Queria Marte

@queriamarte / queriamarte.tumblr.com

Queria amar-te.
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Uma casa - e uma família - em ruínas

Querido diário, o dinheiro não é o suficiente para comprar uma casa. O dinheiro não traz cortinas, nem portas, nem gavetas, maçanetas ou janelas. Não traz recipientes que guardem felicidade. Não traz banheiros que garantam privacidade e, por fim, não traz quartos que protejam os corpos de suas deteriorações imateriais.

O dinheiro daqui, foi conquistado por trabalhos que afastaram essa família. O dinheiro foi conquistado para financiar a ganância de ter uma casa branca. O dinheiro, usado para legitimar a distância, a frieza, a fragilidade e superficialidade das relações familiares, foi o que construiu e ergueu esse prédio.

Mas o dinheiro some, murcha, morre. O dinheiro não constrói tudo. Ele constrói casas enormes, mas não constrói o cuidado, o amor, a paz, a alegria e a sobriedade de uma vida bem vivida. E o dinheiro durou por anos… até o dia que virou um espelho – refletiu o lado feio do lugar que, hoje, cai.

Após a metamorfose, as espirais das escadas ameaçaram cair. Os cupins começaram a roer os pilares. As aves arriscaram suas vidas para roer os fios de eletricidade. Colônias de bactérias preencheram os banheiros – os vasos, as pias, os chuveiros. A umidade tomou as paredes, formando arranhões e bolores. As aranhas preencheram os tetos com suas teias. O barro e a poeira se apossaram nos pisos, livros e cadeiras. E, à medida que a natureza invadia, o tempo nos afastava e dizia: “Apenas o amor constrói casas que duram”.

O tempo ajudou aqueles que, com companheirismo, ocuparam a casa. As cadeiras enferrujaram, as portas amoleceram e caíram, as tomadas foram deixando de distribuir energia, as madeiras ficaram ocas, as cortinas se rasgaram, os vasos quebraram, as gavetas emperraram, as maçanetas caíram, as janelas quebraram! E os habitantes morriam.

Um deles, percebeu: nem o tempo, nem o dinheiro e nem a natureza são os vilões. Eles apenas cumprem seus papéis. Um deles, percebeu: nem o álcool, que limpa os móveis, é capaz de limpar as feridas nos corações daqueles que viram a casa e o dinheiro ruírem. Curativos não tampam a panela de pressão do tempo. Quadros e tintas não escondem ruínas. Janelas e cortinas não isolam os monstros do lado de fora, uma vez que as bases de suas residências foram a ganância, a frieza, o desleixo e o esquecimento.

A casa, no entanto, não ruiu. Ela riu, porque o dinheiro virou um espelho. A casa, honesta, destrói as barreiras – portas, janelas – que escondem a frieza interna. A casa riu, afinal, ela refletiu as lutas e gritos e guerras. E, agora, o silêncio impera. Ninguém quer falar sobre o que a casa, com louvor, governa.

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Amei a url/título/descrição. Amei tudinho!!!

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ahhhh que bom que gostou, fico feliz. muito obrigada!

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te amar era como ser criança,

chegar em casa depois de brincar

no pula-pula tantas vezes,

deitar na cama

e ainda sentir como se estivesse

espiritualmente a pular.

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o que é pra ser e não é

meus amores foram loucos

meus amores foram poucos.

e meus desamores foram fundos poços.

“jogue uma moeda e faça seu pedido!”

sei que se deve concentrar em algo

algum lugar, algum alguém

alguma ideia ou protótipo do que querer.

mas não faço ideia,

nunca sei.

tudo que faço é jogar uma moeda

sem nada em mente

e tanto nos olhos

e tanto na angústia

de querer, por favor, algo.

o que recebo é igualmente escuro

igualmente confuso.

é um nada

disfarçado de tudo.

o que preciso saber, não sei.

talvez eu passe longe do amor

por anos,

talvez eu nunca o veja de novo.

e como posso saber o que virá?

como posso saber quem será?

e como eu poderia saber quem é

a pessoa exata para mim

se nem eu sei me ser?

se nem eu sei agir como sinto

e com concordância à meu instinto

de explorar e vasculhar gavetas

e arquivos

do que fui e do que o amor foi

e de não saber escrever

o horário de agora, o dia de hoje

mas querer prever

o que será do próximo dia

e do próximo “oi!”

