Laura Moon in 01x06: A Murder of Gods
Nunca tinha gostado muito do distanciamento que o negócio da família parecia muitas vezes gerar entre ambos, seja por conta do tempo que ele ficava afastado da casa resolvendo assuntos em nome do pai ou das várias coisas que ele se via forçado a omitir a fim de poupar a mais nova do pior. E, agora que o assunto estava aos poucos se voltando para uma parte mais indesejada como por onde ele havia andado nos últimos dias em que ele estivera fora, esse distanciamento ia ficando mais evidente que nunca. Não podia conversar com ela sobre as coisas que o estavam incomodando, ou sobre como cada vez que procurava saber mais sobre o assunto em questão mais coisas suspeitas e intrigantes continuavam a surgir, ou sobre seu medo sobre onde essa investigação toda poderia acabar o levando. Primeiramente por ir diretamente contra sua política de mantê-la afastada de tudo aquilo ao máximo possível, e também a possibilidade disso a instigar a continuar com aquelas teorias conspiratórias sem sentido. Ou talvez não fossem tão sem sentido assim, mas que de qualquer forma apenas serviriam apenas para piorar as coisas; nada que ela encontrasse traria a mãe dos dois de volta. E, por último, mas não tão menos importante, ele nem deveria estar monitorando ou investigando o pai dessa forma, apenas o simples fato dele suspeitar que o pai poderia estar fazendo algo as escondidas, pelo ou menos no início, era tão absurda que ele sentia como se o estivesse traindo. Agora que ele havia começado a puxar os fios soltos essa suspeita parecia pelo ou menos razoável.Não, era melhor manter o assunto o mais afastado o possível de qualquer um desses tópicos.
Sua atenção foi mais uma vez desviada dos seus devaneios que começavam a se tornar cada vez mais frequentes, se fixando mais uma vez no rosto da irmã ao escutar mais uma pancada particularmente intensa no saco, sinal de que suas respostas estavam tanto longe de explicar a ausência sem explicação como estavam apenas servindo para deixa-la mais enfurecida ainda. No entanto,era quase impossível inventar uma desculpa minimamente convincente quando sua mente estava em outro lugar e tudo em você parecia gritar que se houvesse uma pessoa com a qual ele poderia se abrir era ela. Suspirou resignadamente forçando sua atenção a se focar nas expressões de Thea, subitamente consciente da própria postura e expressões buscando soar o mais convincente e despreocupado o possível. — Tem razão. Mas não vejo como isso poderia ter mudado alguma coisa, você saber o que eu faço. — não acreditava realmente naquilo, sabia que se fosse o contrário ele também iria querer que ela o mantivesse informado do que estava fazendo, apenas precisava que ela mordesse a isca e assim mudasse o rumo da discussão. — Em vários lugares, como sempre, sabe que nunca paro em algum lugar por muito tempo.
Apesar do esforço contínuo que fazia com o objetivo de parecer mais forte do que de fato era, Samantha ainda travava uma luta interna entre sentimentos que a faziam, ao seu ver, parecer mais vulnerável do que gostaria no momento. Ela estava com raiva do irmão por mantê-la de fora de assuntos que também diziam respeito a ela, sim; mas ao mesmo tempo, havia uma parte de si que queria apenas abaixar a guarda e se permitir expressar o quanto também estava magoada, o quanto a preocupação e o medo de perdê-lo a tomavam em uma base diária nos momentos em que ele estava longe e, principalmente, o quanto sentia sua falta. Falando de maneira simplista, a Blackthorn mais nova estava dividida entre a vontade que tinha de estapeá-lo até perder suas forças e envolvê-lo com seus braços e nunca mais deixá-lo ir. Estava acostumada com aquela ambiguidade de sentimentos, tão recorrente dentro de si, porém o costume não tornava o manejo desses sentimentos mais simples. Sobretudo agora, considerando que o irmão mais velho parecia mais distante dela do que de costume.
