“Olhou-se no espelho. Não se sentia bonita, não via nada que fosse de fato admirável naquele reflexo, pelo menos nada na aparência. Lembrou-se dos momentos vividos em que até se sentiu jeitosa. Vazio. A dor trouxera à memória “Você era tão linda, tão magrinha!” “Como ela era amável, doce. Ela está gordinha, mas continua bonita.” O que os fantasmas do passado e aquelas pessoas próximas sabiam sobre ela? O que ela sabia sobre si? Definitivamente estava bem perdida, recuperando-se da anestesia que o choque com a vida lhe aplicara. Estava finalmente acordando do transe de quem vivera anos como se tivesse levado uma pancada tão forte na cabeça que flutuante tentava entender o que lhe acontecera. Não estava disposta a continuar apenas existinto. Queria viver. Desejava a intensidade de ser, de estar, de fazer, de sentir tudo. Fitando os olhos da imagem refletida, respirou. Guardou os medos, colou o último caco de seu coração, e decidiu tomar a caneta das mãos do aleatório para escrever sua própria história. Vamos lá, está na hora de começar a viver, menina!” Nicolle Oliveira
#desengavetandonicolle