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ciência inexata

eu tomo banhos no escuro

e sussurro entre as paredes

escrevo com as águas

e não me descubro.

tento caminhar por essas fases

como num jogo

e empaco, me perco,

estaco por um momento.

me desligo da tomada

(de todas elas)

e não me resta nem luz, nem energia:

nada.

e de mim não desvendo nada

sou o que sinto

ou sou o que faço?

sou o delírio

ou um plano cartográfico?

sou o que me dizem

ou o que eles não sabem?

sou a sombra de uma multidão

ou o líder de um alguém?

tomo banhos no escuro

porque não consigo não ver o interno

ele me enche de pretume por dentro

e emana luz como o inverno.

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tente-se

tu, por exemplo: que queres?

o café nas mãos amargurou-se esfriou-se em tuas cálidas mãos; tu, sempre tão dócil, cansou de ser doce, esfriou-se.

dos tempos congelados, sabes que é um destes lagos: basta algo mais pesado e se parte.

basta algo mais quente, derrete-se.

o que queres tu sentir? não tentes ver o que está por vir.

você é lago interligado, seu peito inexplorado e tocante. diz-te para avançar, diz-te: avante!

que esperas tu? e por que, tanto temes? nada está a perder, porque já achou-te nestas tuas linhas de "t's".

testa para ver, se viver é algo químico: sabes que as reações se findam e se unem; feito nossas mãos entre as águas turvas das suas próprias curvas.

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sobretudo

"nunca estive tão perto", penso ao ver o sol refletido pelo espelho, entrar pelo meu esqueleto...

raiar o dia, os pedregulhos na estrada, paralelepípedos, por onde a fadiga passa.

passa, passa. repetição é dizer que está frio e o sol é quente? talvez por isso que eu prefiro a lua, esfria a pele e aquece a alma.

vez ou outra sinto lágrimas; quanta comoção posso suportar? vejo o dia passar, e perco a noção das semanas, dos meses, da vida que é minha.

passa tudo; a borracha sobre as histórias, das quais guardo apenas um fio dourado, do que ensinara quando me foi mostrado.

passa todos; os erros, embebidos em pesadelos, contidos sobre à luz e revelados à sós com noites de medo.

vida é muito bonita; bonita e antiga. como vigas de mármore e com cidades esquecidas.

nunca estive tão perto, penso sem conclusões, de saber que amar sentir é a solução das soluções.

soluço em risos torno a ser livre, dançando com o casaco, fingindo ser vestido (em plena rua de paralelepípedo).

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noite de amar

brisa que invade, suave, a janela, entra pelo quarto, e a cortina diz sempre: "seja bem vinda"

de perto, olho e balbucio. e você nunca me conhece, nem como sou cortina, e você como a brisa que nunca envelhece.

e que nada pode ser contida. misturo-te em fragrâncias e toques, reprimo-te à beijos e junto à meus desesperos de todas as caladas de todas as noites passadas.

e o que olho agora é o presente, não venta mais, nem que seja para acalmar a mente; eu que acho que você jamais voltará e você que sempre me surpreende.

quem és tu que faz balbuciar? que me faz tremer e, ao mesmo tempo, ser segura mas temer até o vento?

você nunca sabe quem sou eu, não? ah, eu mudo sempre, incessantemente; mas há algo que não muda nunca: a paixão dormente.

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cadeado é silêncio

chaves entre meus dedos,

cada movimento, um tiroteio.

não são como os anéis feitos; reclamam por serem de bronze, dizem que mereciam ser medalhas e não serem jogados em porta-malas.

cintilam sob a luz do sol mas preferem o escuro.

enclausurado o interior do teu amor, os sapatos ecoam e as chaves relincham o coração bate forte, sujo pelo temor.

chaves caem dos chaveiros; não sabe qual é a certa para teu sorrir, que há tanto demonstra medo.

mal respira o ser acorrentado diz que é o prata enferrujado que prefere mesmo que saiba que amor não o fere.

se é apenas a falta dele que o faz, por que teme tanto a libertação?

porque, oras, está acostumado com a escuridão.

alarmou todos os instintos aquele baque na escada. porém ninguém veio. e os passos, em atropelos, sumiram pelo tempo em apelo.

o homem, que não sabe, que a chave está em seus dedos. apenas o que o liberará do clausulo é ser livre de seus próprios erros.