Apesar da distância inevitável que se estabelecera entre eles depois que Jude foi iniciado, ele sempre parecia tomar o cuidado de reduzir os danos dessa distância. Sempre que possível, procurava se comunicar com Sam, através de ligações e mensagens de texto, além de uma ou outra visita esporádica ao Instituto, antes de ser contratado como treinador de defesa pessoal. Mas agora, após aquele longo período de tempo sem qualquer notícia e aquela aparição repentina, juntamente com o que parecia ser uma deliberada ausência de detalhes acerca de seu paradeiro, fazia com que Samantha se sentisse mais distante dele do que nunca. E isso a assustava como o inferno. Afinal, por mais caóticas e inseguras que as coisas estivessem, a morena sempre sentia que podia contar com o irmão para cuidar dela. Porém um instinto de autopreservação a alertava para não abaixar a guarda e demonstrar o quanto se sentia assim.
Ao perceber aquele lampejo de hesitação nos olhos azuis, portanto, Samantha sentiu que aquela couraça de indiferença se rachava ao meio. Naquele lampejo de hesitação, ela viu a versão do irmão mais velho que tanto conhecia e amava; a que confiava nela, apesar do esforço para manter as informações o menos coloridas possíveis com o sangue que indubitavelmente manchava suas mãos. A Blackthorn permitiu-se apegar àquele lampejo de forma esperançosa, como alguém se apegava a um salva-vidas no meio do oceano. E foi por isso que a sensação de afogamento e desamparo com as palavras seguintes foi muito pior e do que ela imaginava. E não foi com muita surpresa que, apesar de sua expressão parcialmente neutra, sentiu aquela pressão desagradável e angustiante na garganta, antes dos olhos verdes marejarem com lágrimas não derramadas. Um pequeno sorriso falso delineou o canto de seus lábios, porém passou longe de chegar aos olhos. Assentiu lentamente em conformismo, antes de desviar os olhos para o chão, desgostosa com o fato de ter dado aquele claro sinal de mágoa. – Já entendi. – Disse por fim de forma audível, esforçando-se para que sua voz não soasse tão vulnerável. Esforço completamente inútil. – Você claramente decidiu suas prioridades, and who the fuck I am to make you change of mind...? – Disse em um fôlego só com um baixo riso, irônico e sem vida, os olhos focalizando-se em todas as direções, exceto no rosto do irmão. Se o fizesse, sabia que doeria mais. Não se sentia capaz de lidar com o fato de que o perdera para Alexander Blackthorn. – Eu acho que você não tem mais nada a fazer por aqui, se sinta livre pra ir embora quando quiser. – Completou, encarando-o por poucos segundos com aquele pequeno sorriso que pretendia demonstrar indiferença, mas que estava completamente quebrado pela dor em seus olhos. – Tchau, Jude. – Despediu-se, deixando a sala de treinamento com passos largos.
Continuou a acompanhar os punhos da irmã com o olhar na medida que a mesma continuava a desferir golpes cada vez mais intensos e rápidos contra o saco de pancadas a sua frente, sua expressão agora deixando transparecer bastante seu real objetivo por trás de todo aquele exercício; descontar todo aqueles sentimentos negativos que estivera guardando para si durante todo esse tempo. Sabia que grande parte de tudo aquilo, ela ficar cada vez mais reclusa a ponto de guardar todos os sentimentos somente para si estava diretamente relacionada com o que ela havia presenciado na noite que a mãe dos dois fora morta durante um assalto, ou pelo ou menos era isso que havia sido concluído na época. Agora, no entanto, que havia descoberto ter algumas coisas da qual o pai tomava todo o cuidado para que não chegassem aos ouvidos dele - uma coisa era manter coisas escondidas de Thea, que não estava diretamente envolvida com os negócios da família, ela não precisava saber, mas ele… Que tipo de coisa o pai estaria tão preocupado em manter escondido dele ? Porque não poderia saber ? - ele já não tinha tanta certeza sobre isso também, e somente tal pensamento já trazia consigo uma pontada de culpa, nunca antes havia questionado a palavra do pai. E desconfiar dele, por mais banal que fosse, talvez realmente não fosse nada de importante, talvez ele nem mesmo estivesse escondendo, poderia ser apenas uma paranoia dele, uma parte de si insistia em tentar acreditar e se apegar a isso. Um suspiro resignado escapou por entre seus lábios ao escutar a resposta de Sam a sua tentativa não tão falha assim de aproximação, pausando brevemente em sua tarefa de retirar as luvas de boxe que ainda tinha em mãos para direcionar a mais nova um olhar cético de quem dizia que não se deixaria enganar por tais palavras. — Não é o que está parecendo. — respondeu em um tom de voz mais suave, inevitavelmente adotando uma postura mais descontraída. — Apenas tive que me afastar por um tempo para resolver uns problemas que surgiram de última hora, aproveitar e dar um tempo pra você respirar um pouco. — continuou explicando apenas por cima, e assim que possível já mudando o assunto da conversa. — A essa altura pensei que você estivesse cansada de me ter rodeando o tempo todo.
