Eu sou esse demôniozinho que vive dentro de mim. O demônizinho que se recua a sair quando eu quero, mas quando eu permito, é livre, leve, solto.
Eu sou esse demôniozinho que espreita atrás do espelho, que é essa mancha no canto do olho, que é a vontade segredada.
Eu sou o demôniozinho que nunca é liberto, mas que é o único livre. Que paira leve no ar, que consegue respirar, que sabe o que é amar.
Eu sou o demôniozinho que não deveria existir, mas que está ali, lá, e em todo lugar. Eu sou aquele que você não deseja, mas que ama sem mensurar. A ideia que repudia, mas que vê todo brilho.
Eu, o não demôniozinho, sou a coisa sem vida e sem alma que está sempre a vagar, procurando qualquer lugar. Eu, o não demôniozinho, sou a coisa que só leva, enquanto ele, vive.
Eu, o não demôniozinho, peço sempre desculpas por mantê-lo tanto tempo trancado, e sempre me pergunto o por que de deixá-lo de lado. Peço desculpas ao espelho, peço desculpas ao conseguir dormir, peço desculpas ao conseguir acordar.
Eu, o demôniozinho, que é sei viver. Eu, Baco, que trago a festa, a alegria e o saber.
Mas eu, demôniozinho, que seria sem esse ser que também sou, calmo, quieto e louco. O que seria eu, se não pudesse, ao menos, ser dois, ao invés de um. O queria eu, se pudesse ser um, ao invés de dois?