Será que você se lembra

Que eu existi

Que eu escrevi poemas

Que te fizeram sorrir

Que eu era alguém

Quando você passava por mim

Que eu era alguém

Que servia pra te ver existir

Se não se lembra tudo bem

Ainda estou aqui

Um pouquinho para trás

Desde que te vi partir

Na verdade eu que fugi

Porque não aguentava mais te ver

Sem poder te ter

Te tocar sem poder

Entrar em você

E ser parte de você

Como até hoje você faz parte de mim

Mesmo sem saber

Ainda choro ainda choro ainda choro ainda choro

Mas não posso mais chorar por você

Acho que a gente ainda vai se ver

Mas se isso acontecer

É porque por aqui não deu certo como eu tentei fazer

Mas enfim, acho que a gente ainda vai se ver

E até lá você nem sabe que ainda choro

De vez em quando de madrugada

Pensando se você ainda pensa em mim

Não espero que também chore por mim

Mas será que essa memória ainda existe

Será que eu ainda existo

Mesmo sem ter você pra me fazer existir

Ainda penso, enfim, que a gente ainda vai se ver

Mas não consigo dormir pensando em você

Será que também pensa em mim

Será que já chorou por mim

Será que essas madrugadas sempre serão assim

Mesmo depois de anos

Ainda me sinto assim

E ainda choro ainda choro ainda choro ainda choro

(e ainda choro ainda choro ainda choro ainda choro)

O tempo inocentou aquele que pecou sobre a ponte de cristal. Se não o escutavam, o vento respondia. Seu olhar consentia com sua mão trêmula e fria. "É pecado", dizia ao sopro gélido que rebatia. Crer não o ajudaria, rogaria a quem não lhe responderia e nada lhe resolveria. Decidiu que escorregaria em sua cama de plumas brancas e macias. "Sob a travessia que nunca cruzei, me embrulho com o ar assim como nada nunca me envolvera, em minha inconsequente sorte o seguinte toque me acolherá como nunca senti-me nem em meu lar". Em meio a chuva a ponte amargava em lamúria, enquanto o córrego se embebedava com culpa. O vento ao final não o convencera, a ponte tomou para si sua profecia e sucumbira. Mãos o seguravam em frenesi, braços o abraçavam suados, bocas e mais bocas falavam —gritavam. "Me inquieto a saber se vivi, mas sorrio em sentir que não perdi".

saudades

não deveria

não sei se estou pronto

nem se quero voltar

tropecei

deveria tentar

ou fosse colapsar

desenterrar...

e eu que cá vivo

viveria também lá (será?)

nem sei se cá quero continuar

respirando esse ar

nem sei se já seria escolha

expulso, ainda aqui

sei que antes fugi...

nem cá ou lá

fosse eu maior

iria a outro lugar

diminuo

porém

não sei

parar

Tranquei Meu Coração

tranquei meu coração

como tranco a porta de casa

passo a chave em cima e embaixo

e descanso no sofá da sala

se ouço alguém bater

finjo que não estou

pois o bater do meu coração

já me causa dor

pois o bater do meu coração

já me causa imensa dor

não sou obrigado a aguentar

quando meu peito pesado

só quer sossegar

acendo o fogo e boto para cozinhar

um pouco de sopa para jantar

e depois de comer eu vou deitar

esperando que meu coração

não deixe ninguém entrar

esperando que meu coração

não deixe você entrar

eu só quero sossegar

só quero sossegar

foi por isso que tranquei meu coração

porque não quero ter que te encontrar

a mentira só dura

o tempo que se esconde

mesmo com a porta trancada

você sabe o meu telefone

mesmo com a porta trancada

meu coração atende e escuta o meu nome

mesmo com a porta trancada, é cilada

você tem a chave de todas as entradas

Por: O MOMENTARIUM

faz tempo que não te escrevo

você já se foi mas ainda ficou aqui

em volta não te vejo e quando me esqueço

minha mente busca por ti

sua lembrança está borrada

com seu rosto e voz rabiscados

escondida como sob muita tinta derramada...