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o prata do remendo

tudo está frio, e eu estou quente. tudo que aconteceu, me deixou assim, eloquente. a angústia que tomou conta, revirou meu estômago em luta, disse por um segundo ou menos, que é sem sentido sentir o que sinto. "shhh..." eu digo. falo a língua dos "e se", sabendo que nada acontece, e peço silêncio, ao pânico que se segue. paro, olho aos lados, esperando ver paredes vazias, mas vejo universos inteiros; então penso que sempre há tão mais, e eu aqui esperando o de menos. as cortinas estão rasgadas e remendadas, e mesmo assim quero ver a neblina que traz a noite fria. e abro a janela, um carro passa e desacelera percebo que era o da angústia que há pouco me tomara, e agora devagar me observa, engolido pela penúria, mas evidente como a rua escura. são dois faróis contra dois olhos; eu cravo os meus em desalento, não provoco e nem me entrego, e ele passa como quem desliza pelo gelo; eu fecho a janela. as ruínas desmoronam, e quanto à ruela, nada mais vejo. o que eu achava vir depois do medo, não é nada mais do que nuvens inteiras. o seco e o frio que não me invade. não me deito; mas também não estou em atento; apenas tiro proveito; como se existir fosse viver e coexisto por um momento. como os retalhos de todo meu quarto, e da carne rasgada por dentro do peito, que pouco a pouco se unem, fazendo-se, em partes, um inteiro.

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senhor estelar

os anéis de saturno, entrelaçam os meus dedos. brinco como que sem medo, vendo o que o universo guarda e esconde, mas a humanidade o rasga para se ter o conhecimento. e existe tanto; sabemos que estrelas podem continuar brilhando, mesmo há muito tempo estarem mortas, e admiramos o que não sabemos se tem vida ou não. no entanto, existem números espantosos que indicam quantos corpos foram mortos, e nada nos assustamos. e comparamos os anéis de saturno às ligações entre humanos, que rodopiam entre os dedos de um anjo, e habitam o interior ou a eletrosfera dos átomos que nos encantam. e que aproximam um corpo à outro, sem jamais se tocarem. há tanto conflito quando uma alma não combina à outra e uma liberdade não se encaixa na prisão, e uma alma ama, e a outra não, e tudo gera dor e ódio. e esquecemos que viemos das estrelas e que como elas nunca sabemos se há vida em alguém ou não, porque a alma pode estar morta antes do corpo, conhecida por alguns como depressão. mas elas ainda brilham e admiramos em vão, até que se tornam tão fracas, e só existem sem vida, apenas para brilharem e dizerem "está tudo bem aqui em baixo como está aí em cima"

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braile

dedos suspensos ao ar, tocando teclas de pianos, que as células das mãos nunca antes estiveram a tocar. cada nota, um risco um ponto, um rabisco. fazem-se as reticências onde hoje, me abrigo. nunca tendo tocado o piano, me arrisco em dizer, que em mente leio-o e amo o que nunca toquei, como você, em peito.

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sorte e azar

existem dias em que sai apenas uma lágrima. defeituosa, a deitar na alma gelada. nesses dias, tudo está escuro. uma música que ninguém conhece, eu escuto. e sou apenas um corpo, em meio à massa de outros corpos, sem olhos, mas mil fotos. vagam à luz do dia, como meio vivos, meio mortos, abraçam todos os remorsos, na tentativa de espalhar seu próprio ódio. nesses dias, tento fechar os olhos; vejo a mata selvagem, o sol por trás da árvore, no horizonte, pondo-se a sair, vejo os olhos de todos que amei, e que nunca me permiti, e aí a lágrima confessa seu pecado, de não sair no momento adequado, mas invisível que sou, o olho estrábico passa a cair em descaso. lembro dos olhos daqueles que me amaram, mas tento pensar que o coração não se alimenta de passado. lembro dos beijos em vão, dos olhares alumiados pela televisão, enganados por uma inteira geração, de pessoas que vagam, sem espaço, no avião. e em como tudo está acarretado, e entendo o porquê de prender-me ao passado. não é passado, então eu percebo. é resgatar nele, tudo o que não vejo, mas já vi: o amor entre a humanidade. tão raro, que resgato na iluminação de uma estrada engarrafada, quando bate as sete horas. e à sete chaves, guardo minhas memórias, e sigo as viagens que a estrada traz e todo mundo faz

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estou cansada de olhar, tirei os óculos. estou cansada de amar, tirei o amor dos olhos. nada é mar; estou cansada de nadar, mas andar também é tão difícil. hoje quero só me deitar e saber que tudo isso vai passar saber que sou invisível
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porque eu amo, tão fielmente, não sei. tenho amor pela gente que nem eu mesmo conheço bem. é que se você mostra amar-me um pouquinho, então amo-te também. mas amo tanto, tanto, que saio com o peito em pranto, como quando tornam a tratar-me com desdém. mas sou apaixonada pelas serenas pessoas que são madrugada, pra quem dorme cedo. estas, tão belas, fogem pelas ruelas, se têm como libertas; nessa prisão intitulada como sendo minha insana paixão.
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