agora vão se juntar para falar sobre as deusas e blá, blá, blá… - Resmunguei. E ainda por cima até a mini Elesis! - Eu não sou um traidor, muito menos infiel. - Bufou.
Por que Sieghart? Por que eu não posso encontrar uma pessoa mais agradável? Não é preciso muito…
- Realmente, você não é traidor nem infiel… Só um iludido. - Dei de ombros e voltei o olhar para o imortal. - Não me lembro bem desse evento, as festividades serão mais a noite? - Perguntei, talvez essa informação estivesse no bilhete no quartel mas eu não havia prestado atenção aos detalhes, apenas no negritado e riscado que dizia sobre as vestes.
Alguém queria mesmo que todos seguissem a mínima exigência do evento… Talvez houvesse algum histórico de má conduta.
-Não precisamos nos juntar para constatar o óbvio. Porém entendo que você queira disfarçadamente mudar de religião, nunca é fácil quando todos esperam de você que seja idiota né. - A menina soltou um “aaah” como se tivesse compreendido de tudo. Ele apenas riu.
Por fim, respondeu ao outro. - Pelo que eu entendi, além da necessidade da Elesis que todos usassem roupas das cores certas, exceto o Azin que com certeza vai chegar alegando daltonismo ou algo do tipo, o resto das festas vai ser mais a noite. - Deu de ombros. - Até lá comida e bebida liberados, praticamente.
Encarei Sieghart. - Ei, ei, você só fala besteira em? - Suspirei. - Eu jamais mudaria de religião, Hórus é um salvador para o meu povo. - Eu não iria simplesmente acreditar no que Malygos relatou sobre Hórus, eram coisas absurdas demais para serem verdadeiras…
- Eu já mostrei pra ele a verdade, mas ele simplesmente se recusa a aceita-la. Mas tudo bem, com o tempo vem a aceitação. - Sorri para o moreno. - Não é mesmo?
- Ah sim, obrigado. - Então me virei observando a rua no geral, haviam alguns pontos de comida e o cheiro era agradável, talvez devesse aproveitar e almoçar de uma vez. - Kanji, em vez de ficar tagarelando, que tal ir encher a boca? - Sugeri.
-É o primeiro estágio. - Garantiu o imortal. - Aceitação é uma estrada longa, mas com a ajuda de uma verdadeira religião fica mais fácil. - Levou uma mão ao ombro do dobrador, apenas como se estivesse dando algum tipo de suporte para ele. Sorria jocoso.
Elesis, por outro lado, ao ouvir a mísera menção a comida, pronunciou-se. - Doces! Eu vi tortas, várias delas, mais para lá! - Apontou.