Se é que era possível, a reação calma e descontraída do irmão diante de sua mentira mal contada fez com que a raiva se inflamasse com mais intensidade dentro do peito da Blackthorn mais nova. Não apenas devido à facilidade com que Jude percebera que ela estava mentindo, mas pela calma e segurança em si, típicas dele. Samantha conhecia bem o irmão para saber que seu temperamento analítico e observador era responsável por fazê-lo ponderar de forma mais equilibrada as brigas que valia a pena entrar e como entrar. Tal característica, muito importante na forma como ele lidava com os negócios da família, era perceptivelmente contrastante com a personalidade de Sam, que tendia a agir de forma muito mais impulsiva do que o irmão. Nesse sentido, os irmãos Blackthorn funcionavam como dois pesos em uma balança. Opostos, porém complementares. Necessários para manter algum nível de estabilidade. Normalmente Samantha reconhecia o quanto Jude e seu temperamento ponderado eram essenciais na tarefa de torná-la alguém mais centrada, sobretudo considerando a família onde nasceram, porém em momentos como aquele - onde a raiva era predominante -, a garota só queria que ele reagisse da mesma forma que ela. Que perdesse um pouquinho daquela compostura e gritasse com ela de volta, para que assim não se sentisse tão tola por estar zangada. Mas não era o caso naquele momento. Não. Como dito, Jude escolhe muito minuciosamente suas batalhas e a forma como lutá-las, e parecia ter decidido que aquela não era uma delas.
Um som semelhante a um arquejo contrariado quis escapar pelos lábios de Samantha diante do comentário do irmão, querendo converter-se em uma réplica sobre como ele não a conhecia propriamente para dizer que ela sentira ou não sua falta, porém o comentário ficou entalado em sua garganta. Afinal, ele a conhecia sim. Ele sabia disso. Ela sabia disso. E tinha consciência também do quanto pareceria tola se continuasse insistindo naquela mentira. Por isso, resolveu apenas descontar sua contrariedade com um soco mais agressivo no saco de pancadas, os lábios apertando-se um no outro e os olhos se estreitando de forma zangada.
A explicação do motivo de seu desaparecimento, porém, fez com que a garota finalmente cessasse seus socos. Por mais que quisesse manter sua postura, a sua curiosidade e preocupação para com o seu irmão naquele momento foi maior do que sua vontade de continuar. No entanto, tratou de afastar a preocupação, voltando a cerrar o maxilar. Afinal, se ele estava ali, então nada de muito grave poderia ter acontecido. Bem, ele pode ter levado um tiro, como da última vez, uma vozinha sussurrou em sua mente, porém a morena tratou de calá-la. Ele está aqui e ponto. Meneou negativamente com a cabeça, soltando um riso irônico e entrecortado devido à sua respiração pesada e errática. — Você sabe que a última coisa que eu quero é você indo embora desse jeito e me deixando às cegas e preocupada com você. Então pode parar com esse discurso de que fez isso por mim, porque não fez. — Samantha não era capaz de enxergar a decisão do irmão como uma forma de proteção e cuidado, mas sim de exclusão de assuntos que eram tão pertinentes a ela quanto a ele. Odiava que fosse considerada como inferior ou frágil pelos homens de sua família, coisa que vinha acontecendo com cada vez mais frequência desde a morte de Rosalie, porém o impacto de seu desgosto era maior quando se tratava se deu irmão, seu herói, considerando-a dessa forma. — Vai pelo menos me dizer onde esteve? — Questionou em um tom de voz pouco amigável, retirando suas luvas e as largando no chão aos seus pés.