já não me lembro nem do tato

quanto mais escrevo

mais tinta se espalha na mesma página

todas essas palavras jogadas

se misturam até tudo significar nada

aguardo o momento de depois de tanta tinta

essa memória deixar de ser minha

abrir mão das lembranças que eu tinha

e manter esse novo livro com inúmeras linhas

me fiz um alvo fácil

pintei meu rosto de dourado

fui num beco de assalto

e me deixei levar

perdi a cabeça

fiquei com meu corpo no chão

alguém segurou minha mão

mas foi só pra pegar meu anel

um anel de ouro

que troquei com quem me dizia

que nunca teve uma boa mira

mas que me acertou

até que acabou

o que lhe fazia alegria

em algum lugar

pra onde me levaram

sonhei acordado

sem saber que eu ainda era alguém

mesmo sem nada

mesmo sem ninguém

virei a página

agora tem outro livro

outro esconderijo

naquele corpo eu já não existo

cabeça para quê, se nunca usei

até hoje só tem uma coisa que eu sei

e o que eu sei eu aprendi

quando me perdi

quando me deixei ir

de corpo não preciso

para ter um sorriso

de cabeça não preciso

para ter um juízo

meu único amigo

é o prejuízo

que me causei

vivendo isso

que é ter sido seu

e por isso

eu desisto

de ser eu.

verdes da belíssima árvore

cinzas esfareladas

em chão imundo

abaixo dos pés, inúmeros pés, infinitos pés

a cada passo, pedaços

cada vez menores

indo com o vento abafado

ao córrego sujo

cada parte em um canto

nunca o mesmo...

adeus

para si...

Perto Demais do Sol

o diabo na cadeia me espera com saudade

eis o fim da sentença, olá cara metade

eu disse adeus sem pensar e sem te ver

ao falar e te dizer o que quero e não posso ter com você

no ato da soltura, tomou o rumo da lua

com asas de papel, encontrou seu lugar no céu

a escuridão trouxe minha sombra, que toda noite me assombra

além de medo, sem respeito, o espelho também me zomba

não falo por dizer, sinto falta dessa parte

juntando em mim penas com cola, voo até você, essa é minha arte.

(O MOMENTARIUM)

Anjo do Inferno

aquela menina veio falar comigo me disse ela que eu era bonito perguntou se eu era bandido porque eu roubei seu coração

ela disse que meu sorriso é tentação meu corpo aeroporto e o dela avião que éramos uma chance em um bilhão logo eu percebi o que ela queria e eu disse

esse teu ritmo me acertou eu sei porque você me escolheu para dar seu amor nessa festa nessa noite sem saber quem sou anjo do inferno serei teu redentor

toda vez que me perco caio na mesma situação o diabo amassa e pergunta se quero o pão eu padeiro padeço em suas mãos já era tarde e a luz sempre é contramão.

( O MOMENTARIUM )

Raízes Profundas

Como esquecer quem salvou A mim das garras de mim mesmo A errante que jamais errou Foi fazer tudo sem medo

Sem saber foi poetisa Odiando poesia Ela foi a minha árvore Não sabendo de botânica

Pasmada, optou ficar Amava o meu coração Entrei nela como o ar Invade veloz o pulmão

Mesmo que nada rimasse Ela ia entender Se ela não fosse minha Ela iria vir a ser.

(O MOMENTARIUM)

Eu Não Me Contento

eu não me contento eu não me contento, não se posso ser melhor fazer mais do que faço viver fora do trabalho eu quero ter mais espaço eu não me contento eu não me contento, não se posso evitar desgraça melhor ainda se for de graça planejar uma saída para cada estrada caso eu necessite de algo ou mesmo de nada eu não me contento eu não me contento, não eu me reinvento tudo é diferente a cada momento não quero ser quem já fui se posso ser melhor eu não me contento eu não me contento, não se for pra me conformar num lugar com uma situação que não posso mudar com uma infelicidade que me desgaste eu me reinvento se posso evitar desgraça se posso ser melhor não quero nada menos que o melhor, não não quero nada menos que o melhor não quero nada menos que o melhor, não não quero nada menos que o melhor.

