Misread Thoughts

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Velha Casa

As chamas consomem da base ao teto aquela velha casa.

Distante e isolada no campo, viveu alguns dias alegres mas suas paredes eram manchadas e sujas.

Passou por incontáveis reparos.

Houve um momento em que suas fundações foram reforçadas e paredes firmes levantadas.

Suas portas e janelas sempre estiveram abertas e suas salas eram um lugar de acolhimento.

Depois dessa reforma um sopro de verão trouxe nova vida.

Paredes foram pintadas, cortinas penduradas e a luz do luar trazia a paz.

Ela estava começando a se tornar um lar. Um espaço que finalmente seria capaz de acolher uma família.

Porém uma fiação mal consertada gerou um curto circuito.

As chamas ainda a consomem, algumas se tornam apenas brasas com o cair da chuva.

O que restará dessa velha casa ninguém sabe. Poucos tem coragem de se aproximar do calor e muitos se queimam.

O que sobra são apenas cinzas. Sopros mesquinhos e cínicos carregam o pouco que restou para longe.

Algo novo será constuído no lugar. Poucos pedaços queimados procuram um espaço dentro desta construção. 

No momento quase nada pode ser abrigado. Ela ainda precisa de cuidados.

Mas continua esperando aquele sopro de verão em uma noite de luar.

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Me perdi por tempo demais.

Esqueci quem eu sou duas vezes nessa vida.

Durante o pior momento que passei.

E infelizmente durante o melhor.

Depois do pior, trilhei um caminho para reconquistar quem eu sou, minha auto confiança, meu amor próprio e como queria seguir minha vida. Voltei com essa pessoa que fez eu me perder, mas dessa vez encarei as realidades da nossa relação e consegui terminar. Foi o momento final de superação.

Após isso ia me fechar para relacionamentos como já fiz antes, e como fiz no momento de me redescobrir.

Mas o acaso, as coincidências ou talvez o destino fizeram eu entrar em contato com a pessoa que mais mexeu comigo. Não pelas experiências passadas, muito menos pelos sinais que me levaram até ela. Mas sim pela pessoa que descobri. A pessoa por quem me apaixonei pouco a pouco e que ganhou um espaço gigantesco dentro do meu coração. O maior espaço que alguém já ocupou. E se tornou a pessoa que mais confie.

Por conta de um evento fatídico que aconteceu uma série de traumas foram religados dentro de mim e passei por um momento de estresse pós traumático. Me comportei da pior forma que já havia me comportado e tinha achado que nunca mais ia chegar a esse ponto. Para somar estava em um momento da minha vida em que os meus maiores sonhos estavam se tornando realidade, e ao mesmo tempo existia uma pressão para mante-los. Isso fez com que eu errasse no trabalho, com os amigos e o mais difícil, com essa pessoa.

Depois de uma sucessão de atitudes erradas durante um bom período fui perdendo pouco a pouco a confiança em quem eu sou e no que eu sinto.

Estou vagarosamente retomando essa confiança. E aos poucos quero reconquistar a confiança dos outros em mim. O primeiro passo está sendo com meus pais.

Infelizmente a primeira e maior conclusão que cheguei nesse processo é que o amor que sinto por essa pessoa é verdadeiro, sincero e o maior de todos. Os sonhos, os anseios, a forma como cuidávamos um do outro, o carinho, o amor, absolutamente tudo. Sem me mudar e sem querer forçar nada ela me deu os momentos mais felizes da minha vida e eu pude ser eu mesmo com ela.

Com muito esforço venho lutando para resgatar tudo aquilo que perdi em todos os âmbitos. Mas essa dor que sinto pela falta dela me prejudica. Vou me distrair, me cuidar e firmar quem eu sou novamente e não me tornar outra pessoa, mas sim a versão mais verdadeira de mim, aquele que descobri depois de tudo que passei. Com garra e afinco vou ficar bem porque sei quem sou, sei o que passei e sei o que vou ter que encarar daqui pra frente. E não vou mais mentir pra mim, quero lutar com todas as forças que tenho para reconquistar essa pessoa que quero na minha vida. A maior dificuldade é não procurar ela nesse exato momento e dizer que eu entendo o que temos, entendo o que passei, entendo o que eu quero e que preciso dela na minha vida. A dor maior ainda é que sei que não posso procurar ela em momento algum, talvez nunca mais a veja, e isso me tira meu chão. A única forma de eu a procurar é se um sinal me mostrar o caminho. Ou se ela vier até mim.

Mas eu sou capaz de atravessar um mar em chamas para voltar para os braços dela.

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Funambulismo

Corda tensa

Quem vê pensa

Corda frouxa

Para troxas

Vida estica

Tristeza pesa

Eu equilibro

Alegria pesa

Nem fraco

Ir do sul

Nem forte

Para o norte

Muito é leve

Pouco pesa

Passado desimporta

Se a corda é torta

Lembrança do futuro

Equilibrei no muro

Mas que muro?

Qual futuro?

Pouco importa

Pendo a um lado

Só a corda

Pendo ao outro

Nada atrás

Só a corda

Nada a frente

Nada mais

Sem querer

Sonhos perdidos

Ainda sigo

Vontade esquecida

Perdi muito

Menos o ritmo

Meu equilibrio

Assim sigo

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The Three Norns Winding the Rope of Fate (1910) - Arthur Rackham Illustration for “Siegfried & The Twilight of the Gods” by Richard Wagner

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Meu corpo está cansado de suportar a máquina do mundo. Os sentidos em alarme gritam: O demônio tem mais poder que Deus. Preciso vomitar a vida em sangue Com tudo o que amaldiçoei e o que amei. Passam ao largo os navios celestes E os lírios do campo têm veneno. Nem Job na sua desgraça Estava despido como eu. Eu vi a criança negar a graça divina Vi o meu retrato de condenado em todos os tempos E a multidão me apontando como o falso profeta. Espero a tempestade de fogo Mais do que um sinal de vida.

O Exilado | Murilo Mendes

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