“That’s what I mean when I say I want to play strong characters, I mean characters that are written well and fleshed out well. I want to play horrible people and lovely people and weak people and stupid people. I think that’s what it’s about—we just want as much range available to us as men have had forever.”
please don’t ever leave
Hum…é, talvez você tenha razão. Aliás, eu espero mesmo que você tenha razão.
Você vem comigo entregar isso ao garoto?
Huh... eu tenho que terminar esse dever de casa, na verdade. Me conta depois se era dele mesmo?
Ah, mas isso é apenas por preocupação, pequena. Sabe, eu te vejo como uma irmãzinha, então é meu dever te proteger. — o loiro fora totalmente sincero em suas palavras, e um sorriso um tanto orgulhoso se formou em seus lábios. Uma das amizades que ele mais prezava era a de Samantha, e por isso ele jamais iria machucar a garota. — Ei, ei… — ele puxou a menina para um abraço depositando um beijo suave no topo da sua cabeça — ‘Tá tudo bem, ok? Eu apenas… — soltou um longo suspiro baixando seu rosto — Eu tenho meus segredos, little princess. Segredos que gosto de guardar pra mim só.
Enrugou o nariz em uma careta com a justificativa do mais velho, embora que um sorrisinho de diversão delineasse o canto de seus lábios. — Please don’t, já tenho um irmão e um primo na minha cola. — Replicou em um tom brincalhão. Sam não gostou da forma como Bash passara de bêbado feliz para cabisbaixo em questão de segundos, porém sabia que parte da responsabilidade era dela. Por isso abraçou-o de volta, fazendo-o de maneira um tanto rígida de início por não ter previsto tal contato, porém logo sentiu os membros relaxarem consideravelmente. Assentiu diante da explicação, entendendo perfeitamente o que Sebastian queria dizer. Afinal, ela sentia exatamente a mesma coisa. — Relaxa, eu entendo. — Procurou tranquilizá-lo, os olhos voltando-se para cima a fim de focalizarem no rosto alheio. — Mas, huh... se precisar conversar com alguém sobre essas coisas... — Começou, porém de maneira hesitante. Nunca antes entrara em um nível mais sério de conversas com o loiro e não sabia muito bem como prosseguir. Sua intenção era dizer que ela estaria ali se ele precisasse conversar, porém não sabia se ele encararia isso de forma positiva. — Você sabe. — Disse por fim, dando de ombros.
Não pode deixar de exibir uma expressão um tanto frustrada ao tornar a fixar seu olhar na pequena figura que agora se debatia em suas mãos tentando pular para a mesa, estivera tão encantando com a ideia de estar cuidando do bichinho ( ele mesmo já tinha pedido aos pais várias vezes para que pudesse adotar algum outro animal de estimação, sempre recebendo não como resposta) que nem sequer levou em consideração seus colegas de quarto ou sequer o que achariam da ideia. Sua última esperança também se foi pelo ralo quando Sam lhe respondeu dizendo que também dividia quarto com Alecto Carrow, uma pessoa não muito melhor que seu irmão gêmeo quando o quesito era gênio. — Oh, dear.. — murmurou desanimado, tentando buscar alguma outra saída. Não queria admitir, mas já se sentia de certo modo apegado ao bichinho, não gostaria que ambos ficassem longe por muito tempo ou deixar ele nas mãos de qualquer um. — Não sei, ela anda um pouco distante ultimamente. Talvez se eu pedisse pra Joy ela também ficasse de olho, mas ela é um pouco doida. — continuou divagando enquanto acariciava delicadamente o passarinho. — Acho que depois eu dou um jeito. Vou procurar alguma coisa pra ele comer agora, você me ajuda ? — tornou a perguntar olhando rapidamente para a tarefa que ela estivera fazendo anteriormente.