(O MOMENTARIUM)

Psycho

i wanna kiss your brain with a dynamite so i can look and see what’s in your mind

i’m not a psycho and i’ve never been but honey i’d love to rip off all your skin

i wanna take you into the danger town so c’mon pretty baby let me kill you right nohahahahaw

if you give me your heart i’ll hang it on my wall and if you give me your entire body oh i’ll turn you into a human doll

i wanna turn you inside out and make love to you on the burning coal while you scream out loud

let’s get on the tracks the train is never late this time i garantee you’re not gonna be saved.

Igniscorium (O MOMENTARIUM)

Lâmina Ornamentada

arranjei uma lâmina ornamentada de uma baixela

lentamente a usei para afagar as gargantas das minhas donzelas

nunca minhas, sempre tiveram sequelas

toda consequência foi por minha conta

por medo nunca as matei

por medo nunca as libertei

tudo assim se agravava

todavia mais donzelas eu colecionava

minha prateleira mesmo lotada as acomodava

eu era rico mas não as podia dar nada

nada que pudesse não ser comprado

parecia que eu era amaldiçoado

a cada momento mais minha lâmina se enferrujava

todas já viam que ela não mais as ameaçava

até que ela enfim se partiu

toda a chusma de donzelas sumiu

só eu não podia fugir

talvez por medo

com certeza talvez.

(O MOMENTARIUM)

Seis e Sessenta e Seis

seis e sessenta e seis levantei com vontade de maldade sem mais querer raciocinar a crueldade continuei vestindo meu pijama de luto meus pensamentos eram todos impuros realmente eu não devia ter ido dormir puto estava ainda no céu meio avermelhada a lua sem sinal do sol eu sai na rua ela estava de branco, mas eu a vi nua...

sangue escorria minha faca estava limpa ela era linda inventou casar de branco sujou todo o vestido antes de casar seus próprios olhos sabiam lhe julgar apunhalei com maldade pararam todos para prestar atenção com os olhares assentiram minha ação

quando nela entrei fixamente todos me olharam me tornei deus e todos me invejavam formaram uma fila oposta a minha direção estavam em pânico porque tranquei todo o salão e vinham até mim pedir perdão eu carregava um poder transformador que equivale ao de um criador fazendo todos me respeitarem através da dor

sete e sete meu despertador tocou eu estava nu ao lado do meu amor também nua ela me tocava no meu ouvido sussurrava sobre o sol que já raiou sem roupas me fazia um pedido já falava até sobre um vestido e que chamaria todos os amigos olhei para o lado talheres sobre pratos lembrei que ontem jantamos no quarto ela falava e eu encarava a faca talvez eu ainda não tivesse acordado meus pensamentos não voltaram a soar errados...

(O MOMENTARIUM)

Me Diga o Que Está te Fazendo Sofrer

Por que você insiste em me magoar? Não era para a gente tentar se ajudar? Quem ama sente vontade de cuidar Faço tudo o que você me pede e quando não pede faço tudo para tentar lhe decifrar Se não consigo cumprir com o que lhe prometi você sabe que não foi por querer sempre fiz tudo o que pude por você Em dias felizes e em dias tristes eu a fiz sorrir e você soube retribuir mas agora o nosso amor chora Vou lhe pedir uma coisa e só uma coisa por favor me ouça você sabe que eu quero você Para todo o sempre serei carente pelos seus abraços quentes e pelo seu jeito de ser Então meu amor por favor me ouça me diga o que está te fazendo sofrer que eu irei tentar resolver.

(O MOMENTARIUM)