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@oldvows / oldvows.tumblr.com

ana, prazer.
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vou-me embora, desta vez,

é a sério.

não quero o lenço branco ondulante

apenas o silêncio

de quem não se despediu.

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seguem sem nós

e os joelhos remoem

grãos, mas,

ao virar da esquina ainda

vejo um rosto familiar

a morte que promete

voltar

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a minha boca serve

-te calada

o prazer de um silêncio

sempre e só

apenas obediente

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enterra os punhos

na carne que rosna

pois a dor, essa,

não tem fome

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estar tão só que

a sombra nem escurece 

e o caminho

não ouve os nossos passos 

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mas será que morremos verdadeiramente se ninguém lamentar a interrupção da nossa existência? ou ficamos apenas estendidos, seja esquecidos, em valas comuns sem uma lágrima conhecida para humedecer o nosso nome e um arranjo floral de qualquer combinação colorida e cheirosa que sirva de pista para o último sítio na terra onde a nossa presença corporal foi avistada.

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Aqui, como já lhe disse, fabricamos vidas. Pegamos em personagens de papel, finas como as páginas onde vivem, e damos-lhes existência. O ideal é ter personagens de terra, mas para isso precisamos de as fazer viver entre os homens, fazê-las ir às compras, fazê-las expor as suas criações, exibir os seus pensamentos, serem citadas, serem faladas. Ouça, Sr. Marlov, a existência é feita de testemunhos. Sem isso não há nada. O "outro" é quem faz com que nós existamos. Sem percepção, não há nada. Esse est percipi, dizia Berkeley com toda a razão: ser é ser percebido. Nós existimos porque há testemunhos, há espelhos por todo o universo. As relações com o "outro" é que nos criam a nós. Não há barulho quando não há ninguém para o ouvir.

A Boneca de Kokoschka (2010) de Afonso Cruz

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