Apesar da estranheza e da comicidade da situação, a expressão desanimada que se fez presente nas feições de John com sua resposta fez com que o coração de Samantha se apertasse ligeiramente em pesar. Porém realmente não havia nada que ela pudesse fazer. Levar o bichinho para o seu quarto era praticamente assinar seu atestado de óbito, considerando que tinha Alecto Carrow e Narcissa Black como colegas de quarto. — Tenho certeza de que você vai conseguir pensar em alguém. — Procurou tranquilizá-lo. Imediatamente, porém, outra pessoa lhe veio à mente. — Hey, já tentou falar com Adam? Ele vive fora do Instituto, aposto que não se importaria em te ajudar. — Sugeriu com um pequeno sorriso, imaginando como Nate poderia ficar animado com a perspectiva de cuidar de mais um bichinho. Não pode deixar de enrugar o nariz sutilmente com a pergunta seguinte, os olhos vagos ao imaginar o que raios um passarinho daquele tamanho poderia comer. Claro que a garota já imaginava o que poderia ser, porém gostaria de manter apenas no nível do imaginário. No entanto, assentiu em concordância, fechando o livro que até então estivera tentando ler. — Claro, por que não. — Respondeu por fim, como uma forma de compensar o fato de não ter sido muito útil em ajuda-lo até então.
Não poderia dizer que havia ficado exatamente surpreso com o que encontrou quando finalmente permitiu que seu olhar se fixasse nas íris alheias, apenas confirmando uma suspeita que estivera carregando durante todo o trajeto da casa dos dois até a instituição; era quase certo que ela ficaria chateada com um afastamento sem aviso prévio por parte dele, ainda que essa não fosse a primeira e certamente não seria a última vez que ele agiria de forma parecida, principalmente por insistir em manter ela o mais afastada o possível de qualquer coisa que envolvesse os negócios que estava envolvido. Sabia também que eventualmente toda aquela raiva que ela estava demonstrando naquele primeiro momento logo seria esvaída depois de alguns minutos descontando tudo no saco que se encontrava logo a frente dela, o assunto seria deixado para lá e tudo voltaria a ser como era antes, ou pelo ou menos era isso que esperava. — Eventualmente. — respondeu com um ligeiro dar de ombros, fazendo o máximo para ignorar o olhar quase assassino que ela continuava a lançar para o saco de pancadas a sua frente, aparentemente se recusando até mesmo a voltar seu olhar para ele. O fato era que por mais que estivesse morrendo de saudades dela, ainda mais depois de passar tantas semanas sem qualquer tipo de noticias dela, ele sentia que precisava daqueles poucos minutos a sós para se recompor um pouco, digerir um pouco melhor todos aqueles pensamentos e teorias que insistiam surgir quando menos esperava. — Sabe que eu também senti sua falta nesse meio tempo. — comentou depois de ter certeza que ela tivesse dado uma quantidade significativa de golpes ao saco, tentando aos poucos fazer ela baixar a guarda.
Conforme a intensidade e velocidade dos socos disferidos sobre o saco de pancadas aumentava, Samantha sentia como se estivesse libertando toda a mágoa e raiva que cultivara nas últimas semanas com relação a Jude, tais sentimentos parecendo exalar de seus poros juntamente com sua transpiração. Apesar de não se orgulhar disso, a morena conhecia a si própria o suficiente para saber que era de seu costume guardar certos sentimentos para si em uma tentativa de fazê-los desaparecer, porém sabia também que nunca atingia tal objetivo; como agora, ela sempre acaba, mais cedo ou mais tarde, colocando tais sentimentos para fora de uma só vez, e o azar era do desavisado que estava por perto. Geralmente, depois do momento de explosão, a Blackthorn mais nova costumava passar por esse período de arrependimento por ter descontado em alguém que usualmente não havia culpa nenhuma na história, porém agora era diferente. Ela estava explodindo com o culpado da história, ou ao menos era isso que seu cérebro - nadando em hormônios de adrenalina devido à atividade física e a raiva que sentia - lhe dizia. Ao ouvi-lo dizendo que também sentira sua falta, uma espécie de riso entre amargo e maldoso - porém com uma pontada de angústia que seria imperceptível para quem não a conhecesse direito - deixou seus lábios. — Eu não senti sua falta. — Replicou, juntamente com uma tentativa falha de abrir um pequeno sorriso zombeteiro, os olhos recusando-se a encarar de volta as íris azul-gelo que conhecia tão bem. A mentira era perfeitamente distinguível até mesmo aos seus ouvidos, fazendo-a soar como uma criança zangada por ter sido deixada sozinha por cinco minutos, porém não estava dando a mínima para sua maturidade naquele momento; O instinto de machucá-lo - da mesma forma como ele fizera a ela - era maior. — Por que voltou, afinal? — Questionou em seguida, a respiração errática e pesada devido ao exercício. — Achei que já estivesse cansado de servir de babá.
