Tentava não acha-los idiotas, fazia um grande esforço para deixar nítida a minha cara de espanto. Eles gostavam do que eu odiava, falavam tantas bobagens, as perguntas não eram coerentes e, até uma criancinha de quatro anos, sem pretensão de impressionar, conseguiria ser menos fútil e abobalhada, no supermercado, enquanto pede doces a mãe do que eles quando falam dos dias, dos seus sentimentos e do que é engraçado. A minha cabeça quer explodir só para eu ir a outro lugar, o limbo parece ser mais atraente. Eu sou um ridículo ao admitir que existem pessoas que me fazem querer cometer suicídio? Estou sendo estupidamente sincero. Mas, em contra partida, eu encontro anjos de luz em meu caminho, pessoas fácies de tirar proveito. Estas eu defenderia com os punhos serrados, me armaria até os dentes para guardar tamanha pureza e ingenuidade, perdidas nos tenebrosos dias temos a lembrar. Estes humanos, os de olhos nobres e cheios de amor, estão espalhados na cidade, e se não tomarmos ciência da situação e nos deixarmos levar pelo trânsito caótico, pelo que o Partido dos Trabalhadores fizeram com o País, pelo professor que pega no pé, pela namorada que só vive de tensão pré-menstrual, encontremo-os e seremos rudes. É assim no banco, os bancários fazem o possível para solucionar o meu problema e devo reconhecer que o cotidiano tira a qualidade em ser prestativo a alguém. Eles são pagos para aquilo, mas o sorriso no rosto não é regra, principalmente, quando trata-se de funcionário público. E, eu paro, reflito: “Como é que pode? Sou velho demais ou ando cercado por adolescentes?” Saio da mesa do bar, do fundo da sala, pago o preço que for para não ouvir mais fofoca, atualização de rede social, etc. Estou com sérios problemas de intolerância, a minha dieta de amizades começou. Falo muita tolice, mas a minha tolice com as dessas criaturas são incompatíveis. Sorrio, desligo o telefone, tenho compreender, mas termino me irritando. Tanta coisa importante para ser citado e eu não quero saber quem falou mal de quem, quem bebeu até cair ou ver fotos de acidentes fatais no aplicativo. Tudo bem, pode falar que eu sou otário. Preciso me socializar com pessoas de outro tempo, pois entre conversas de conhecidos da mesma faixa etária que eu e as dos meus avós, eu escolho a dos meus avós. A velhice é tão sábia, quero aprender como é a vida para que finalmente acerte do que rodear erros e importância jovem que não me levará a lugar algum. Olho para a minha certidão de nascimento, alguém datilografou errado - cara de jovem e alma de velho. Esto rabugento com os mais novos, inclusive comigo; tenho implicado com a responsabilidade.
Sam Nascimento, La vida passe.