De acordo com a sua página no Facebook, a Who é uma agência de talentos criativos que trabalha em «Art Management, Cultural Marketing, Consultoria Artística, Curadoria e Ativação de Marca». Afirmam ter feito «intermediação de 30 mil artistas» nos seus 15 anos de existência. O que não referem online é que devem centenas de milhares de euros (divididos entre muitos ilustradores e o Estado) ou que abriram insolvência e voltaram ao mercado com um nome diferente (mas a mesma assinatura). A omissão, porém, não é suficiente para ocultar uma realidade há muito comentada.
No site dos extintos FERVE e no blogue Fusível Ativo encontram-se queixas ligadas à Who referentes a 2011 (os primeiros tiveram direito a resposta da empresa). Nas caixas de comentários lêem-se relatos que coincidem com a dezena de denúncias que agora recebemos, algumas das quais remontam já a 2007. E há um grupo no Facebook que junta 50 credores da agência.
Ao longo dos anos, os responsáveis da Who têm recrutado muitos ilustradores como prestadores de serviços. Apresentam-lhes «contratos mirabolantes, de 15 ou 20 páginas, só com cláusulas a defender os direitos da empresa», segundo relata uma ex-colaboradora. Todos aceitam só receber 90 dias depois de fazerem os trabalhos, um procedimento que os indigna mas ao qual estão habituados, enquanto jovens a “recibos verdes”.
Alguns destes trabalhadores receberam no fim do primeiro trimestre, mas apenas depois de muitos telefonemas, e-mails e ameaças. Outros nunca viram o dinheiro nem obtiveram respostas durante meses. Se uns só perderam 300 euros, há quem reclame 3 mil ou até 30 mil. As dívidas acumuladas pela Who superam os 200 mil euros.
Houve quem avançasse judicialmente contra a empresa e conseguisse receber o que era seu, e há processos ainda a decorrer em tribunal. Mas algumas queixas foram retiradas depois da insolvência da empresa, em Dezembro de 2013. As dívidas à Segurança Social são superiores a 80 mil euros e, como neste caso o Estado é credor prioritário, os advogados aconselharam alguns ilustradores a desistir das acusações, pois não iriam reaver os honorários e continuariam a ter despesas judiciais.
Em Janeiro de 2014, um mês após a falência, a sócia-gerente da Who abriu uma nova empresa, com nome, morada e número de identificação fiscal diferentes. Mas a marca usada, a área de negócio e as pessoas envolvidas são as mesmas. Aos artistas que continuaram a reclamar o seu dinheiro, a Who ou não respondeu ou passou a dizer que estava numa «reestruturação profunda» e a «migrar os serviços».
As manobras de distracção para adiar os pagamentos são uma constante nos testemunhos que recebemos, tal como a referência a tácticas intimidatórias. São exemplos os insultos, a difamação entre pares e clientes, as ameaças de queixas à Polícia Judiciária ou de pedidos de indeminização de 150 mil euros. Há até quem fale em telefonemas a meio da noite com ofensas. Nas negociações das dívidas, a empresa pressionou vários ilustradores a assinar um acordo que impedia qualquer comentário na internet sobre o caso, cujo incumprimento levaria a multas de 200 mil euros.
Segundo os relatos que recebemos, a Who acrescenta margens altas em cima dos valores orçamentados pelos ilustradores (em alguns casos, aumentos de 100%). De acordo com a sua página no Facebook, trabalha com grandes marcas (Continente, PT, Redbull, Sumol+Compal, Samsung, etc.) e as «principais agências de publicidade nacionais» (Mccann, Brandia, Havas, BBDO, etc.). Mantém também «parcerias com as principais publicações nacionais» (Diário de Notícias, Expresso, Visão, Jornal de Notícias, Exame, Elle, Diário Económico, Blitz, etc.) e editoras (Porto Editora, Areal, Leya, Santillana, etc.).
Sabemos que algumas destas empresas já foram avisadas do procedimento vergonhoso da agência e acreditamos que muitas outras também o conheçam. Se ainda assim continuam a recorrer aos serviços da Who, só podem ser vistas como cúmplices desta exploração.
→ Lista de trabalhadores a quem a Who deve honorários: Alexandra, Ana, Dário, Frederico, Gonçalo, João, Luís, Marta, Nuno, Nuno, Nuno, Paula, Ricardo, Rui, Sérgio, Sofia, Tânia, Tiago, Uriel, etc. (falámos com outros que, por diferentes motivos, recusaram ser identificados).