Hum…você acha que é dele? Se formos perguntar ele vai responder que sim mesmo se não forem dele, né?
Provavelmente. Bem, eu não disse quando você veio perguntar pra mim, quem sabe ainda não existe esperança no mundo.
É, realmente essa conversa de felicidade ficou estranha demais mesmo. Nossa, assim você machuca meu pobre coração. — levou sua mão até ao próprio peito se fingindo magoado — Possessivo? Mandão? Machista? Me dá um exemplo onde eu fui essas coisas aí então. Hum…depende do dia. — deu levemente de ombros esboçando um sorriso fraco evitando responder totalmente aquela pergunta — Vou deixar você pensar o que quiser de mim, sweetie.
— Todo esse papo de “você só bebe se eu te der autorização”? Pretty sexist to me. — Deu de ombros, como quem lamentava. O traço brincalhão em seus lábios perdeu a intensidade no momento em que se deu conta de que o assunto sobre a bebida era mais sério do que pensara. O ato de pedir desculpas não era algo que Sam conseguia fazer com facilidade, porém nesse caso, viu-se na obrigação de fazê-lo. Afinal, conhecia bem essa sensação desagradável de ter pessoas se metendo em assuntos que eram só dela e de mais ninguém, assuntos que tinha dificuldade - ou até mesmo não podia - compartilhar com outras pessoas. — Eu ultrapassei uma linha aqui, não ultrapassei? Sorry about that.
Agora que já havia conseguido se livrar do inseto por conta própria, ainda que tivesse optado por faze-lo de uma forma um tanto quanto radical admitia isso, ele esperava que pudesse aos poucos fazer seu corpo voltar a relaxar e desviar sua atenção para qualquer outro assunto como costumava fazer quando se deparava com alguma situação parecida. Porém agora, no entanto, parecia que quanto mais ele tentava se concentrar em outra coisa mais as imagens daquela aranha, ironicamente só tinha conseguido de fato notar que se tratava de uma aranha por estar divagando a respeito do súbito afastamento de Galahad da escola pouco tempo depois de terem tido aquela última discussão e desviar o olhar para o braços ao faze-lo. Assentiu levemente se dirigindo ao lugar mencionado fechando demoradamente os olhos encostando sua cabeça nos ombros alheios suspirando suavemente, aos poucos se sentindo melhor conforme sua atenção era desviada para a respiração alheia ritmada e uniforme. — Pode fingir que você acabou de entrar na sala ?
A palidez presente na face de Adam, assim como sua clara dificuldade em respirar, assustou imensamente Samantha, porém procurou manter uma expressão amena o máximo que fosse possível. Afinal, se o mais velho olhasse para o seu rosto e se deparasse com alguma demonstração de preocupação excessiva, poderia apenas se sentir pior. Portanto, decidiu apenas dar a ele o tempo que precisava para se recuperar, seu braço instintivamente circulando o corpo maior que o dela ao sentir a cabeça em seu ombro, sua destra repousada sobre a nuca não pertencente enquanto seus dedos deslizavam por aquele local até os cabelos macios em uma espécie de carinho que esperava que fosse confortador. Resolveu manter-se em silêncio, considerando que já deixara a situação desconfortável por ter rido, antes. Ao ouvir mais uma vez a voz do amigo, não pode deixar de abrir um pequeno sorriso, soltando um riso nasalado baixinho. — Huh. Mas não foi isso que aconteceu? — Replicou, um sorriso claro em sua voz, os olhos voltando-se de forma teatralmente confusa para a bagunça estabelecida na sala, como se pela primeira vez notasse-a. — Eu acabei de entrar aqui e você me disse que alguns alunos se excederam na aula hoje, você deve estar com a cabeça longe, Ad.