Notícias do Condado
Por Guilherme Mazzafera
Duas semanas após o anúncio da aquisição dos direitos da obra de J.R.R Tolkien pela HarperCollins Brasil, as novidades não param. No último domingo, 25, foi realizado na Reserva Cultural, em São Paulo, uma apropriação nacional do Tolkien Reading Day, evento originalmente criado pela Tolkien Society com o intuito de difundir a obra do Professor de Oxford e cuja data remete, nos registros do Condado, ao dia em que Um Anel foi destruído. O evento paulista contou com a presença do editor responsável pelas novas publicações de Tolkien por aqui, Samuel Coto, com o Publisher Omar Souza e com o tradutor da nova edição de O silmarillion, Reinaldo José Lopes, que apresentou uma breve palestra intitulada “O valor literário de J.R.R.Tolkien”. Aliás, este parece ser o mote subjacente à proposta editorial: conferir a Tolkien o status que ele já desfruta em outras partes do mundo, a de um autor canônico ou ao menos incontornável para pensar certas questões fundamentais da vida e da literatura do século XX até o presente.
Transmitido ao vivo pela internet, o evento teve por intuito apresentar os planos da editora para os próximos anos bem como dar voz às demandas dos leitores. De modo geral, a editora se compromete, num prazo de sete anos, a publicar todas as obras escritas por Tolkien e as editadas por seu filho, Christopher Tolkien, incluindo as não pertencentes ao Legendarium, como os ensaios acadêmicos, e, sim, os 12 volumes da History of Middle-Earth. As edições serão majoritariamente em capa dura e terão o mesmo tamanho, respondendo, assim, a demandas antigas dos fãs. As principais obras (O hobbit, O senhor dos anéis e O silmarillion) provavelmente terão mais de uma versão, inclusive de luxo e/ou formato box. Há também o interesse de atingir o público infantil por meio de edições específicas e, por outro lado, em disponibilizar ao leitor brasileiro alguns livros fundamentais referentes à vida e obra de Tolkien, como uma nova edição de sua correspondência, organizada por Humphrey Carpenter, ainda sem previsão de lançamento. De modo geral, a HarperCollins Brasil deixou claro seu comprometimento em produzir livros atrativos em termos visuais, editoriais e econômicos, algo que já vem sendo feito com os livros de C.S. Lewis e que os participantes do evento puderam experimentar logo de cara, ao receber em seu kit um belo exemplar de Cartas de um diabo a seu aprendiz.
Os primeiros livros já formalmente anunciados podem ser divididos em três grupos:
1) Reedições:
- Tolkien e C.S.Lewis: o dom da amizade (Colin Duriez). Programado para junho.
- J.R.R.Tolkien: uma biografia (Humphrey Carpenter). Ainda sem data, mas possivelmente para 2018.
Livros já publicados no Brasil pela Martins Fontes com tradução de Ronald Kyrmse e que se encontram basicamente fora de catálogo. Assim, dada a importante atuação que Kyrmse terá nesta nova fase, seja traduzindo ou revisando traduções, suas e alheias, é bem provável que neste caso tenhamos basicamente uma versão atualizada da primeira tradução, algo bastante importante no caso da biografia de Carpenter, que foi publicada no Brasil em 1992, antes da atual edição de O senhor dos anéis e, portanto, do estabelecimento de vários nomes e topônimos hoje profundamente incrustados na mente do leitor brasileiro.
2) Inéditos:
- A balada de Aotrou e Itroun, obra lançada originalmente em 2016, editada por Verlyn Flieger. Programado para novembro, tradutor não divulgado.
- Beren e Lúthien, obra lançada originalmente em 2017, editada por Christopher Tolkien. Programado para novembro, com tradução de Ronald Kyrmse. Contará com as ilustrações de Alan Lee presentes na edição inglesa de 2017.
3) Nova tradução:
- O silmarillion. Tradução de Reinaldo José Lopes, ainda sem previsão.
Respondendo a perguntas da plateia sobre sua visada tradutológica, Reinaldo enfatizou a importância dos arcaísmos e da sintaxe paratática, de ecos bíblicos, que procurará recriar em português, consciente de que se trata de uma obra difícil no original e que tal dificuldade deve ser, também, experimentada pelo leitor brasileiro.
A partir de perguntas do público a editora reafirmou seu interesse em estabelecer parcerias tanto com os canais virtuais dedicados a Tolkien como com grupos de estudos universitários que incorporam a obra do Professor em seu rol de interesses. Resta torcer (e contribuir, como leitores) para que os planos da editora se efetivem e que cada lançamento de um novo livro tolkeniano por aqui, inédito ou não, seja uma ocasião de debates prolíficos e instigantes sobre uma literatura viva que ainda tem muito a nos dizer.
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